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Médicos Veterinários

Abate de animais de estimação gera preocupações sobre suicídio na profissão

Vet eutanásia

Estudantes da Universidade de Glasgow manifestaram preocupação com a taxa de suicídio entre os jovens veterinários, um dos grupos de maior risco de suicídio. Entre os fatores estão a carga emocional de ter de eutanasiar animais (por vezes saudáveis), lidar com donos desorientados, acesso a medicamentos eutanásicos, bem como o número de horas de trabalho.

Segundo os estudantes, os jovens veterinários perdem o apoio dos seus pares quando se formam e assumem papéis mais exigentes nas práticas clínicas, pelo que a ausência de apoio também poderá ser um dos fatores relevantes. Em 2010, data em que foi registada pela última vez, a taxa de suicídio dos veterinários era quatro vezes superior à média nacional escocesa.

 

Alguns círculos veterinários fazem referência ao dia da “cruz azul”, o dia em que os veterinários são enviados para centros de resgate para eutanasiar os animais.

“Há sempre um caso que parte o coração. Conheces os donos, conheces o animal, mas só tens de deixá-lo ir”, disse Antonia Ioannou, finalista da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Glasgow, citada pela publicação The Herald.

 

“Estive com um paciente durante sete dias, um cão com cancro. O casal não tinha filhos, por isso o cão era o bebé deles. O casal tinha muito dinheiro e estavam dispostos a fazer qualquer coisa para salvar o cão. Mas, no fim do dia, não se pode pagar pela vida. O mais difícil era ter de o largar. Eles estavam a chorar e a mulher estava a abraçar-me.”

“Eu tinha outra mulher que tinha uma depressão muito má, era suicida e tínhamos de abater o cão. Ter de perder aquela coisa que a mantinha em movimento. Em cinco minutos, é o próximo paciente”, recorda.

 

Kirsty McColm é outra aluna finalista e explica que “Não há nenhuma saída. Podes ter de colocar um animal saudável para dormir e, dez minutos depois, tens o próximo paciente, que pode ser um cenário completamente diferente – tens de estar animado para um dono com um novo cachorro.”

“Tive de pôr um cão relativamente saudável a dormir. O dono estava a debater-se com uma condição que estava a fazer com que o cão ficasse acordado a noite toda, a sujar o chão. Não era completamente saudável, mas dado o cenário diferente, podia ter sido gerido, mas o dono não conseguia lidar com isso. Então isso foi bastante difícil. Tive de raciocinar com ele e pensar no assunto da perspetiva do dono e que o bem-estar do cão poderia não ser assim tão bom”, disse Kristy.

 

As estudantes referem que esta profissão tende a atrair personalidades extrovertidas e ambiciosas, conhecidas por serem mais suscetíveis ao stresse, que acabam por se sentir culpadas no caso de não conseguirem ajudar o animal.

Antonia e Kirsty acreditam que os recém-formados estão em maior risco e contaram que um jovem veterinário que morreu no ano passado “só tinha saído há cerca de um ano e meio” e era “bem conhecido e apreciado”.

Os alunos finalistas estão envolvidos na promoção da consciencialização da saúde mental na escola de veterinária, que ficou em segundo lugar no Guardian University Guide 2020, como copresidentes da Associação Médica Veterinária da Universidade de Glasgow (GUVMA).

*Na edição de fevereiro de 2020 da VETERINÁRIA ATUAL, não perca a nossa entrevista com Ricardo Reis dos Santos e Miguel Barbosa sobre o luto na medicina veterinária.

 

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