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Animais de Companhia

Salvar vidas e acelerar as doações de sangue de animais de companhia em toda a Europa

A UNAVETS e o Banco de Sangue Animal anunciaram recentemente a sua parceria. Em conversa com a VETERINÁRIA ATUAL, Guilherme Assis, chief financial officer & country manager Portugal da UNAVETS, e Rui Ferreira, CEO do Banco de Sangue Animal, discutem a estratégia desta ligação que pretende fazer crescer a reserva de unidades de sangue animal em toda a Europa. Os dois responsáveis creem num futuro positivo para este setor, que já conta com uma maior consciência de veterinários e tutores.

Como e quando surgiu a parceria entre o BSA e a UNAVETS?

 

Guilherme Assis: Na UNAVETS, a nossa missão é promover o conceito “One Health”, que se baseia na interdependência da saúde animal, humana e ambiental garantindo animais de companhia saudáveis, veterinários saudáveis e um planeta saudável. Nesse sentido, estamos sempre a pensar em formas de promover o desenvolvimento da indústria veterinária a nível global. Uma das formas de o fazermos é trabalhar em parceria com empresas que estão na vanguarda da inovação nos cuidados de saúde veterinários e na tecnologia.

Quando me reuni pela primeira vez com o Rui Ferreira, CEO e fundador do Banco de Sangue Animal (BSA) − juntamente com a nossa CEO e fundadora, Junko Sheehan −, em dezembro de 2021, ficou imediatamente claro que as nossas duas organizações partilham valores e atitudes semelhantes.

 

O BSA é uma empresa inovadora que está a revolucionar a forma como as dádivas de sangue animal são geridas, garantindo que os médicos e as clínicas tenham acesso seguro, rápido e fácil a componentes de sangue animal para ajudar os animais necessitados. Esta missão também se alinha muito bem com a nossa, porque ambos estamos a tentar expandir os nossos serviços em toda a Europa.

“As transfusões são geralmente uma situação de vida ou de morte, e as clínicas dependem do fornecimento de unidades de sangue seguras e de forma rápida.” – Rui Ferreira, Banco de Sangue

 

Rui Ferreira Banco Sangue Animal Site

Na sequência da nossa primeira reunião, tivemos uma série de conversas sobre a forma como poderíamos trabalhar em conjunto para melhorar positivamente os resultados dos pacientes e chegar ao maior número possível de animais de companhia. E foi assim que nasceu a nossa parceria.

 

Rui Ferreira: Do meu ponto de vista, a nossa parceria surgiu de forma orgânica. Quando conheci a Junko Sheehan e o Guilherme Assis tivemos uma excelente conversa inicial. Falámos do meu passado como médico veterinário, da minha paixão pela hematologia animal, das nossas opiniões sobre a indústria veterinária e sobre o setor dos bancos de sangue.

Expliquei a missão do BSA, de criar o sistema de doação de sangue animal mais sofisticado do mundo, e o nosso objetivo de facilitar transfusões de sangue seguras onde quer que sejam necessárias. Falámos também da tecnologia da BSA e dos nossos planos de expansão. Fiquei muito entusiasmado com a curiosidade e o interesse genuínos da Junko pelo nosso trabalho, por isso, quando ela expressou que gostaria de fazer parte dos nossos planos futuros, fiquei muito satisfeito.

Banco de Sangue Animal | Fotografia: Rodrigo Cabrita

Do ponto de vista prático, como se processa esta parceria?

Guilherme Assis: A nossa parceria com o BSA é estratégica. O Rui e a sua equipa já fizeram muito do trabalho árduo com a criação de tecnologia de ponta que está a tornar as dádivas de sangue animal seguras, mais eficientes e simples do que no passado.

A nossa contribuição consiste em disponibilizar a nossa experiência empresarial e operacional ao BSA, que procura expandir o seu serviço e aumentar o seu impacto em toda a Europa. Tendo crescido, em pouco mais de três anos, para mais de 100 clínicas, estamos numa posição única para o aconselhar.

Além disso, a UNAVETS vai definir a BSA como fornecedor preferencial de produtos de sangue animal e vamos também apoiar o seu programa de doações em locais selecionados da UNAVETS.

Rui Ferreira: Como o Guilherme descreveu, a nossa parceria com a UNAVETS é sobretudo estratégica. Criei o BSA em 2011 e agora temos duas instalações no Porto, um laboratório em Lisboa e mais três instalações em Espanha, na Bélgica e no Reino Unido. Estamos incrivelmente orgulhosos do que alcançámos e queremos continuar a crescer para podermos apoiar o maior número possível de pacientes em toda a Europa. E é aqui que o apoio da UNAVETS vai ser valioso.

A UNAVETS teve um crescimento extraordinário num período de tempo relativamente curto e a sua experiência na expansão e crescimento de uma plataforma de sucesso na indústria veterinária é inigualável, pelo que são o parceiro perfeito para nos ajudar a crescer. Também nos satisfaz o facto de existir um forte alinhamento cultural entre as nossas duas organizações, estando ambas empenhadas em garantir os melhores resultados possíveis para os pacientes.

“Ao olharmos para o futuro, é evidente que o principal desafio será garantir que a reserva de unidades de sangue animal em toda a Europa continue a crescer, para que mais animais necessitados possam ter acesso aos benefícios de transfusões de sangue seguras e atempadas.” – Guilherme Assis, UNAVETS

Que mais valia pode trazer, tanto para a UNAVETS, como para a BSA, na melhoria de cuidados de saúde animal?

Guilherme Assis: O empenho em melhorar os cuidados de saúde animal está profundamente enraizado no nosso ADN. Além das nossas parcerias com empresas como o BSA, também estamos a melhorar os cuidados de saúde animal de outras formas − a mais importante talvez seja o apoio e a formação que damos aos nossos veterinários.

Os veterinários têm sido historicamente sujeitos a elevados níveis de stresse no trabalho, pelo que estamos a liderar o setor na Península Ibérica, oferecendo um seguro de saúde e a investir em programas de bem-estar.

Também estamos muito orgulhosos da crescente variedade de opções de educação e formação que oferecemos a todos os membros da nossa equipa. Em 2022, realizámos mais de 100 sessões de formação presenciais e online em todo o grupo. Este ano, através da nossa plataforma de aprendizagem OneAcademy e das nossas parcerias recentemente anunciadas com o IFEVET e o I-VET, iremos proporcionar ainda mais oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento.

Este compromisso com a formação está a dar frutos. Por exemplo, um dos nossos veterinários recebeu formação em ecocardiografia e tornou-se o principal ecocardiologista da ilha Terceira, nos Açores, estando também a receber casos referenciados de outras ilhas do arquilpélago dos Açores.

Além do apoio e da formação, colocamos um ênfase significativo no design das nossas clínicas, criando bons ambientes de trabalho para os nossos veterinários e que sejam também espaços acolhedores e confortáveis para os animais de companhia e os seus tutores. Por fim, também investimos em tecnologia e fornecemos aos nossos veterinários equipamentos sofisticados, software e processos para ajudar a tornar o seu trabalho o mais simples possível.

Ao adotar esta abordagem holística que se centra em animais de companhia saudáveis, veterinários saudáveis e um planeta saudável, estamos empenhados em melhorar os cuidados de saúde dos animais e em obter melhores resultados para os pacientes. E embora já tenhamos feito progressos significativos, estamos sempre a pensar em como podemos melhorar e fazer mais.

Rui Ferreira: Tal como o Guilherme explicou, grupos como a UNAVETS podem melhorar os cuidados de saúde animal de muitas formas. O objetivo do BSA é melhorar um aspeto específico dos cuidados de saúde − a dádiva de sangue.

As transfusões são geralmente uma situação de vida ou de morte, e as clínicas dependem do fornecimento de unidades de sangue seguras e de forma rápida. O objetivo final das transfusões é ganhar tempo para permitir o tratamento da doença subjacente e a estabilização do doente. Consequentemente, para qualquer unidade de emergência ou de cuidados intensivos, o acesso a produtos sanguíneos seguros é crucial e requer um sistema fiável.

“O objetivo final das transfusões é ganhar tempo para permitir o tratamento da doença subjacente e a estabilização do doente. Consequentemente, para qualquer unidade de emergência ou de cuidados intensivos, o acesso a produtos sanguíneos seguros é crucial e requer um sistema fiável.” – Rui Ferreira, Banco de Sangue

banco sangue rm

Antes da criação do BSA, as transfusões de sangue animal eram muito ineficientes e complicadas de gerir. Basta pensar em todas as variáveis que tinham de ser tratadas − diferentes tipos de sangue, datas de validade das unidades de sangue, critérios de aceitação de dadores, análise das unidades de sangue, a lista continua. Infelizmente, devido a estas complexidades, muitas transfusões eram adiadas e muitos pacientes não recebiam as transfusões de que precisavam.

Ao criar o BSA, quisemos enfrentar este desafio, pelo que criámos uma plataforma para ligar os animais dadores e os seus tutores a doentes que necessitam urgentemente de transfusões de sangue em clínicas e hospitais veterinários. Funcionamos de acordo com as diretrizes mais rigorosas, disponibilizando produtos sanguíneos seguros para que os pacientes possam receber os melhores cuidados médicos, com o objetivo final de aumentar as suas taxas de sobrevivência.

A nossa plataforma é sustentada por um sistema de software totalmente integrado que gere uma vasta gama de dados, desde os dados do tutor, do dador, da dádiva de sangue, até às análises sanguíneas ou, por exemplo, os controlos de qualidade.

Este software interno permite uma comunicação bidirecional direta entre as clínicas, veterinários e os nossos bancos de sangue, para que possamos saber quando uma unidade é utilizada e quando precisa de ser reposta. Além disso, por exemplo, se identificarmos um problema nas análises do dador, contactamos proactivamente o veterinário do dador para o informar e investigar o caso.

Para tornar o nosso sistema o mais conveniente possível, também criámos a aplicação,  BSAnimal (Android e iPhone), que incorpora imensas funcionalidades num formato móvel, permitindo que os veterinários calculem o volume e velocidade de transfusão, que tenham acesso a fichas técnicas de vários components de sangue disponíveis ou a informações sobre reações transfusionais, por exemplo. Isto permite facilitar ainda mais o processo de transfusão  de sangue – algo que, por vezes, pode ser um fator decisivo na resposta do paciente.

O nosso serviço representa um avanço significativo para os cuidados de saúde animal. É uma plataforma universal criada para todos os animais de companhia para todas as clínicas que nos procurem e baseia-se no altruísmo e compaixão − princípios que orientam todo o nosso trabalho.

Esta parceria com a UNAVETS vai ajudar-nos a aumentar o nosso alcance, a aumentar o número de dadores disponíveis e a expandir a nossa plataforma de formação de veterinários em hemoterapia. Estamos entusiasmados com o que podemos alcançar juntos.

Como caracteriza a evolução da doação de sangue animal? Em Portugal, no Reino Unido e no mundo.

Guilherme Assis: Graças a empresas como a do Rui, a dádiva de sangue animal está a melhorar cada vez mais. Do nosso ponto de vista, está a ter um impacto extremamente positivo na nossa capacidade de oferecer os melhores cuidados aos nossos pacientes. Está também a tornar a vida dos nossos médicos mais fácil. Os maiores níveis de automatização e informação a que assistimos através de serviços como o do BSA estão a ajudar os nossos veterinários a tomar decisões mais informadas e mais rápidas − algo que é crucial em casos de emergência.

Ao olharmos para o futuro, é evidente que o principal desafio será garantir que a reserva de unidades de sangue animal em toda a Europa continue a crescer, para que mais animais necessitados possam ter acesso aos benefícios de transfusões de sangue seguras e atempadas. É por isso que estamos muito satisfeitos por trabalhar com o Rui e o BSA no desenvolvimento do seu programa de dadores.

Rui Ferreira: Nos últimos anos, a atividade veterinária evoluiu significativamente e não mostra sinais de abrandamento. Toda a indústria está a avançar muito rapidamente com melhorias em todos os aspectos da prática veterinária. Em grande parte, isto foi impulsionado pelos níveis mais elevados de cuidados que os tutores estão a exigir para os seus animais de companhia. O ritmo da mudança é um sinal de que nos preocupamos realmente com os nossos animais, com a vida selvagem e com a preservação do mundo natural. E isso é ótimo.

Neste contexto, creio que o futuro das dádivas de sangue animal se afigura muito positivo. Tanto os veterinários como os tutores de animais de companhia estão cada vez mais conscientes da importância da necessidade de garantir reservas de unidades de sangue animal para que os animais de companhia possam receber o tratamento de que necessitam. Por exemplo, todos os anos vemos um número crescente de tutores de animais que apoiam o nosso programa de dadores.

Isso não quer dizer que seja sempre fácil. Este é ainda um campo relativamente novo e em crescimento, por isso, quando estamos a iniciar programas em novos países sem um programa de dádivas estabelecido, o seu arranque pode ser lento. No entanto, a nossa experiência mostra-nos que, assim que os tutores e os dadores passam por experiências positivas nos dias de dádivas e a notícia se começa a espalhar, mais tutores, dadores e centros veterinários aderem aos nossos programas.

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