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Animais de Companhia

Estudo: muitos pets de tutores infetados com covid-19 desenvolvem anticorpos

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O número de gatos e cães que tiveram resultados positivos nos EUA para a presença do vírus SARS-CoV-2 pode não refletir exatamente o número de casos reais. De acordo com as descobertas preliminares de um novo estudo do Colégio Veterinário de Ontário, da Universidade de Guelph, Canadá, uma “proporção substancial” dos animais de estimação pode apanhar o vírus a partir de pessoas infetadas.

A patologista veterinária do Colégio Veterinário de Ontário, Dorothee Bienzle, integra a equipa de investigação que descobriu que os cães e gatos de estimação podem estar mais suscetíveis a contrair dos seus donos o vírus que causa a covid-19 do se pensava.

 

O estudo aponta que os testes de reação em cadeia da polimerase (PCR) negativos podem levar à subestimação da transmissão de humano para animal. A técnica pode não detetar os casos que outros testes irão detetar, dependendo de quando a infeção esteve ativa.

O estudo Surveillance of pets in households of persons with COVID-19 for SARS-CoV-2 infection ainda não foi publicado ou revisto por pares, mas será apresentado como um “resumo” (abstract) na próxima semana, na conferência virtual da Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infeciosas sobre a doença coronavírus. De acordo com o estudo, os cientistas detetaram anticorpos para o SARS-CoV-2 em sete de oito gatos e dois de cada dez cães.

 

“As provas são suficientes para nos fazer reajustar o nosso pensamento sobre animais de estimação”, afirmou Dorothee Bienzle, citada pela publicação VIN News Service.

De acordo com a contagem oficial do Serviço de Inspeção Sanitária Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura dos EUA, o número de animais que testaram positivo para a presença do vírus nos Estados Unido inclui 21 gatos e 17 cães, sendo que o método de diagnóstico, na maioria dos casos, foi PCR.

 

No estudo da Universidade de Guelph, foi sugerido às pessoas daquela região que possuíam um gato, cão e/ou furão, e que tinham um diagnóstico de infeção ou sintomas consistentes com a covid-19 ao longo de um período de duas semanas, que fizessem testes aos seus animais de companhia. Assim, foram recolhidos esfregaços nasais, da garganta e do reto dos animais para testes.

As amostras foram testadas para infeção ativa, através de PCR. Para animais de companhia em lares em que as pessoas tinham passado o período de duas semanas de suspeita de infeção, os investigadores recolheram uma amostra de sangue para testar anticorpos. Os anticorpos levam algum tempo a desenvolver-se após a exposição a um agente patogénico.

 

Assim, foram recolhidas amostras de 17 gatos, 18 cães e um furão e todos os resultados de PCR foram negativos, exceto no caso de um gato cujos resultados foram indeterminados.

Foram também recolhidas amostras de sangue de oito gatos e dez cães para a realização de testes serológicos. Os resultados indicaram a presença de anticorpos em sete amostras de gatos, incluindo no gato com resultado de PCR inconclusivo. Dois cães também testaram positivo para anticorpos da SARS-CoV-2.

De acordo com Bienzle, todos os gatos com resultados positivos de anticorpos apresentaram sinais clínicos associados à covid-19 aquando do momento de infeção do seu tutor. Dois foram diagnosticados com pneumonia. Um dos cães com anticorpos positivos foi diagnosticado com um episódio de doença respiratória. Todos os animais de estimação recuperaram.

Os inquéritos aos tutores mostraram que os gatos do estudo passaram muito mais tempo em contacto próximo com pessoas infetadas, o que pode explicar, pelo menos em parte, porque é que o estudo encontrou mais gatos com anticorpos do que cães.

Bienzle salientou, contudo, que a amostra do estudo é pequena devido às baixas taxas de transmissão humana na área de estudo. Como o grupo de estudo é pequeno, os investigadores advertem contra a extrapolação das suas descobertas para a população em geral em termos da proporção de animais que estão ou foram infetados.

No entanto, a investigadora reitera que “estes resultados preliminares sugerem que uma proporção substancial de animais de estimação em lares de pessoas com covid-19 pode acabar por desenvolver anticorpos”.

Esta lacuna que os investigadores encontraram entre os PCR e os testes serológicos em animais de estimação existe também nos testes a doentes humanos. Bienzle afirmou ainda que se estima que os testes PCR em humanos obtenham cerca de 30% de falsos negativos devido à questão do tempo.

Perante o estreito período do tempo em que uma infeção ativa em animais de estimação pode ser detetada, os investigadores recomendam a utilização de testes serológicos para avaliar a transmissão de humano para animal.

A investigadora recomenda ainda que, em casos de infeção, se tomem as mesmas precauções que são aconselhadas para os humanos: pessoas que tenham sintomas de infeção devem manter-se afastadas não só de outras pessoas, mas também de animais de estimação.

Os laboratórios comerciais de diagnóstico veterinário Idexx, Antech e Zoetis começaram, esta primavera, a disponibilizar aos veterinários testes PCR para os seus pacientes.

Quanto à questão da transmissão animal-humano, ainda não há uma resposta. Contudo, um estudo ainda não revisto por pares está a investigar em profundidade os surtos de 16 explorações de visons, analisando os animais e os seres humanos que lá viviam e trabalhavam através da sequenciação dos genomas na sua totalidade.

As conclusões revelam que embora tenha sido um humano a infetar os animais inicialmente, estes foram depois responsáveis pela transmissão do SARS-CoV-2 a outros humanos.

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