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Investigação

Covid-19: Estudo prova transmissão animal-humano e encerra explorações de visons nos Países Baixos

Governo holandês aponta possibilidade de vison ter infetado humano

Um estudo, ainda não revisto por pares, está a investigar em profundidade os surtos de 16 explorações de visons, analisando os animais e os seres humanos que lá viviam e trabalhavam através da sequenciação dos genomas na sua totalidade. As conclusões revelam que embora tenha sido um humano a infetar os animais inicialmente, estes foram depois responsáveis pela transmissão do SARS-CoV-2 a outros humanos.

Intitulada Jumping back and forth: anthropozoonotic and zoonotic transmission of SARS-CoV-2 on mink farms, a pesquisa foi divulgada por investigadores de diferentes centros holandeses, incluindo o Centro Médico Erasmus e as Universidades de Utretch e Wagenigen.

 

A equipa de investigação integra a médica veterinária Marion Koopmans, membro do grupo consultivo da Comissão Europeia para a covid-19, que, de acordo com notícia da Animal’s Health, refere que a pesquisa foi utilizada como base pelas autoridades holandesas para acabar definitivamente com a produção de visons no país.

Os investigadores observam que, por enquanto, apesar das melhorias das medidas de biossegurança, da vigilância precoce e do abate imediato de visons em explorações infetadas, continua a haver transmissão entre as explorações. Segundo o estudo, foram verificados três grandes núcleos de transmissão com modos de propagação desconhecidos.

 

“Tanto quanto sabemos, estes são os primeiros eventos documentados da transmissão da SARS-CoV-2 de animal para humano”, afirmam os autores, acrescentando que será necessária ainda mais investigação sobre o vison, e outros mustelídeos, para confirmar o seu estatuto de reservatório deste coronavírus. A partir das suas observações, os investigadores consideram que tal é provável.

De acordo com a investigação, após a deteção da SARS-CoV-2 em explorações de visons, 68% dos trabalhadores testados e/ou familiares ou contactos mostraram estar infetados com o vírus, indicando que o contacto com visons infetados foi um fator de risco para a contração do vírus.

 

Os autores do estudo observaram ainda uma grande diversidade nas sequências genéticas de algumas explorações, o que muito provavelmente pode ser explicado pelo facto de terem existido muitas gerações de animais infetados antes dos aumentos de mortalidade que alertaram as autoridades.

Foi também observada uma diversidade relativamente elevada de sequências genéticas em explorações que testaram negativamente uma semana antes, sugerindo uma evolução mais rápida do vírus na população de visons.

 

“Isto pode indicar que o vírus pode replicar-se mais eficazmente em visons ou pode ter adquirido mutações que tornam o vírus mais virulento”, especulam os autores, reiterando que não foram encontradas mutações específicas nas amostras de visons que apontem nessa direção.

Como as explorações de visons têm grandes populações animais, segundo o estudo, poderá ser verificada uma transmissão muito eficiente do vírus, pelo que os autores estimam que os intervalos de geração (o tempo que decorre entre infetar um hospedeiro e infetar potencialmente outro) para o SARS-CoV-2 em humanos é de cerca de 4-5 dias, mas com uma exposição de alta dose numa exploração de alta densidade o período poderia ser mais curto.

Os autores indicaram terem encontrado sequências genéticas em humanos que correspondem às de visons em várias explorações agrícolas, mas notam que nem todas podem ser consideradas transmissões zoonóticas diretas.

Apesar de explicarem que dois funcionários de uma das explorações de visons foram provavelmente infetados enquanto trabalhavam na mesma, dado o agrupamento específico na árvore filogenética e o momento da infeção, as infeções humanas subsequentes podem ter tido origem em infeções zoonóticas adicionais ou através da transmissão de humano para humano nas suas casas.

Os autores destacam, ainda, uma clara separação filogenética entre os casos humanos relacionados com explorações agrícolas e casos de animais dentro da mesma área geográfica, o que fornece mais provas de que os animais eram a fonte mais provável de infeção.

Em alguns casos, as quintas tinham o mesmo proprietário, mas noutros casos não foi possível estabelecer qualquer ligação epidemiológica. Por isso, os cientistas concluíram que as pessoas que visitam as diferentes quintas poderiam ter sido uma fonte de transmissão, mas também os gatos errantes que percorrem as quintas.

Os investigadores acreditam que os ambientes de criação de visons, devido à sua dimensão e estrutura populacional, possam fazer com que o SARS-CoV-2, uma vez introduzido, continue a circular. Além disso, consideram que a vigilância contínua e a cooperação entre os serviços de saúde humana e animal são cruciais para evitar que os animais sirvam como reservatórios de infeção.

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