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XII Jornadas da Associação Portuguesa de Buiatria: Actualizar conhecimentos

De 11 a 13 de Abril, estiveram reunidos, em Vilamoura, cerca de 240 médicos veterinários para conhecer as mais recentes inovações nesta área dos bovinos. João Cannas da Silva, presidente da Associação Portuguesa de Buiatria, apelou à participação de todos para que o congresso não fosse apenas de «ouvintes», até porque, segundo salientou, a escolha dos oradores foi «criteriosa, para que os temas versassem sobre as diferentes áreas».

José Luís Feio, igualmente membro da direcção da associação que organizou as jornadas, alertou os participantes para as inovações introduzidas no sistema de controlo de presenças, que passaram a «reflectir o tempo em que efectivamente permaneceram dentro da sala», através da leitura de código de barras. Desta forma, o diploma apenas foi atribuído aos médicos veterinários que cumpriram o número mínimo de horas de assistência às conferências, «combatendo a fraude que havia com o sistema de presenças anterior», salientou Cannas da Silva.

Novo atlas da radiologia

 

Adrian Steiner, responsável pela Clínica de Ruminantes do Hospital Veterinário da Universidade de Berna, na Suiça, elucidou os presentes sobre as formas de diagnóstico e técnicas cirúrgicas a utilizar em problemas nas patas de bovinos.

De acordo com o especialista, «para fazer diagnóstico, é necessário realizar uma série de exames para se ter a certeza da maleita que afecta o animal», pelo que é imprescindível conhecer os principais sintomas e as formas de tratamento.

 

Entre as novidades que apresentou, Adrian Steiner falou sobre o novo Atlas de Radiografia Bovina, «que se encontra em preparação e deverá sair no início do segundo semestre do próximo ano». O investigador salientou a importância deste instrumento na prática clínica, uma vez que o que existe actualmente «tem cerca de trinta anos».

Além disso, defendeu que as cirurgias nas patas dos bovinos devem ser «sempre realizadas com recurso a anestesia». No seu país – Suíça – nem sequer é permitido que não se utilize analgesia, sendo recomendada uma com duração de «duas horas, o que permite realizar qualquer intervenção necessária».

 

Na sua segunda apresentação, o docente da Universidade de Berna debruçou-se sobre o tratamento de fracturas em bovinos, sublinhando o desenvolvimento nos últimos anos, tanto ao nível do conhecimento da anatomia do animal como de novas técnicas de tratamento.

Recorrendo a diversos exemplos de casos clínicos, Adrian Steiner classificou os diferentes tipos de fracturas a que correspondem igualmente a soluções de tratamento diferenciadas.

 

Problema da Língua Azul

Posteriormente, Fernando Boinas, da Faculdade de Medicina Veterinária, da Universidade Técnica de Lisboa, abordou uma temática actual. “Língua Azul: uma doença que veio para ficar?” foi o tema da sua dissertação sobre a doença que, «após um silêncio epizoótico de 44 anos, em Novembro de 2004 surgiu novamente em Portugal, em rebanhos de ovinos». E para que o diagnóstico da doença seja preciso, também aqui os exames laboratoriais assumem grande importância, devendo proceder-se a análises com detecção do agente infeccioso ou do genoma viral, bem como a de detecção de anticorpos.

Como técnicas de prevenção e controlo, daquela que é «actualmente considerada como uma das mais importantes doenças dos ruminantes na Europa», que causa «enorme impacto económico» e considerando que, de acordo com o conhecimento científico actual, a principal via de transmissão é através da picada dos insectos vectores», o investigador sugere a implementação de diferentes tipos de medidas. Entre elas, a avaliação epidemiológica e estabelecimento de restrições ao movimento dos animais, o controlo de vectores e a vacinação. No último caso, alertou ainda para o facto de, em 2005 e 2006, se ter administrado «uma vacina viva, que pode causar abortos e malformações fetais, quando aplicada a fêmeas gestantes». Mais tarde, passaram a ser utilizadas vacinas inactivadas com adjuvantes oleosos ou de hidróxido de alumínio, contra os serótipos 4 e 1. Entre as vantagens, Fernando Boinas aponta o facto de «não causarem virémia, não serem abortogéneas e poderem ser aplicadas aos animais em qualquer época do ano (mas preferencialmente antes da época de actividade dos vectores)». Já no caso do serótipo 8 do vírus da Língua Azul «está prevista a comercialização de uma vacina inactivada, em Maio-Junho de 2008».

Apesar do desenvolvimento na área, Fernando Boinas considerou que «é provável que a doença venha a ocorrer de forma endémica em Portugal, não se perspectivando, a curto prazo, a sua erradicação». Assim sendo, há que «minimizar os danos causados e definir as melhores estratégias de prevenção e controlo da doença».
A encerrar o primeiro dia de trabalhos, realizou-se a palestra Bayer, que esteve a cargo de Franz Pirro, da Bayer Healthcare, e que teve como enfoque a “Patologia metabólica no peri-parto. Abordagem terapêutica”.

«Superou expectativas»

João Cannas da Silva salientou que a organização anual das jornadas serve para «prestar um serviço à classe veterinária em termos de formação contínua e actualização dos conhecimentos». Assim, a escolha dos oradores foi «criteriosa, de forma a abarcar as mais diferentes áreas». Além disso, «como ainda não existe uma especialização em cirurgia de bovinos, demos especial atenção a matérias dentro deste assunto».

Quanto à escolha dos temas, Cannas da Silva explicou que estes surgem por indicação dos associados, que respondem a um inquérito no final de cada congresso.

Tendo em conta o cada vez menor número de médicos veterinários que se dedicam aos grandes animais, «dado que é um trabalho extremamente árduo, difícil, sujo e pouco remunerado», os cerca de 240 participantes são um número que «superou as expectativas da organização».

Jornadas abrangentes

Do programa das jornadas constaram ainda as apresentações de Sonja Franz, “Técnicas e diagnóstico por laparoscopia em bovinos” e “Teloscopia em Bovinos”; de Vicente Jimeno Vinatea, “Gestão da Alimentação em Bovinos de Leite” e “Sistemas de alimentação em bovinos de carne”; de Luís Costa, “Controlo da reprodução em efectivos bovinos de produção de carne”; e de João Nestor Silva, “Avaliação da fertilidade em touros de efectivos de produção de carne”.

Houve ainda lugar para palestras patrocinadas por laboratórios, com os temas “Coxidiose em bovinos”, por Pierre Veys; a apresentação de André Preto sobre os resultados do estudo de prevalência de lesões pulmonares em matadouro e incidência de agentes bacterianos associados a SRB, em Portugal; e de um estudo de mercado divulgado por Ana Teresa Cabrita, sobre a “Atitude dos médicos veterinários face à dor em bovinos”. Nestas jornadas foram ainda discutidos problemas relacionados com os ovinos e caprinos, «extremamente importante», porque de acordo com Cannas da Silva, «permite captar mais pessoas».

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