Na Clínica Veterinária Infante Santo, que já conta com quatro décadas de existência, a ideia é “funcionar quase como um médico de família”. Neste sentido prima-se por uma relação de proximidade com os clientes e por um aconselhamento sobre os cuidados a ter “à medida de cada animal”.
O rés-do-chão de um prédio situado numa das avenidas mais movimentadas de Lisboa alberga, há mais de 40 anos, uma clínica veterinária. Quatro décadas de história(s) onde os protagonistas têm sido os animais que passaram pelas mãos dos profissionais que trabalharam neste espaço. A médica veterinária Margarida Lopes dá o testemunho pelos últimos quinze anos da Clínica Veterinária Infante Santo (CVIS).
Foi em 2001, depois de se licenciar em Medicina Veterinária, que começou a trabalhar na CVIS. “Fui contratada pelo Dr. Jorge Cid, que tinha adquirido a clínica ao antigo proprietário”. Começando a trabalhar ‘simplesmente’ como médica veterinária, mais tarde Margarida Lopes viria a ser convidada para assumir as funções de diretora-clínica e “em 2014 passei a ser proprietária”. Um vento de mudança que veio em boa hora. Por um lado “estava a precisar de um novo desafio na minha vida e adquirir a clínica era o passo a dar”. Por outro lado, a CVIS também “estava a precisar de uma modernização e de, por exemplo, entrar nas redes sociais”.
Desde então, a médica veterinária não tem tido mãos a medir: renovou a imagem da clínica, reformou o próprio espaço que, na sua opinião, “ficou melhor tanto para os donos, como para os animais”, e alterou protocolos. É verdade que passou a ter “outras responsabilidades e tem sido mais exaustivo”, porém está feliz com os resultados. Segundo a responsável, a clínica “sempre teve uma boa carteira de clientes e tenho clientela fiel, mas têm surgido novos clientes”. Na verdade, por mais incrível que possa parecer, “apesar de a CVIS ter 40 anos, algumas pessoas não sabiam que havia aqui uma clínica”.
O médico de família
Na CVIS pratica-se uma medicina veterinária de proximidade. O que queremos dizer com isto? Que a ideia é a de “funcionarmos quase como um médico de família”, explica a diretora-clínica, acrescentando que “temos uma relação muito próxima com os clientes”. A prática deste tipo de medicina veterinária implica, no entanto, um certo envolvimento emocional por parte do médico veterinário, o que por vezes pode ser sinónimo de alguma apreensão. “Neste momento tenho um caso em mãos que me vai custar muito, dado que estamos a falar de um prognóstico reservado”, revela Margarida Lopes, explicando que se trata de uma cadela Labrador que conhece desde pequena e que tem um linfoma de células T, um diagnóstico a que se chegou por imunofenotipagem. “Este caso está a marcar-me porque sei que o tempo de vida do animal está contado, apesar de termos tido imenso sucesso no tratamento: o diagnóstico foi feito há um ano e os tempos de sobrevivência nestes casos são de seis a nove meses”, refere. Se por um lado, em termos clínicos, se está perante um caso de sucesso, por outro, estando uma vida em causa, “sei sempre que vai haver um momento em que temos de assumir que chegámos ao fim…”, lamenta.
Se o animal conseguiu viver todos estes meses após o diagnóstico, contra todas as probabilidades, também se deve ao seu proprietário. “Temos um dono que decidiu, depois de lhe explicarmos a situação, incluindo o tempo de sobrevivência da cadela, investir no tratamento e é extramente cumpridor das nossas indicações e isto faz toda a diferença”, afirma a responsável. Mas este proprietário é mais a exceção do que a regra. Quantos médicos veterinários não se debatem com o drama dos donos não terem dinheiro para avançar com os cuidados e tratamentos que os animais precisam? Na CVIS, o cenário não é muito diferente. “É duro haver procedimentos que têm de ser feitos e não haver dinheiro para os fazer”, indica Margarida Lopes, acrescentando que “há casos em que abro a ficha do animal e vejo que há dois anos já me tinha apercebido de que o gato devia sofrer de hipertiroidismo e que na altura tinha sugerido fazermos o teste… mas não se fez e, com o passar do tempo, vamos vendo o animal a emagrecer e a definhar”. Daí que, para tentar contrabalançar esta realidade, na clínica faz-se o esforço para “oferecer os tratamentos possíveis, adaptados à carteira de cada dono”, conclui.
Um passo “muito pequenino”
Em março deste ano foi dado um passo importante para tentar chegar a mais animais no que diz respeito ao cuidado médico veterinário, pois os proprietários que peçam fatura com o número de identificação fiscal podem deduzir 15% do IVA suportado com estas despesas até um limite total de 250 euros. Para Margarida Lopes “é um passo no bom caminho, mas muito pequenino”. Na prática, “o beneficio para as famílias é muito pouco”. Mas, apesar de achar difícil, tem esperança “de que as pessoas procurem mais o médico veterinário”.
Por outro lado, a diretora-clínica acredita que esta medida “pode representar uma mudança de mentalidade e que, com isso, se chegue ao nosso objetivo. Tenho muita fé no novo bastonário e acho que a nossa verdadeira luta deveria ser, se não isentar o ato médico de IVA, pelo menos fazê-lo baixar para que deixe de estar ao valor que está, porque assim até parece que somos um serviço de luxo”.
Consulta preventiva
Falando em serviços, na CVIS são disponibilizados domicílios, cirurgia de tecidos moles e ortopédicas, imagiologia, análises clínicas, nutrição animal e grooming, mas também consultas de várias áreas específicas. Sendo a equipa da clínica constituída, neste momento, por Margarida Lopes e pela auxiliar de veterinária Andreia Ramos, sempre que há necessidade recorre-se a terceiros. “Algumas são asseguradas por colegas externos” e “como também não faço cirurgia ortopédica, tenho um colega que vem fazer sempre que há necessidade”. A médica veterinária ressalva ainda que “quando não podemos fazer os procedimentos necessários, referencio porque o objetivo é servir bem o meu cliente”.
De entre os serviços disponibilizados na clínica, Margarida Lopes destaca ainda a consulta preventiva ou profilática. “As pessoas já têm o hábito da profilaxia, mas o ideal era que nos procurassem antes de adquirir o animal. Este hábito é que ainda não existe e faz diferença porque, por vezes, não se tem noção dos cuidados que um animal exige”. Margarida Lopes ressalva que os conselhos dados “são à medida de cada animal, pois uma coisa é o gato que vive num apartamento em Lisboa e nunca vai à rua e outra é o gato que até tem acesso ao exterior. Ou uma situação é a do cão de quinta e outra é a do cão que, quando vem à rua, vem sempre numa malinha”. Ou seja, cada caso é um caso, e “cada animal poderá precisar de uma profilaxia diferente”.
Quanto ao futuro, a curto prazo a meta passa por aumentar a equipa porque “estes dois últimos anos foram puxados e a família queixa-se que não estou tão presente”. Depois, outro aspeto que não pode ser descurado é o investimento em infraestruturas e equipamentos, assim como na formação da equipa. “A situação do país continua complicada, mas temos de continuar a investir pois o cliente também é mais exigente e há muita concorrência”, declara a responsável. “Apesar de ter de ser sempre ponderado, o investimento é fundamental”.