Criada há um ano, a start-up Dr. Bigodes veio dar resposta a clientes com pouco tempo ou dificuldades de deslocação a clínicas e/ou hospitais veterinários. O projeto tem ganho forma e já fidelizou cerca de 500 clientes. A VETERINÁRIA ATUAL acompanhou uma consulta ao domicílio e falou com os responsáveis.
À hora marcada, Maria Saldanha Daun e o seu cão labrador, Boogie, abrem as portas de sua casa ao “Dr. Bigodes”. As queixas de otites têm sido recorrentes e Maria achou que estaria na altura de pedir uma avaliação médica. Este cão, de oito anos, foi operado há oito meses a um tumor maligno, tendo engordado desde então. Pesa 45 quilos, mas é calmo e não estranha visitas de desconhecidos. Bruno Santos, médico veterinário, aproveitou a consulta – a que a VETERINÁRIA ATUAL assistiu – para conhecer o seu historial clínico, onde aproveitou para realizar uma desparasitação interna. No final, o Boogie teve direito a receber um snack, uma recompensa pelo seu comportamento.
Consultas veterinárias em casa dos clientes, na verdadeira comodidade do lar. Tão simples quanto isto. Uma alternativa ao mercado de trabalho, uma forma de desenvolver um negócio próprio e criar uma maior proximidade com os donos dos animais de companhia. Eis algumas das razões que levaram Bruno Santos e Rui Patriarca a fundar a start-up Dr. Bigodes em junho de 2015. Para trás, Bruno Santos deixou o curso de Medicina Veterinária tirado em Cáceres (Espanha), algumas experiências em clínicas veterinárias vocacionadas para animais de companhia e um estágio profissional num hospital da margem sul.
A ideia de explorar o mercado veterinário surgiu ao acaso, após um jantar entre amigos e acabou por se revelar “uma aposta ganha”. Um ano depois, o balanço é “muito positivo”, revela o médico veterinário. Foram realizadas “cerca de 800 consultas” e a empresa conta atualmente com “aproximadamente 500 clientes que recorrem aos serviços, na grande Lisboa e no grande Porto”, explica Rui Patriarca, diretor de marketing. Para já são estes os concelhos de atuação do Dr. Bigodes, sendo um objetivo atual “fazer crescer o negócio. Estamos a construir um serviço muito profissional, mas também muito humano e próximo, e as pessoas sentem isso. Superámos as nossas expetativas iniciais”, acrescenta. No próximo ano é possível que o serviço seja alargado “a mais duas cidades portuguesas”. Paulatinamente vão sendo introduzidos novos serviços, como aconteceu recentemente com os banhos e as tosquias. “Está a ser um sucesso e esperamos ter novidades em breve”, explica Rui Patriarca.
O objetivo é “levar os melhores meios de diagnóstico e os mais adequados produtos preventivos” até à casa dos clientes sem que os seus animais saiam da sua zona de conforto e evitando “a visita ao ambiente mais stressante vivido num consultório clínico, com entrada e saída constantes de animais potencialmente doentes e onde, muito provavelmente, nunca vai ser visto pelo mesmo veterinário e auxiliares”, defende Bruno Santos. Maior comodidade e confiança para o cliente e mais tranquilidade para os animais são alguns dos benefícios assinalados pelos responsáveis.
Uma consulta veterinária à distância de um clique
Os cofundadores defendem que é muito fácil fazer um agendamento. Basta aceder ao site www.drbigodes.pt, seguir alguns passos, preencher a informação solicitada e fazer uma marcação online, sendo possível também colocar dúvidas ou pedir informações por telefone. “É um procedimento simples. O cliente acede ao site, escolhe o veterinário e marca a consulta consoante a sua disponibilidade”, explica Bruno Santos, responsável pelas consultas na Grande Lisboa e concelhos limítrofes. A start-up conta ainda com a colaboração de três médicos veterinários: Diana Leal, que tem a seu cargo os concelhos de Odivelas, Cascais e Oeiras; Rui Lázaro é o veterinário dos animais dos concelhos do Porto e limítrofes, ficando Rui Elias com os tratamentos de acupuntura. “Já temos procura no Algarve e na Madeira, mas ainda não conseguimos dar resposta. Há que equacionar todos os investimentos antes de avançar”.
Quando um animal precisa de um meio complementar de diagnóstico mais detalhado, como um raio-X ou ecografia, o Dr. Bigodes conta com a parceria de algumas clínicas “sem que o cliente tenha de pagar mais por isso”. O preço praticado é “único independentemente da localização, ao qual não acrescem custos de deslocação. Fizemos um estudo de mercado e o valor das nossas consultas está em concordância com o que é cobrado numa clínica convencional”. É possível, no entanto, realizar análises de sangue ao domicílio pois a empresa conta com o apoio de um laboratório em Vila do Conde. “Enviamos os resultados das análises que realizamos aos nossos clientes por email, algo que nem sempre acontece em clínicas ou hospitais convencionais”. No futuro, os responsáveis gostariam de disponibilizar mais exames, como por exemplo, ecografias.
Chegar a novos clientes
Bruno Santos confirma que a “publicidade boca a boca é a melhor”, chegando a ter três clientes no mesmo prédio. “Os clientes contactam-nos e recomenda-nos aos seus amigos, colegas e familiares”, revela Rui Patriarca. Além disso há uma grande aposta na principal ferramenta da start-up: o site e as redes sociais.
Relativamente a possíveis críticas que possam ser alvo, Bruno Santos é perentório: “Estamos a explorar uma área de mercado que já existe há muito tempo e até há quem o faça de forma ilegal, o que não é o nosso caso”. E acrescenta: “Os médicos veterinários são muito concorrentes entre si, há falta de união na classe”. Confessa que se sente “realizado” com este projeto realçando a relação de proximidade que tem criado com os clientes. “Existem cada vez mais clínicas veterinárias. Este é um mercado que tem sido interessante explorar e o feedback dos clientes é muito positivo. Os clientes ficam agradecidos por não terem de sair de casa para ir a uma consulta com os seus animais. Alguns deles não têm carta de condução ou têm dificuldade de mobilidade. Outro dos benefícios é o facto de as crianças poderem acompanhar estas consultas pois isto envolve-os e responsabiliza-os no tratamento com os seus animais”, explica.
O facto de acompanharem um animal ao longo do tempo também se torna vantajoso, na opinião do médico veterinário, constituindo uma das grandes diferenças em relação ao atendimento hospitalar. “Num hospital raramente é o mesmo médico a atender o animal, havendo ainda um limite de tempo para casa consulta porque o objetivo é que os clientes não fiquem muito tempo à espera e sejam atendidos rapidamente. Ao domicílio é completamente distinto. As salas de espera são motivo de stress para os animais e essa vertente não existe nas consultas do Dr. Bigodes, em que os clientes e os seus animais não saem no seu ambiente diário”. A consulta é exclusiva dessa pessoa, a atenção é direcionada para si e o tempo é variável, dependendo da agenda que tenhamos para esse dia e dos problemas que os animais apresentem”.
Para o futuro, a meta passa por “aumentar o número de clientes, alargar o número de concelhos onde atuamos e crescer em termos de faturação”, conclui o médico veterinário.