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Um dia com...

Uma veterinária de pequenos ruminantes: Ao serviço dos produtores

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Trabalha principalmente com pequenos ruminantes, que dominam a produção no Campo Branco, mas também trata bovinos e suínos – “ocupamo-nos de todos os animais das explorações”. Por ser coordenadora do ADS da Associação de Agricultores da região o dia-a-dia de Ana Rita Simões é bem diferente da maioria dos médicos veterinários de animais de produção: “trabalhamos sempre em prol dos nossos produtores”, procurando fornecer serviços cada vez mais completos, até porque a realidade assim obriga: “temos agricultores cada vez mais envelhecidos e em risco de desistirem por não conseguirem dar respostas às exigências legais”.

Ainda não estamos no verão mas o sol abrasador do baixo Alentejo não perdoa, pelo que o trabalho de campo da dupla de veterinários – Ana Rita Simões e Hugo Palma – do Agrupamento de Defesa Sanitária (ADS) da Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB) começa bem cedinho, lá pelas 07:00, mas a coordenadora do ADS frisa que “quando é mesmo no verão chegamos a começar às 06:00 para conseguirmos terminar por volta das 10:30, porque depois é insuportável”. A equipa de reportagem da VETERINÁRIA ATUAL teve ‘tolerância de ponto’ saiu de Lisboa às 6:00, para começar a acompanhar o trabalho dos médicos veterinários na Casa Agrícola Jaime Palma, em Almodôvar, por volta das 08:00.

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Quando chegámos, há muito que Ana Rita Simões, Hugo Palma e José Moreno, o moiral (pastor) espanhol ao serviço de António Carvalheira – que gere aquela e outras explorações pertença do sogro “já sem condições para levar isto para a frente, devido à idade avançada” –, estavam a tratar do grande rebanho no ovil que o gestor construiu. “Aqui temos as condições ideais para trabalhar, com manga para os animais e telheiro coberto. Em muitas outras explorações estamos em campo aberto ao sol e à chuva. Bem, à chuva não estamos por causa da informática que agora anda sempre connosco, quando acontece temos de adiar”, explica a médica veterinária.

 

Veterinários apoiam no maneio da exploração

Enquanto os médicos e o moiral tratavam dos animais falámos um pouco com o produtor sobre a forma como trabalha com a AACB. António Carvalheira valoriza muito o trabalho em parceria com a Associação e o ADS mas, principalmente, com a médica veterinária: “não percebia nada disto, tenho empresas em Lisboa do ramo imobiliário, e quando tive de pegar na gestão das propriedades do meu sogro (que somam cerca de 1.300 hectares para cereais e ovinos, além de sobreiros) foi fundamental a orientação da Dra. Ana Rita”, diz o produtor, acrescentando que “sigo as indicações dela em termos de alimentação, relação ao que semear, temos, por exemplo pastagens biodiversas específicas para as ovelhas, e também na parte reprodutiva e temos vindo a fazer um apuramento conseguindo cada vez mais partos de gémeos, por exemplo”. O produtor vende os borregos para engorda ao longo de todo o ano, “este ano devo ter cerca de 1.000 borregos”, diz.

 

António Carvalheira semeia vários cereais mas também feno, sempre a pensar na alimentação dos animais. Tem também uma barragem que construiu para ter água para as ovelhas, “só que este ano mais uma vez choveu muito pouco e estamos com seca grave. Eu não tenho problemas porque uma mina que fornece água para a Somincor e tenho um acordo com eles para me fornecerem água quando preciso, mas há muitos produtores que, tal como no ano passado, vão precisar que os bombeiros lhes tragam água para os animais”, lamenta.

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Saneamento de rebanhos

A exploração tem cerca de 600 ovelhas Merino (e seis cabras apenas para consumo caseiro) e “tratámos uma parte do rebanho ontem e hoje será o resto”. Reparámos que as ovelhas estão bem gordas e a médica explica, sorrindo, que “estamos na fase em que têm de estar gordas”.

O saneamento dos rebanhos é feito pelos veterinários que trabalham com a AACB entre 15 de janeiro e 15 de dezembro, mas “nos ovinos concentramos o trabalho mais nesta altura [abril a junho], depois da tosquia, porque é mais fácil fazermos a colheita de sangue”.

Os animais a quem se vai tirar sangue – todos os machos e animais adquiridos, às borregas de substituição e a 25% das fêmeas – são marcados com uma caneta verde, enquanto todos levam uma marca da caneta vermelha “porque temos de confirmar a leitura do chip”.

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Neste dia, além da colheita de sangue e da verificação dos chips, “estamos a desparasitar interna e externamente os animais e também a vacinar contra a enterotoxémia, uma das doenças que nos aflige aqui bastante e que causa mortes súbitas”, conta a coordenadora do ADS.

“Há rebanhos em que fazemos esta vacinação de seis em seis meses e outros anualmente, depende de muitos fatores que o médico veterinário analisa em conjunto com cada produtor”, acrescenta.

Ana Rita Simões vai continuando o seu trabalho com o colega Hugo Palma – “trabalhamos sempre os dois, em equipa”, salienta – enquanto vai conversando connosco.

A Associação tem 12 técnicos a trabalhar neste área e 22 médicos veterinários inscritos no ADS que podem tratar da parte sanitária dos seus produtores. A escolha do médico veterinário assistente é sempre do produtor e pode não ser o mesmo que trata da parte clínica e da sanidade, mas “em geral é a mesma pessoa, porque assim conhece melhor o rebanho”. Por exemplo, “nós acompanhamos este rebanho e sabemos que tem problemas de peeira, por isso quando vimos fazer trabalho sanitário estamos sempre atentos a outros sintomas e sinais que possam aparecer”, refere a médica salientando que “para o produtor é mais cómodo fazer tudo através da Associação”.

Rastreabilidade total

Se algum animal perdeu o brinco tem de se colocar de novo. Um deles escapou ao controlo e já estava fora da manga pelo que o moiral teve de ir atrás dele com o gravato (um pau comprido com um gancho na ponta) – “uma ferramenta fundamental para os moirais”, nota Ana Rita Simões – para o apanhar por uma pata e se conseguir colocar novo brinco.

A coordenadora explica-nos que “há apenas 3 a 4% de animais sem chip no ADS que, por alguma razão escaparam à campanha que fizemos. Nesse caso colocamos um chip e também registamos tudo o que fazemos, animal a animal, na nossa base de dados, que depois quando chego à Associação, carrego no PISA NET (base de dados sanitária) e depois comparamos os dados de identificação com o que está no IDIGITAL (a base de dados nacional de identificação) porque tem de refletir tudo o que está no campo”, porque é a partir daí que são pagos os prémios aos produtores (POC) pelo IFAP. “Assim, tentamos que os nossos produtores tenham tudo de acordo com as exigências legais”, acrescenta.

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Por isso, a Associação começou também a oferecer aos seus produtores um serviço de gestão do seu efetivo, “aproveitando os dados que já temos de registar ajudamos também no maneio reprodutivo e no Livro de Medicamentos, que é obrigatório o produtor fazer”, afirma a coordenadora, salientando que “trabalhamos sempre em prol dos nossos produtores”, procurando fornecer serviços cada vez mais completos, até porque “temos agricultores cada vez mais envelhecidos e em risco de desistirem por não conseguirem dar respostas às exigências legais”. O serviço de gestão do efetivo abrange já cerca de 85.000 animais.

Agricultores envelhecidos e produção de sequeiro

A zona do Campo Branco (concelhos de Aljustrel, Ourique, Castro Verde e Almodôvar) onde atua a AACB carateriza-se por uma agricultura de sequeiro (embora Alqueva abranja já quase todo o concelho de Aljustrel) e produção pecuária, onde predominam os pequenos ruminantes. Os agricultores têm uma média etária muito elevada e muita dificuldade de trabalhar com as novas tecnologias que as regras e exigências nacionais e comunitárias cada vez mais exigem, pelo que o apoio da associação é fundamental para a continuidade desta produção. Por isso, a associação e o ADS têm vindo a disponibilizar cada vez mais serviços, “para que estes produtores não desistam e o Campo Branco fique ainda mais desertificado”, afirma Ana Rita Simões.

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A AACB trabalha com 970 explorações, na sua maioria familiares, com um total de cerca de 145.400 pequenos ruminantes, sendo que 887 (73%) são de ovinos (136.070, ou seja 94%) e 322 (27%) de caprinos (9.320, 6%). O número médio por exploração é de 155 animais, sendo que são produções mistas, com bovinos, ovinos, caprinos e suínos.

Sistemas reprodutivo e digestivo com maiores incidências

Sobre as principais doenças que afetam os pequenos ruminantes na zona do Campo Branco (Ver Caixa), a médica veterinária explica-nos que, olhando para os diagnósticos laboratoriais vemos que “a maior incidência se reparte igualmente (40% para cada) entre as doenças do sistema reprodutivo e as do sistema digestivo, com as intoxicações a aparecerem em terceiro lugar (10%)”.

Ao nível das estratégias implementadas para resolver as patologias de rebanho, a médica veterinária diz-nos que “fazemos formação a médicos veterinários e a produtores e reuniões dos médicos veterinários para definir as estratégias a seguir”.

Exemplo de casos concretos: surto de Sarna em 2013/2014, Controlo de Mamites em explorações intensivas de caprinos e casos recorrentes de Peeira. A propósito desta doença a AACB em parceria com a Associação de Agricultores do Sul (ACOS), a Universidade de Évora, o Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo (CEBAL), o INIAV e a DRAP Alentejo “está a participar no projeto GEN-RES Alentejo, para perceber o que se está a passar nas nossas explorações”, e saber se o agente infetante será o mesmo do agente vacinal e qual a sensibilidade dos animais à doença.

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“Trabalhamos também em parceria com a COPRAPEC e a Bovicare para o controlo do IBR e BVD”, refere.

A coordenadora do ADS adianta ainda que para a prevenção e controlo e das doenças é fundamental o uso das novas ferramentas informáticas de gestão, nomeadamente o R Planner – uma ferramenta informática que usam as brigadas veterinárias e que “permite o planeamento e alertas das ações profiláticas para evitar falhas dos prazos”.

Além disso, como já referimos a Associação faz também a gestão informática dos efetivos de pequenos ruminantes, através de outra ferramenta informática, destinada aos produtores, que permite ajudar “a determinar fatores produtivos e fazer registos oficiais obrigatórios, como o Livro de Medicamentos”.

Larvas e ‘setas’

Precisamente por acompanhar estes rebanhos em termos sanitários, mas também clínicos, Ana Rita e Hugo Palma também vão tratando e/ou deixando medicamentos ao moiral para tratar alguns problemas que vão detetando nos animais. Aparecem, por exemplo, problemas com larvas (de moscas) “que são muito habituais nesta altura do ano, embora as causas sejam diversas: este animal tem uma otite e a zona fica inflamada e húmida, o ambiente propício ao aparecimento de míases. Exatamente como aquela ovelha que tem a vagina inchada e cheia de larvas”.

Ana Rita Simões conta que “fazemos tratamento local com inseticida e sprays com antibiótico cicatrizante e deixamos medicamento ara o moiral colocar de dois em dois dias”, mas salienta que “os ovinos têm uma capacidade de cicatrização muito boa”. A médica veterinária refere que “os moirais apercebem-se destas situações porque, normalmente, os animais afastam-se dos outros e estão muito inquietos, porque estão a ser devorados vivos…”.

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José Moreno chama depois a atenção da médica para uma ovelha que tem uma ‘seta’ no olho (parte de uma espiga silvestre bem como nos campos nesta altura, daquela que também se agarram à roupa quando por ali andamos). Agarram-na e retiram a espiga que, “muitas vezes, também se alojam nas patas dos animais e provocam feridas a que os moirais têm de estar atentos porque causa desconforto, dor e inflamação ao animal e, mais uma vez, pode atrair moscas”.

Antes de seguirmos para o próximo produtor, já atrasados porque o trabalho aqui acabou por se prolongar, a equipa veterinária ainda trata as cabras do produtor, fazendo o mesmo tipo de trabalho que realizou com as ovelhas: desparasitação, vacinação, colheita de sangue e também colocação de um chip.

Produção complementar à atividade principal

Alguns quilómetros mais tarde, já em Panoias no concelho de Ourique, vamos acompanhar o tratamento das ovelhas Merino de Vasco da Silva. Um produtor que trabalha na mina da EPDM em Aljustrel e que tem ovelhas “por gosto”, conta-nos a mulher, Dália Félix, que trabalha do departamento de espaços verdes do município.

São 140 animais que em conjunto com a cortiça de alguns sobreiros e da lenha e carvão de azinho que produz são um completo aos empregos fixos do casal.

Ana Rita Simões explica à VETERINÁRIA ATUAL que “aqui, além dos mesmos procedimentos que fizemos na exploração anterior – desparasitação, vacinação, colheita de sangue e controlo da informação do chip – temos também de tratar alguns animais com sarna”, e adianta: “o produtor comprou animais que só depois percebeu que tinham sarna…”. Já foram alvo de tratamento e têm vindo a ser sujeitas a banhos com produtos indicados contra a sarna e “agora estamos a fazer um tratamento sistémico e temos de tratar todo o rebanho para que não aja a possibilidade de o agente ficar e ser fonte de nova contaminação”.

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Neste caso a colheita de sangue – aconselhada normalmente a machos, animais adquiridos, borregas de substituição e uma percentagem das fêmeas – é também feita a todos os animais “porque as fêmeas são menos de 50”.

Vasco da Silva é um produtor ‘mais tradicional’ que o anterior, talvez por ter também um efetivo mais pequeno e a produção pecuária ser um completo da sua atividade, pois diz-nos que “vendo os borregos, com cerca de quatro meses (25/30kg) ao distribuidor que pagar melhor e organizo os partos para ter sempre borregos nas alturas em que o preço está melhor: Páscoa e Natal”.

O produtor tem cerca de 40ha onde os animais pastam, semeia azevém e aveia para pastagens para os animais e também feno “para ter comida para lhes dar no inverno. E renovo as terras mais ou menos de dois em dois anos, para não estarem muito ‘envelhadas’, comos e diz por aqui”.

Começa período de refugo

Só agora nos lembramos de perguntar que análises vão ser feitas ao sangue colhido às ovelhas e Ana Rita Simões responde que “é para fazer despiste de Brucelose, não tem havido mas temos sempre de ir vigiando”. A AABC não tem laboratório próprio, com acontece por exemplo com a ACOS e a COPRAPEC (em Montemor-o-Novo), trabalhando com o Assisvet, que integra o Laboratório Veterinário do Litoral Alentejano (LVLA), em Santiago do Cacém.

Enquanto fazem o tratamento na manga de contenção (construída por Vasco da Silva), o produtor e a médica veterinária vão falando da idade de algumas das ovelhas que estão a atingir o final da sua vida ‘útil’. “A vida reprodutiva das ovelhas ronda os oito a nove anos, depois disso ou já não ficam prenhes ou têm dificuldade em ter leite para alimentar os borregos”, explica Hugo Palma. Por isso, nessa altura são vendidas para refugo.

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A coordenadora do ADS salienta que “Para terem direito aos prémios, os produtores têm de manter os animais na exploração entre 1 de janeiro e 30 de abril. Agora que terminou esse ‘período de retenção’ é quando decidem que animais vão vender para refugo” e Vasco da Silva acrescenta, sorrindo: “também é quando estão mais gordinhas, por isso valem mais”.

Além da sarna, a médica veterinária deteta também alguns casos de animais sem chip, por exemplo, e afirma que “muitas vezes os produtores quando compram animais fora não nos consultam e não verificam bem o efetivo que vão adquirir e, por vezes, surgem algumas situações irregulares”.

Jornada contínua

Já com a ‘barriga a dar horas’ saímos deste produtor, já depois das 13:30, e ainda vamos a um outro ali perto, que tem um efetivo muito pequeno, num curral. António Marques conta-nos que “vendo muito pouco, esses borreguitos é que são o meu lucro. É tudo muito caro, já gastei 1000£ em ração desde outubro do ano passado”, lamenta, acrescentando que “os animais andam em pasto semeados e compro também feno para os alimentar quando não há pasto. Não recebo subsídios nenhuns e não como quase nada daqui”.

Embora num ambiente bem diferente, muito mais ‘caseiro’, o procedimento levado a cabo pelos médicos veterinários é igual, sendo os animais desparasitados, vacinados e feita colheita de sangue.

Seguimos depois para a Associação, em Castro Verde, onde fazemos uma paragem rápida para deixar o material, nos lavarmos para retirar (algum) do pó e vamos então (por volta das 15:00) comer alguma coisa. “É quase sempre assim quando vamos para o campo, é quase impossível prever o tempo exato que vamos demorar”, reconhece a médica veterinária.

Já com o estômago mais aconchegado, Hugo Palma volta ao campo onde vai tratar alguns bovinos de um outro associado, enquanto Ana Rita Simões se dedica “à parte burocrática do trabalho”, no seu gabinete na Associação e vai falando mais um pouco connosco.

Língua azul é a próxima campanha

A médica veterinária diz que “estamos já a começar a marcar com os produtores para a vacinação contra a Língua Azul porque devemos estar a receber as primeiras doses da vacina. Tivemos campanha de 2005 a 2011, depois interrompemos porque a situação estava controlada mas no final de 2015 começaram de novo a surgir casos nos municípios aqui à volta: Moura, Serpa, Mértola e mesmo em Castro Verde e tivemos de voltar à vacinação”.

Nesta nova campanha, em vigor desde 2016, o Estado apertou os ‘cordões à bolsa’ e agora só fornece a vacina, o produtor tem de pagar a mão-de-obra.

Ana Rita Simões conta ainda que “a AACB criou uma farmácia veterinária, onde vendemos aos nossos produtores principalmente tratamentos para feridas, como sprays com antibiótico, desparasitantes para os borregos e tratamentos profiláticos”, mas, adianta, “também passamos receitas de alguns medicamentos específicos que sejam necessários”. No caso dos antibióticos, cujo controlo é cada vez maior, a coordenadora do ADS salienta que “a maioria são para problemas de cascos dos ovinos e vendemos também muitos antiparasitários externos, para carraças e míases (larvas)”.

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A responsável refere ainda que existem também já alguns associados que exportam animais para Israel, “temos nomeadamente o caso de um grande produtor, que acompanhamos de perto devido às grandes exigências que estes processos têm”. Esta exploração é a de Carlos e Hélder Alves (irmãos), de Garvão, Ourique, que têm um Centro de produção Ovina, com cerca de 1.700 ovelhas. “Têm próprias e compram, a outros produtores, ao desmame e engordam os borregos vendendo-os com cerca de seis/sete meses. Esta nesta altura a preparar cerca de 3.000 animais para serem enviados, em cargas que dependem muito dos barcos que se consegue, mas que rondas os 600 a mil animais de cada vez”.

Reprodução é ‘calcanhar de Aquiles’

Ana Rita Simões reconhece que uma das áreas que tem sido descurada é a do maneio reprodutivo. “Com o serviço de gestão do efetivo estamos a começar a implementar o registo de todos os animais e de tudo o que é feito. Sem registo não conseguimos perceber quais as práticas, os resultados e os problemas, e se os produtores precisam ou não se apoio”, diz.

Lembra também que um dos trabalhos que a equipa de técnicos do ADS e da Associação tem de fazer é o da identificação dos pequenos ruminantes. “Por causa dos prémios, os animais elegíveis têm de ter um ano a 1 de janeiro (e cumprir o período de retenção de que já falámos), têm assim de ser identificados todos os anos até setembro, pelo que temos seis a nove meses para os identificar e inserir no sistema e temos de ser nós a tratar disso: ligamos a todos os produtores, quer tenham 6.000 ou um animal, a marcar a identificação”, explica a responsável.

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Falando agora um pouco da produção de caprinos, a médica veterinária conta-nos que há, alguns produtores já com alguma dimensão que apostam na produção de leite e queijo, mais no concelho de Almodôvar, falando de dois exemplos: “um produtor que tem cerca de 1.100/1.200 cabras e tem uma queijaria própria, vendendo depois o queijo. E outro que tem cerca de 600 cabras e também transforma ele o leite na sua queijaria própria”. Refere ainda um outro produtor no concelho de Ourique que tem queijaria própria e recolhe o leite da maioria dos outros associados que possuem cabras.

Do porco alentejano para os ruminantes

Ana Rita Simões formou-se na Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa e estagiou depois com Rui Silva, no Litoral Alentejano. “A minha tendência foi sempre para os animais de produção porque o meu pai era agricultor”, conta, adiantando que “em 1999 os porcos começaram a adoecer na região e quando se percebeu que era Peste Suína Africana, tomaram-se medidas drásticas, abate de efetivos totais, etc., foi uma situação muito grave e dramática para a região, apesar de haver indemnizações, tendo sido delineado um programa de erradicação”. A médica veterinária explica que “logo a seguir, no ano 2000, entrei para a coordenação do ADS e da Associação, como coordenadora, mas também executora”, e frisa: “o facto de nunca ter deixado de andar no campo e de acompanhar rebanhos e produtores, ajudou muito nas minhas funções de coordenação e na criação dos diversos serviços que temos hoje, para os apoiar na sua atividade”, referindo por exemplo, a Farmácia veterinária, o Gabinete dedicado exclusivamente à identificação de pequenos ruminantes e a gestão do efetivo, entre outros. “Sempre valorizando a relação entre a nossa organização e os produtores”, salienta.

 

NOTA: Artigo publicado na edição de junho da VETERINÁRIA ATUAL, em que corrigimos algumas incorreções, pelas quais pedimos desculpa à Dr.ª Ana Rita Simões e aos leitores.

 

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