O vírus que está a causar a morte em massa de várias espécies de anfíbios em todo o mundo, nomeadamente na Serra da Estrela, teve origem no Sudoeste Asiático, de acordo com um artigo científico publicado na revista científica Science e que contou novamente com a participação do investigador português Gonçalo M. Rosa.
O fungo quitrídio-dos-anfíbios tem causado o declínio e a extinção de algumas espécies de anfíbios em todo o mundo nas últimas décadas desde o início do século XX e já tinha sido detetado na Serra da Estrela e noutros pontos da Península Ibérica.
De acordo com os investigadores, este fungo infecta a pele de rãs, sapos e outros anfíbios causando uma doença chamada quitridiomicose e que causa episódios de mortalidade em massa.
O estudo agora publicado, e que envolveu uma equipa internacional de mais de 50 investigadores de 38 instituições, nomeadamente o português Gonçalo M. Rosa, revela que esta linhagem do fungo terá emergido no Sudeste Asiático, em particular na península da Coreia.
“Esta é uma questão que tem estado no centro de acérrimos debates ao longo das últimas duas décadas, com sugestões em cima da mesa tão diversas como África do Sul, América do Norte e Sul ou mesmo Japão”, explica Gonçalo M. Rosa, investigador do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e do Instituto de Zoologia de Londres (Reino Unido).
No âmbito desta investigação, os cientistas sequenciaram o genoma de amostras deste fungo recolhidas em todo o mundo e combinaram estes dados com os resultados de outros estudos já publicados, num total de 234 amostras. As análises genéticas revelaram a existência de quatro principais linhagens deste fungo, três das quais distribuídas a nível global – e uma delas apenas existente na península da Coreia, em sapos nativos da região. Os resultados indicam que esta linhagem mais agressiva terá divergido do seu ancestral comum mais recente no início do século XX.
“Em vez de remontar a milhares de anos, como se pensava anteriormente, estimamos agora com maior robustez que a emergência tenha ocorrido entre 50 a 120 anos atrás”, acrescenta Matthew Fisher, professor no Imperial College London (Reino Unido), também envolvido no estudo.
Em Portugal, este fungo foi associado pela primeira vez a um episódio de mortalidade em 2009 na Serra da Estrela, onde desde então Gonçalo M. Rosa estabeleceu um estudo de monitorização. “As populações de sapo-parteiro foram as mais afetadas, principalmente nas zonas elevadas da Serra da Estrela onde, em alguns charcos e lagoas, os animais deixaram simplesmente de ser vistos ou ouvidos”, acrescenta o investigador nacional.