A Federação dos Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA) enviou uma carta ao Ministro da Agricultura e Pescas a manifestar uma “séria preocupação” sobre os “elevados prejuízos” que o setor pecuário da região está atualmente a sofrer devido à “progressão acelerada” de um novo serotipo do vírus da Febre Catarral Ovina, o Serotipo 3 – também conhecida como língua azul.
De acordo com o comunicado de imprensa, o vírus afeta essencialmente ovinos, embora também possa causar problemas nos bovinos e caprinos.
“Trata-se de uma doença transmitida por insetos, que se suspeita terem vindo do Norte de África arrastados pelo vento, trazendo consigo esta nova estirpe da Língua Azul que, por força das alterações climáticas, encontra condições para estabelecer-se na Europa e expandir-se cada vez mais para Norte”, lê-se na nota de imprensa.
A FAABA avançou que os primeiros focos conhecidos desta variante surgiram com grande intensidade no Alentejo Central e têm-se vindo a alastrar rapidamente aos territórios vizinhos.
“Atualmente, praticamente todo o Alentejo está confrontado com este problema”, alerta a Federação, explicando que se trata de uma doença de declaração obrigatória que, quando confirmada na exploração, implica um impedimento da movimentação animal durante 60 dias, “o que se revela muito penalizador do ponto de vista económico”.
A FAABA explica ainda que, provavelmente por esta razão, “é notória uma clara subnotificação da doença, constatando-se que o número real de rebanhos afetados está muito longe de corresponder ao número de casos comunicados aos Serviços Veterinários Oficiais”.
Neste sentido, a Federação enfatiza que as organizações de produtores constatam que “a situação é, na realidade, muito grave”.
A Federação dos Agricultores do Alentejo salienta também que os prejuízos causados à produção são “muito consideráveis” e decorrem da significativa mortalidade de ovinos, cuja taxa aumentou mais de 50% face a período homólogo do ano passado, mas também do número elevado de animais doentes que deixam de produzir, dos abortos e dos custos elevados com os tratamentos médico-veterinários que têm de ser administrados a estes animais.
A FAABA salienta igualmente que a vacina recentemente disponibilizada “é muito cara” e os custos de aquisição e de aplicação estão a ser suportados integralmente pelos produtores, “ao contrário do que acontece em outros países comunitários como, por exemplo, em França e Espanha, onde o Estado suporta na íntegra a aquisição da referida vacina”.
“Em Portugal, e apesar da gravidade da situação, o governo não manifestou, até ao momento, qualquer intenção de apoiar a produção a suportar estes prejuízos e custos acrescidos”, referiram os responsáveis da Federação.
E apelam: “tendo em conta a relevância da ovinicultura na estruturação e na economia dos territórios, nomeadamente nas zonas do interior, mais frágeis do ponto de vista social e económico, e o potencial destrutivo desta nova crise sanitária, parece-nos de elementar justiça, esperar, com brevidade, por parte da nossa Administração, igual tratamento ao dos nossos colegas espanhóis e franceses”.