Com apresentações detalhadas por parte dos mais de vinte oradores, o evento assentou em quatro grandes temas: envelhecimento humano e animal; o declínio da eficácia do sistema imunitário com a idade; a duração da imunidade; e as consequências práticas do envelhecimento nas estratégias e políticas de vacinação. Segundo Pedro Fabrica, da Merial Portugal, a realização deste simpósio permitiu «ter uma visão global da complexidade do tema da vacinação, complexidade esta que é transversal à medicina humana e à medicina veterinária».
A abrir o simpósio esteve Jean-Christophe Thibault da Merial, e Paul-Pierre Pastoret da Organização Mundial de Saúde Animal, que lançaram as bases para o primeiro orador: S. Jay Olshansky, da Universidade de Illinois, Chicago, Estados Unidos da América (EUA), que revelou que se fosse possível “construir” um ser humano para durar mais de 100 anos, onde as “falhas físicas” estariam resolvidas, teríamos um homem mais baixo, mais entroncado, com orelhas maiores, e com uma articulação reversível no joelho, entre outras características. Também oriundo dos EUA, Steve Austad, da Universidade do Texas, revelou que a observação de alguns animais pode ajudar a perceber a longevidade. E é exemplo disso o facto de, por exemplo, existirem pequenos pássaros que vivem 10 vezes mais que ratos do mesmo tamanho, mesmo tendo um ritmo metabólico bastante mais rápido.
O envelhecimento do sistema imunitário
No segundo dia, a sessão da manhã foi dedicada ao declínio da eficácia do sistema imunitário decorrente do envelhecimento. Entre os oradores esteve Michael Day, da Universidade de Bristol, Reino Unido, que revelou que as preocupações com animais envelhecidos não existiam há alguns anos, isto porque os melhoramentos nos cuidados veterinários permitem que agora seja possível existirem mais animais com idades avançadas.
Durante a tarde teve início a secção dedicada à duração da imunidade. Aqui, destaque para um dos mais reconhecidos investigadores a nível mundial: Ronald Schultz, da Universidade do Wisconsin, EUA, que afirmou que as importantes infecções virais não são uma grande ameaça a cães e gatos geriátricos. No entanto, a imunidade a bactérias fica comprometida com o passar dos tempos, podendo ser uma causa comum de morte associada ao envelhecimento. Já Richard Aspinall, da Universidade de Cranfield, Reino Unido, afirmou que a eficácia de algumas vacinas, como a contra a hepatite B, é comprometida pela idade do indivíduo. O especialista referiu que um idoso tem mil vezes mais possibilidades que uma criança de morrer de uma doença para a qual existe uma vacina. E se ao longo dos anos o nosso sistema imunitário vai combatendo diversas ameaças, e “aprendendo” a fazer face a elas, a ideia seria que com a idade se tornasse melhor. Mas acontece o contrário, pelo que a solução, sugere o responsável, passa por melhorar a resposta do sistema imunitário em vez de reformular as vacinas.
Segundo Pedro Fabrica, e em relação à duração da imunidade e tomando o exemplo da espécie canina, «os cães que sobrevivem à doença por esgana e parvovirose, possuem uma imunidade duradoura». A partir desta base, os «cães vacinados no primeiro ano de vida, poderão dispensar vacinações posteriores contra as referidas doenças, para o resto da vida, tornando desnecessários os reforços vacinais, tal como ocorre nos Humanos». No entanto, a duração da imunidade poderá ser posta em causa por outros factores, como «o número de animais vacinados de uma dada espécie, possibilitando uma “imunidade de rebanho” ou não; a pressão epidemiológica da doença, comparada com o risco de população livre de doença e não vacinada; ou, no caso da população canina, o factor racial, que influencia claramente a resposta imunitária humoral, e que poderá ditar diferentes respostas à mesma vacinação».
A quarta, e última, sessão foi dedicada às consequências práticas do envelhecimento nas estratégias e políticas de vacinação. Destaque aqui para Marian Horzinek, actualmente na Universidade de Utrecht, Holanda. Sobressai a sua defesa dos gatos enquanto «o animal de estimação do século», em grande parte devido ao cada vez menor espaço disponível nas grandes cidades, onde os felinos aparentam ser as companhias ideais. O especialista alertou também para a “vacinofobia” que, desde o século XVIII, «pode colocar em causa a melhor das intenções». Isto porque, também potenciado pela Internet, existe uma corrente que defende, erradamente, que as vacinas não são necessárias, e são até a causa de diversas doenças. E deixa um conselho para os veterinários presentes: «tentem vacinar todos os animais que encontrem».
Entre a comitiva portuguesa a impressão geral era bastante positiva. Serviu, como confessaram, para voltar às bases do conhecimento, algo a que a prática do dia-a-dia é, por vezes, adversa. Segundo Pedro Fabrica, em jeito de conclusão, «é muito importante que o médico veterinário tenha cada vez mais conhecimentos em vacinologia, possibilitando uma clara partilha com o proprietário do animal de estimação ou de produção, cada vez mais informado e por vezes “contra-informado”». Isto para que opte «por protocolos de vacinação cada vez mais personalizados e adaptados ao indivíduo ou grupo, contrariando a tendência cómoda de um único protocolo para todos os animais».
Nota: a Veterinária Actual viajou a convite da Merial Portugal.