Na passada segunda-feira, dia 14 de outubro, o DNAtech, o primeiro laboratório português exclusivamente dedicado à área da veterinária, organizou o Workshop de Hematologia Veterinária, apresentado por Josep Pastor, codiretor do serviço de Hematologia Clínica e professor do Departamento de Medicina e Cirurgia Animal da Universidade Autónoma de Barcelona.
A iniciativa serviu para assinalar os 15 anos do laboratório, que foi criado a partir de uma startup do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação. Atualmente, conta com instalações em Lisboa, Porto e Algarve, apoiados por uma equipa de 50 profissionais. O workshop vai agora rumar em direção ao Porto, no dia 28 de outubro, no Sheraton Porto Hotel & Spa, pelas 19 horas.
A VETERINÁRIA ATUAL falou com o especialista em oncologia e patologia clínica, reconhecido pela Associação de Veterinários Espanhóis Especialistas em Pequenos Animais, e diplomado do Colégio Europeu de Patologia Clínica sobre este evento.
Qual é a situação atual destas patologias? Têm crescido em termos de casuística?
Depende da área geográfica. Sei que neste momento a casuística está a mudar. Embora varie muito de acordo com a área geográfica, em Barcelona, onde estou diariamente, as patologias infeciosas estão a diminuir. Por outro lado, estamos a ser muito mais eficazes com as patologias do tipo imunomediado. Atualmente é muito mais fácil diagnosticá-las do que no passado, em que não as víamos.
Porque é que isto acontece? Possivelmente porque estamos a controlar mais as patologias infeciosas transmitidas por vetores.
Que novos parâmetros estão então a ser aplicados na hematologia veterinária?
Um dos parâmetros inovadores mais importantes, e que o veterinário se deve adaptar a interpretar, é a hemoglobina reticulocitária. Permite detetar se há deficiência em ferro. Este parâmetro, nalguns casos, pode conter informação sobre a recuperação de um animal e sobre a rapidez dessa mesma recuperação. Também permite a deteção precoce da deficiência em ferro, o que facilita a prevenção terapêutica. Animais com esta carência dificilmente vão recuperar se não incluímos ferro. Por isso acredito que é um dos parâmetros hematológicos mais importantes.
Outra ferramenta relevante é a citometria de fluxo, com a identificação mais precisa das diferentes linhas celulares. Acredito que são estas metodologias que atualmente estão a ter mais impacto na hematologia veterinária.
Entre os casos que apresenta, há algum que gostasse de destacar e porquê?
Essa é uma pergunta muito difícil! Todos os casos são casos interessantes. Os que terminam bem são os melhores! Provavelmente o mais inovador é a identificação dos linfomas indolentes, ou de baixo grau, com origem a nível esplénico, que se caracterizam, na grande maioria, por apresentar uma linfocitose periférica.
Quando fazemos marcadores a estes animais vemos que têm um fenótipo característico, normalmente CD45 negativo e dupla ou tripla marcação. Quando fazemos uma esplenectomia, este animal pode passar dois ou três anos sem desenvolver uma forma maligna de linfoma, o que é quase como que “curativo”.
A realidade atual é muito diferente. Onde antes víamos um baço grande associado a uma linfocitose periférica e dizíamos “linfoma 5, sem possibilidades de sobreviver”, agora encontramos animais que podem viver dois a três anos. Em Barcelona, como somos centro de referência em citometria de fluxo, vemos muitos cães com casos destes.