«As alterações climáticas terão efeitos directos e indirectos na saúde das pessoas. Directos, com os desastres naturais, as inundações e secas, mas também indirectos, com as doenças», lembrou a médica espanhola Maria Neira, directora do Departamento de Saúde Pública e Ambiente da OMS.
Por sua vez, o especialista da OMS Diarmid Campbell-Lendrum salientou que, entre meados dos anos 1970 e o ano 2000, as alterações climáticas foram responsáveis «por cerca de 150 mil mortos suplementares por ano».
Segundo as estimativas, «este número deverá aumentar, ainda que apenas estejamos a levar em conta uma parte das causas (de mortos devido às alterações climáticas. Estamos a falar de uma ponta do iceberg», alertou Campbell-Lendrum.
«A este ritmo», o número de mortos causados, de forma directa, pelas alterações climáticas, vai contar-se em milhões, «dentro de 20 anos», considerou.
O paludismo, que faz um milhão de mortos por ano, é uma das grandes preocupações da OMS: «já temos um grande problema com o paludismo e as alterações climáticas vão torná-lo ainda maior. A temperatura influencia a sobrevivência dos mosquitos e parasitas. Quanto mais calor, maior a taxa de infecção», explicou Campbell-Lendrum.
As doenças diarreicas provocadas por bactérias que infectam a água ou os alimentos e a subnutrição, que, segundo aquele especialista, «matam 3,5 milhões de pessoas por ano» são outra fonte de preocupação.
«Um dos maiores problemas é a subnutrição. Com as alterações climáticas, a produção alimentar deverá aumentar ligeiramente nos países ricos mas deverá baixar nos países próximo do Equador, onde as necessidades são maiores», lamentou.
As ameaças ambientais e as estratégias de prevenção de doenças são os temas principais do encontro, organizado pela OMS e pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), que começou no dia 26 de Agosto e termina hoje no continente africano.
As doenças provocadas por alterações e ameaças ambientais são responsáveis por milhares de mortes em África. Só em 2002, de acordo com a OMS, factores como a água não potável, poluição, saneamento básico, eliminação de resíduos insuficiente, prevenção deficiente e exposição a substâncias químicas estiveram associados à morte de cerca de 2.4 milhões de pessoas.
OMS alerta que alterações climáticas podem matar milhões nas próximas duas décadas
As alterações climáticas podem causar a morte a milhões de pessoas nos próximos 20 anos devido aos seus efeitos no agravamento da má nutrição e várias doenças, alertaram ontem especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) numa conferência interministerial sobre Saúde e Ambiente, em Libreville, Gabão.