A notícia é avançada pelo “Público” que destaca a cada vez maior dificuldade em captar médicos espanhóis para um número considerável dos quadros das unidades de saúde nas zonas fronteiriças de Norte a Sul do país, desde 2006.
O fluxo de médicos galegos, extremenhos, andaluzes e de outras regiões espanholas «está praticamente parado», confirma Carlos Lopez Salgado, vice-presidente de Profissionais de Saúde Espanhóis em Portugal (APSEP). «Agora, os espanhóis estão a procurar oportunidades de trabalho na sua região de origem», conta.
De facto, em 2007, entre 800 a mil médicos espanhóis exerciam a sua actividade no Norte de Portugal, sobretudo nos centros de saúde, elucida o segundo maior responsável da APSEP. Cinco anos antes, existiam três mil, sendo que, actualmente, a estimativa (não há dados oficiais) aponta para menos de dois mil médicos espanhóis no Norte do país.
A região alentejana é também uma das mais afectadas. Chegaram a trabalhar cerca de 400 médicos provenientes da Estremadura espanhola. Hoje o número deve rondar os 100 a 150 profissionais. Os restantes distribuem-se pela região centro, Algarve e zonas litorais. Segundo Lopes Salgado, a grande maioria, cerca de 80%, são médicos e o resto enfermeiros.
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Nunes, reconhece as carências de médicos de família vindos de Espanha, sentidas sobretudo nas regiões interiores.
O Norte é a região mais afectada. Pedro Nunes salienta o elevado número de médicos galegos nas unidades de saúde de Chaves, Montalegre, Boticas, Miranda do Douro, onde «cerca de metade dos quadros eram espanhóis». O mesmo acontece com o hospital de Faro que se encontra bastante «dependente de profissionais» vindos da região de Huelva.
O presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve (ARSA), Rui Lourenço, revela, a propósito deste assunto, que o Hospital do Barlavento Algarvio contratou especialistas que «voltaram à Andaluzia depois de arranjarem colocação melhor».
Bastonário garante que dificuldades serão ultrapassadas dentro de quatro anos
Este cenário de carência de profissionais de saúde não intimida Pedro Nunes que afirma que a situação «não é grave». Para o bastonário, as dificuldades serão superadas dentro de três a quatro anos, isto porque, nessa altura, os lugares até agora ocupados por médicos espanhóis serão preenchidos pelos cerca de 1400 novos licenciados portugueses.
Além disso, Pedro Nunes relembra que o fluxo migratório de clínicos espanhóis foi sempre instável. Dos cerca de 1500 que, em média, todos os anos e durante mais de uma década chegavam a Portugal, 90% regressavam ao seu pais de origem depois de tirar a especialidade.
Com uma perspectiva diferente, o dirigente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) manifesta a sua preocupação pelo que está para vir nos próximos anos, antevendo que possam ser «bastante cinzentos» se se tiverem em conta os dados do SIM, divulgados há dois meses e que apontam para o abandono do Serviço Nacional de Saúde (SNS) por 800 médicos entre 2006 e 2007.
No entanto, também admite que o quadro de médicos do país pode ser suficiente para atenuar os efeitos mais graves do acesso dos cidadãos aos cuidados primários de saúde.
Contudo, para que tal aconteça, é necessário que os efectivos «sejam racionalmente distribuídos» e enquadrados em função das necessidades existentes.