Foi convidado como orador do evento Portugal Mexe para falar sobre a evolução do Hospital Veterinário Montenegro e todo o negócio à sua volta. Como correu a apresentação?
Tentei transmitir a realidade do projeto, que tem muita ambição, mas ao mesmo tempo é comedido na apresentação dos resultados. Queremos deixar uma marca e é importante dar tempo ao amadurecimento. Temos de aproveitar todas as oportunidades, mesmo que algumas não tragam benefício económico direto, mas que ajudem a potencializar a marca. De alguma forma o retorno acaba por surgir, desde que façamos o nosso trabalho com entrega e sempre com um sentido positivo de privilegiar a classe e a nossa causa, que é proporcionar o bem-estar animal.
Falar das pessoas mais novas, que abrem os seus negócios e querem resultados imediatos. Como foi a sua experiência quando abriu o Hospital Veterinário Montenegro?
Abri o Hospital Veterinário Montenegro em 1999 com uma equipa de três pessoas, mas já na altura o lema estava bem definido: queríamos fazer um serviço de excelência na prestação de cuidados de saúde aos animais de companhia. Era uma equipa muito motivada, que na altura não contava as horas que trabalhava por semana e que deu tempo a que o projeto pudesse amadurecer. Esse tempo possibilitou-nos abraçar projetos que não tinham um objetivo económico imediato, mas que pessoalmente tinha consciência que poderiam contribuir para criar o branding da marca. E mais tarde isso acaba por dar os seus resultados.
Abriu o hospital com capitais próprios?
Sim e foi uma das vantagens do nosso projeto. Claro que contamos com a banca e com facilidades de fornecedores, mas nunca tivemos isso como sendo o promotor de todo o projeto, até porque se for assim vai exercer muita pressão para atingir objectivos. Como não tínhamos compromissos financeiros muito apertados, também nos deu mais tempo e margem para consolidar o projeto.
Pensavam os três dessa maneira?
Sim, eu era o único obreiro, porque as outras duas pessoas entraram como colaboradores. Tive de assumir essa responsabilidade, dar o exemplo e motivar as pessoas para o projeto, para que tivesse uma curva de crescimento que até agora tem sido positiva.
Mas é necessária maturidade a nível pessoal para conseguir levar um projeto dessa forma, ou seja, não desesperar quando os resultados não aparecem. Como o conseguiu?
Atualmente, as expectativas que se criam para a rentabilidade são muito exigentes num curto espaço de tempo e isso não nos favorece a ter o crescimento sustentado de uma empresa. Queremos resultados imediatos e esses levam a stresse, a fazer erros grosseiros que nos vão afastar dos parceiros e vão levar à incompreensão dos proprietários. Acredito que nesta área os projetos têm de ter tempo para a sua maturidade, a pressão financeira não pode ser muito elevada porque podemos entrar em desalinho e colocar em risco o projeto.
Abriu o Hospital, depois veio o Congresso e todas as áreas que gravitam à volta do Hospital ajudam a promover a marca?
Sim, sem dúvida que a espinha dorsal é o Hospital. Mas por uma questão de gosto pessoal e de querer fazer com que a nossa causa ganhe mais relevância na sociedade, todos os projetos que se possam relacionar – como a ação escolas – são abraçados com muita intensidade. O resultado é que essa entrega, sem pensar num retorno económico, acaba por a seu tempo nos trazer maior branding de marca e dessa forma resultados positivos. Mas para pensar assim não pode haver pressão financeira, temos de possibilitar que haja um amadurecimento desse crescimento. Não podemos montar um negócio nesta área e esperar que ao fim de um ano tenhamos resultados fantásticos.
No seu caso, os resultados foram aparecendo ao longo dos anos?
Sim, foram aparecendo naturalmente e muito fruto de todos esses ramos que acabámos por desenvolver a partir da espinha dorsal do Hospital, muitos deles com prejuízos económicos, mas acabaram sempre por ajudar a que o nosso business core fosse aumentando em consequência do branding de marca que esses projetos paralelos foram adicionando valor à marca.
Esses projetos que deram prejuízo foram abandonados ou melhorados?
Nenhum desses projetos paralelos é verdadeiramente rentável, mas enho de os ver como uma forma de satisfação pessoal. Dá-me muita satisfação realizar o congresso, convidar os colegas a participar nele, ficar a conhecer oradores de renome, o projeto ação escolas, fazer os livros, são marcas que acredito que vou deixar. Mas tenho consciência que esses projetos, que não são rentáveis, potencializam o core business possibilitando maior capacidade de divulgação da nossa estrutura, dando como retorno mais colegas que nos referenciam casos, mais capacidade de implantação no mercado. O que tento fazer, em tudo o que sai da clínica, é tentar promover o bem-estar animal e a classe veterinária. Quando divulgamos uma necessidade em relação ao animal tentamos fazê-lo de uma forma abrangente, que traga benefício a toda a classe, não falando em nome próprio, mas em nome da veterinária, pois dessa forma os próprios colegas vão apreciar e todos vamos beneficiar com uma maior maturidade, com maior capacidade de discernimento por parte da sociedade em relação ao animal.
Há pouca promoção da profissão do médico veterinário junto da sociedade?
Temos de todos fazer um grande esforço, pois a veterinária não faz parte do rol de profissões que classicamente sejam muito importantes para a sociedade. Cabe-nos a todos, e aqui também destaco o papel da Ordem dos Médicos Veterinários, conquistar esse espaço na sociedade. E quando faço essa promoção, tento fazê-lo em nome da veterinária, e não em nome do próprio Hospital.
Nota: Ler a entrevista na íntegra na edição de Janeiro da revista VETERINÁRIA ATUAL