As mulheres enfrentam discriminação e ocupam menos cargos de topo na medicina veterinária. Esta é a principal conclusão de um estudo realizado pela Lancaster University Management School e pela Open University Business School, no Reino Unido, que acaba de ser publicado na revista científica Veterinary Record.
O estudo, que realizou entrevistas a 75 médicos veterinários de ambos os géneros que exercem no Reino Unido, mostra que a discriminação é, sobretudo, um problema junto dos clientes, apesar dos gestores dos CAMV não o reconhecerem.
Os autores do estudo explicam que, apesar de as questões das entrevistas não se terem focado nos problemas relacionados com o género, os entrevistados abordaram o tema frequentemente, mostrando que existe uma perceção de que as médicas veterinárias (género feminino) são mais limitadas intelectualmente e fisicamente e são vistas como subordinadas de profissionais do género masculino na profissão.
Além disso, os entrevistados confessaram que os clientes são, em alguns casos, “explicitamente sexistas”, insistindo, por vezes, que os seus animais sejam tratados por médicos veterinários do género masculino.
David Knights, um dos autores do estudo, sublinha que “na superfície, pode parecer que a tendência de existirem menos mulheres em lugares de topo da hierarquia tem que ver com o sacrifício da carreira pela família. Mas é bastante mais complicado. Muitas das mulheres com quem falámos, especialmente aquelas em início de carreira, reportaram experiências com clientes – ou mesmo com os seus pares – em que foram tratadas como se tivessem competências limitadas e menos credibilidade”.
Daniella dos Santos, vice-presidente júnior da British Veterinary Association (BVA) já veio dizer que estes resultados coincidem com os alcançados num estudo recentemente realizado pela associação e mostram que “a discriminação de género é um problema latente na medicina veterinária”.
Recorde-se que, no início deste ano, a BVA lançou também um inquérito para recolher as experiências de discriminação dentro da profissão depois de, em dezembro de 2018, um médico veterinário escocês ter recebido uma carta racista.
Apenas 3% dos profissionais de medicina veterinária do Reino Unido se identificam como pertencentes a uma minoria étnica e as denúncias de casos de discriminação na profissão têm vindo a aumentar.
Daniella Dos Santos disse na altura que “a profissão veterinária deveria ser aberta e apoiar toda a gente. Contudo, fica bastante claro nos relatos que estamos a receber que a discriminação ainda é um problema. Pior, estamos conscientes de que alguns colegas sofrem retaliações quando falam das suas experiências de discriminação. Isto é totalmente inaceitável”.