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Estimar os exóticos

Estimar os exóticos

Na porta, o símbolo de proibida a entrada a cães e gatos denuncia-os. Centro veterinário, é certo, dedicado a animais de companhia, sim, mas ligeiramente diferente. Aqui, quem manda são mesmo os animais exóticos. Por isso, na sala de espera, em vez de um qualquer dálmata ou gato siamês, podemos dar de caras com coelhos, porquinhos-da-índia, pombos de estimação ou tartarugas. Mas pode muito bem haver ainda uma serpente, um canguru ou uma avestruz. É mais raro, mas acontece. O Centro Veterinário de Exóticos do Porto está preparado para acolher todos estes animais.

O Hugo, um papagaio verde, tem um traumatismo craniano. Ao seu lado, a tartaruga Zacarias luta contra um abcesso timpânico, enquanto o Bogart, um pombo de estimação, debate-se com uma fractura da tíbio-társica. Mas há mais em convalescença. Os coelhos York, Angorá e Calimero, o porquinho-da-índia Tom ou o Chiquito, um papagaio cinzento. No Centro Veterinário de Exóticos do Porto, que abriu as portas em Março deste ano, estes são os pacientes mais habituais.

Joel Ferraz juntou o útil ao agradável. Uniu a sua paixão pela veterinária e pelos animais exóticos a uma oportunidade de negócio. No seu entender, já se justificava um espaço no Porto exclusivamente dedicada a este tipo de animais. Foi assim que nasceu o Centro Veterinário de Exóticos do Porto que, para além servir os seus próprios pacientes, pretende funcionar como apoio a outros centros veterinários. Isto porque está dotado de todo o tipo de equipamento e condições de hospitalização específicas para estes animais que podem ser úteis a outros profissionais. «Depois de alguns anos nesta área comecei a aperceber-me de que este nicho de mercado precisa acompanhamento. Há clínicas que dão suporte a animais exóticos, mas muitas vezes não têm as condições ideais. Esta foi construída a pensar nas necessidades desses mesmos animais. Aqui, vamos poder prestar-lhes os melhores serviços, nomeadamente em termos de cuidados intensivos e internamento».

 

Cada animal exótico possui características específicas que exigem um conhecimento profundo sobre a sua biologia, regras de maneio, nutrição, fisiologia, patologia e tratamento. Por isso, Joel Ferraz alerta para a necessidade das consultas de aconselhamento, check-up regulares e tratamentos preventivos, como a vacinação ou desparatisação. Até porque estas espécies têm o dom de disfarçar a doença, só a manifestando quando está já avançada. Daí também a importância de estar atento a qualquer alteração notada no comportamento ou na atitude do animal.
O centro tem 100 metros quadrados e tem disponíveis vários serviços, como a cirurgia, raios X e ecografia, salas de internamento e, obviamente, salas de consulta.

O grande desafio que Joel Ferraz destaca para quem quer abraçar esta área da veterinária é mesmo a formação. Na área dos exóticos é difícil obter formação sendo muitas vezes preciso recorrer ao estrangeiro. Licenciado em 2002 pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, Joel Ferraz realizou estágio curricular na área de clínica de animais exóticos e animais de companhia no Algarve e na Universitat Autònoma de Barcelona. A experiência é fundamental, sendo que o director do Centro Veterinário de Exóticos do Porto exerce a sua actividade profissional na área da clínica de animais exóticos de companhia desde 2002, tendo-se também dedicado às patologias e conservação da fauna selvagem. «É complicado. Só agora é que já começa a haver em Portugal alguma formação nesta área, mas é sempre extra-curricular. Também por isso é que tento estar presente no maior número de workshops possíveis».

 

É que se, por exemplo, no caso dos coelhos, dos papagaios ou das tartarugas já vai havendo bastante causística, nos outros animais já é mais complicado. «O ideal seria tirar um curso por cada animal. Mas também por isso é que a clínica do exótico é tão fascinante», vaticinou Joel Ferraz.

Curiosamente, Joel Ferraz diz não haver um cliente tipo para o animal exótico. «Para a serpente até admito que haja, mas de resto não. Aliás, conheço muita gente que consegue criar cumplicidade com animais que, em princípio, seria complicado, como por exemplo um réptil».

 

O grande constrangimento de tudo isto continua a ser o preço. Segundo o director do Centro Veterinário de Exóticos do Porto, as pessoas até já podem estar mentalizadas que um cão ou um gato precisam de cuidados e que são alvo de despesa. Mas num exótico ainda é complicado. «Apesar de tudo, acredito que esta mentalidade está a mudar. Cada vez mais as pessoas se preocupam com o bem-estar animal. Com a qualidade de vida dele. Aliás, agora muitas vezes o que acontece é que as pessoas até têm vergonha em dizer que o seu animal não é bem tratado. Mas admito que o preço ainda é um factor que impede as pessoas de levarem os animais ao veterinário», contou Joel Ferraz.

O director diz que numa arara, que pode custar qualquer coisa como 10 mil euros, o dono até estará disponível para pagar 100 ou 200 euros no veterinário, mas se estivermos a falar num animal de «baixo valor económico» o caso já muda de figura.

 

Mas que doença, por exemplo, pode ter mais frequentemente um coelho? A disenteria é uma delas. São ocasionadas por diversas causas e muitas vezes aparecem nos coelhos durante a época do desmame. Em geral, as disenterias são produzidas pelos alimentos fermentados ou sujos ou pelo excesso da forragem verde de alimentação. Também são causas da disenteria as intoxicações alimentares, parasitas intestinais, os alojamentos húmidos ou o calor intenso. Além disso, a disenteria é um sintoma comum a diversas doenças, sendo mais ou menos grave, conforme as causas que a provocaram.

A coriza é outra doença comum. Esta enfermidade manifesta-se em geral por uma abundante secreção da mucosa do nariz, acompanhada de espirros contínuos, podendo, conforme o caso, ser benigna ou infecciosa. O aparecimento da coriza entre os coelhos é motivada não só pelas mudanças bruscas de temperatura, chuvas contínuas, ventos e humidade, como também pela poeira, alimentação deficiente e falta de higiene.

O grande objectivo de Joel Ferraz, neste momento, é divulgar os serviços que o centro presta e consolidar a actividade do centro. Mas, mais tarde, a grande meta a atingir é a especialização dentro da especialização. Ou seja, dentro dos animais exóticos, Joel Ferraz gostaria de especializar os colaboradores. «O ideal seria segmentar a clínica do exótico».

E será que o dono de um animal de estimação “tradicional”, como um cão, entende o porquê de optar, por exemplo, por um coelho? Muitas vezes não. «Já ouvi, por exemplo, o dono de um cão dizer a uma pessoa que esperava consulta para um coelho que ele ficava bem era na panela».

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