Na abertura do 18º Encontro Anual de European Childhood Obesity Group, que decorreu ontem na cidade do Porto, o pediatra norte-americano Bernard Gutin abriu os trabalhos defendendo que «a chave para a prevenção da obesidade infantil é a actividade física vigorosa, não a restrição da ingestão de energia». Carla Rego pediatra e investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, reiterou a mesma posição: «não é preciso fazer dietas, aliás não é recomendado em idade pediátrica fazer dieta», sublinhou.
A especialista defendeu que o ideal será comer de tudo de forma saudável, «uma restrição alimentar implica necessariamente desequilíbrio emocional e, sendo assim, nunca deve ser feito na vida dieta, muito menos em idade de crescimento», defendeu.
O Bernard Gutin defendeu antes o exercício físico «vigoroso», ou seja, «um desporto que implique corrida ou saltos», sendo que este exercício «deve durar pelo menos uma hora por dia», disse.
O especialista sublinhou ainda a necessidade de alterar hábitos alimentares e apontou como exemplo a substituição de bebidas com gás por leite «às refeições». «As mesmas 200 calorias do leite são mais benéficas, porque têm cálcio», exemplificou.
Noutro âmbito, Margaritha Caroli, outra especialista, defendeu a implementação das brincadeiras de rua e passeios ao ar livre em substituição de horas passadas em frente à televisão ou com jogos de consola.
Cenário negro para Portugal
Em Portugal, a obesidade pediátrica está a aumentar, e em menores cada vez mais novos. Em declarações ao “Diário de Noticias”, Carla Rego salientou que «acresce que uma criança que atinja os cinco/ seis anos com sobrepeso tem 50% de hipóteses de se tornar num adulto obeso. A partir dos 11 anos, é quase impossível reverter o processo: as hipóteses rondam os 80%».
Sobre a doença crónica que reúne especialistas internacionais, a investigadora considerou assustadoras as taxas de obesidade infantil, que afectam as crianças em termos fisiológicos, psicológicos e sociais. Trata-se de patologias diversas, como a diabetes, hipertensão, dislipidemia, problemas cardiovasculares, alteração das gorduras do sangue e mesmo determinados tipos de cancro».
A massa corporal excessiva, precisou Carla Rego, «faz com que a criança e o adolescente tendam a não gostar da sua imagem, isolando-se depois». As implicações desta falta de auto-estima levam a dificuldades de inserção nos grupos, ao baixo rendimento escolar, a depressões e, até, ao suicídio.
Dados recentes indicam que daqui a 20 anos «poderemos ter filhos a morrer antes dos pais», ou seja, sublinhou Carla Rego, «estamos a antecipar para a idade pediátrica, dos zero aos 18 anos, as doenças inerentes à velhice».
Sabe-se, ainda, que uma mãe obesa tende a ter filhos obesos, que vêm a ser adultos obesos, pelo que se torna vital saber como quebrar este ciclo vicioso. A presidente deste encontro médico precisa que, «até ao sexto mês do bebé, a alimentação deve ser, em exclusivo, o leite materno»..
A abordagem terapêutica é incompatível com o ministrar de fármacos, impondo-se a mudança de comportamentos. Ainda que existam crianças com propensão para a acumulação de gorduras, devido a factores genéticos, a verdade é que o sedentarismo e a abundância de alimentos calóricos contribuem para o progredir da doença.