A rede de cuidados continuados para idosos, as 135 Unidades de Saúde Familiares, os 200 mil novos doentes com médicos de família, a redução das esperas cirúrgicas – «quando no caso do cancro são 42 dias de espera e em 2002 eram quatro meses» -, são factores que o ex-ministro da Saúde destaca como tendo sido enormes sucessos, em entrevista ao “Diário Económico”.
«A Saúde está na mesma linha de orientação. Houve uma mudança de protagonista. Uma das razões – a principal, talvez até a exclusiva – pela qual saí do Governo foi porque politicamente não tinha espaço», defende, sem querer comentar a prestação de «sucessores ou antecessores». «A minha saída deveu-se ao facto de eu ter entendido, juntamente com o primeiro-ministro, que não havia condições políticas para continuar, dada a criação de uma aura de rigor e dureza que naturalmente não correspondia à realidade», disse, considerando que a sua imagem pública estava «muito colada a medidas tidas como desagradáveis», embora não fossem «atentatórias de ninguém».
No Governo, diz ter feito aquilo que tinha de fazer e que «consegui fazer com o apoio integral do primeiro-ministro e das Finanças», considerando que foi mais longe do que pensava: «pensava estar metade do mandato, tomar as medidas difíceis e depois… Fui mais longe, estive quase três anos».. Não obstante, conta que sentiu um «alívio biológico, físico e mental enorme» quando saiu do Governo, mas não isento de surpresa, pois «esperava que os ataques violentos continuassem, isso cessou passados poucos dias. As crianças continuam a nascer nas ambulâncias mas não vê notícias nos jornais». Não quis responder se a sua saída se terá tratado de uma campanha, dizendo que «não me levam a essa conclusão, se é o que pretendem. Em primeiro lugar, tem a ver com a minha personalidade e de eu não ter sido capaz de explicar isso. Assumo totalmente. Mas a grande surpresa está em que esperava ser atacado publicamente, mas ao fim do terceiro dia comecei a ser quase entronizado. Toda a gente a dizer muito bem, sendo certo que uma parte era para dizer mal do primeiro-ministro. Sinto orgulho em ter trabalhado e em ter integrado o Governo de José Sócrates».
Aceitaria, então, voltar ao Governo caso Sócrates ganhe eleições? «Não esperava ser ministro da Saúde neste Governo», «não sei para que é que eu sirvo mais. Estar no Governo hoje corresponde a uma pressão muito forte. É uma tensão muito grave».
Comenta ainda que, na altura em que tomou posse, a Saúde estava «enrolada» e por isso «estava a ser capturado por toda a gente»: pelos profissionais, que não o deixavam tomar nenhuma medida; pelas autarquias, que não o deixavam substituir «coisa nenhuma»; pelos interesses económicos dos produtores de bens e medicamentos; ou seja, «toda a gente capturava o SNS, e isso só terminaria se houvesse dinheiro para toda a gente. Ainda por cima, numa altura de contenção».
Correia de Campos: Sair do Governo representou um «alívio biológico, físico e mental enorme»
Na primeira entrevista desde que abandonou o Governo, António Correia de Campos, afirmou não terem havido mudanças nas políticas de Saúde e acrescentou que sentiu “alívio” quando deixou o Governo.