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Direito de resposta: AANIFEIRA elabora relatório sobre auditoria a canil Terras de Santa Maria

Direito de resposta: AANIFEIRA elabora relatório sobre auditoria a canil Terras de Santa Maria

Ao abrigo do direito de resposta, referente à notícia veiculada no dia 26 de Agosto “Vale de Cambra: Animais passam fome em canil”, solicita-nos a ANVETEM que publiquemos o relatório sobre a auditoria efectuada ao mesmo espaço pela Associação de Protecção de Animais AANIFEIRA.

«Na sequência do processo “denúncia de maus-tratos no Canil Intermunicipal das Terras de Santa Maria”, uma delegação da Aanifeira deslocou-se à Serra do Pereiro onde estão situadas as instalações do canil Intermunicipal para tentar apurar as suas condições orgânicas e estruturais e acima de tudo verificar o estado geral dos animais ali alojados.
Tendo como referência os inúmeros canis municipais existentes em Portugal, nomeadamente nas principais cidades, cujas condições são de tal modo inaceitáveis que a grande maioria nem sequer está licenciada pela Direcção Geral de Veterinária, foi com agradável satisfação que pudemos constatar que foram construídas instalações com capacidade para oferecer condições dignas aos animais que viriam a ser ali alojados. Podemos assegurar que vimos poucos hotéis caninos com tão boas condições como este intermunicipal.
Constituído por 50 boxes bastante amplas, com espaço interior e exterior (tendo este meia sombra e meio sol), bebedouros automáticos, portas nos dois topos da box. A zona interior é revestida a azulejo e na nossa perspectiva os únicos senãos tem haver com o chão em cimento que mesmo tendo tratamento (que não nos pareceu ter) e mesmo com lavagens e desinfecções, acaba forçosamente por acumular detritos e com a separação entre boxes que não são suficientemente “isoladas” permitindo que os cães maiores se vejam para a box do lado. Mas são duas situações que poderão facilmente vir a ser rectificadas. O “caimento” nas boxes para as condutas de saneamento está bem colocado o que permite com uma mangueira lavar todos os detritos em poucos minutos.
Os corredores entre as fileiras de boxes também são bastante amplos e houve o cuidado de colocar as traseiras de uma fileira e a frente de outra voltadas para o mesmo corredor, evitando assim o “confronto” visual dos animais entre si de box para box.
Os edifícios de apoio também são amplos e modernamente equipados, apesar de apenas dispor de equipamento básico. Num dos locais dos edifícios existem jaulas de contenção que permite lidar com animais mais agressivos e que necessitem de tratamento de uma forma mais segura e eficaz.
Finalmente um crematório que está manifestamente mal colocado… Este deveria ter sido construído num perímetro bem distante das jaulas, ainda que reúna todas as condições de segurança para a saúde das pessoas e animais e apesar de ser um mal necessário, é algo que deveria ter sido pensado. Acredito que possa ser penoso para algumas pessoas que lá trabalham ter de efectuar a cremação dos animais, mas para os animais vivos que ali residem é de certeza traumático. Há provas científicas que comprovam que os animais têm percepção de locais onde são feitos os abates e tudo o que se lhe relacione.
Relativamente ao estado dos animais… A sua grande maioria encontra-se num estado de saúde física (pelo menos aparentemente, dado que não poderíamos fazer uma avaliação médica cabal) boa, assim como de boa nutrição. Existem alguns com patologias visíveis, tais como sarna e subnutrição. Algumas (mais do que seriam desejáveis) mães com cachorros, umas em muito bom estado, outras com os mesmos problemas já referidos. Referimos duas situações observadas à médica-veterinária e à responsável pelo canil que diziam respeito ao número de comedouros (em boxes com 5 ou 6 animais apenas dispunham de 2 ou 3 comedouros) que no nosso entender deverá ser um por cada cão e estrategicamente colocados para permitir que todos possam comer; e a outra situação relativa ao acesso à água por parte dos cachorros, dado quem o bebedouro encontra-se a cerca de 50 cms do chão e os cachorros (principalmente os mais pequenos) não conseguem aceder e o leite da mãe não supre todas as necessidades líquidas deles.
Em termos de saúde psicológica é que já não poderemos afirmar que se encontram bem. Poucos foram aqueles que se observaram como estando bem dispostos e com a alegria que é normal num cão…
Esta é a observação analítica de quem foi lá e esteve cerca de duas horas a observar, a tomar apontamentos, para agora poderemos tirar as nossas conclusões.
Dada a nossa experiência com a nossa situação que é análoga, salvaguardando as devidas diferenças, sobretudo orçamentais, o grande problema que existe no canil Intermunicipal, tal como na Aanifeira, é que este é uma consequência e não a causa!
Não colocamos sequer em causa que um animal que tenha lá entrado nutrido tenha vindo a perder peso e chegado a um estado de subnutrição alarmante. Já temos observado isso na Aanifeira e por muito esforço sobre-humano que façamos não conseguimos inverter o processo. Assim como é “o pão nosso de cada dia” recolher animais em estado deplorável, também acredito que o canil Intermunicipal o faça. Mas tudo isto são consequências e não as causas e são as causas que os defensores dos direitos dos animais, as autoridades, a sociedade civil e sobretudo os políticos e os governantes (que são quem têm poder para) têm de combater.
Não vamos entrar em lugar comum que é necessário acabar com o abandono e com os maus-tratos aos animais. Todos nós estamos de acordo com isso! É necessária acção imediata. Estamos com anos de atraso e o caminho a percorrer é muito, mas muito longo! É quanto mais andarmos a remar uns para cada lado, mais ficamos no mesmo local.
O primeiro passo é concentrar esforços para que as coisas comecem a acontecer. E concentrar esforços não é os defensores da causa animal contra o resto do mundo.
Temos de conseguir criar uma plataforma de entendimento com Médicos Veterinários Municipais que são quem tem uma “guerra” paralela à nossa; com as autoridades policiais a quem podemos e devemos recorrer quando presenciamos infracções à lei; com os cidadãos conscientes do problema e que acham que deve ser feito algo (e são cada vez mais os que se manifestam); e com os políticos que tendo vontade podem mudar muita coisa.
A Aanifeira tem propostas muito concretas para que as coisas comecem a mudar verdadeiramente. Propostas que não exigem grandes orçamentos nem alterações às leis vigentes. Não que achemos que a lei é a mais adequada, mas é a que existe e enquanto não conseguirmos fazer cumprir esta lei, jamais avançaremos para uma outra. É um longo e árduo caminho que estamos dispostos a fazer… resta saber se mais alguém estará!
De regresso ao Intermunicipal, alguns apontamentos. O XBoxer da foto 1 do e-mail que despoletou toda esta situação estava a ser adoptado na hora em que chegamos, assim como mais alguns animais o foram.
Estão no Intermunicipal neste momento cerca de 150 animais para uma lotação de
100. Isto só por si mostra o esforço que os responsáveis pelo canil estão a fazer para manter os animais o mais longo tempo possível para possibilitar a sua adopção. Os jornalistas que lá estiveram reconheceram inclusive alguns animais que já lá estavam na inauguração em Abril deste ano. Mais abaixo poderão ver algumas fotos de alguns desses animais que estão disponíveis para adopção. O Intermunicipal oferece a vacinação anti-rábica, o microchip e a desparasitação.
Era extremamente importante criar-se um grupo voluntariado de apoio ao
Intermunicipal. O estado depressivo em que alguns animais se encontram poderia ser melhorado se houvesse uma maior interacção com pessoas. Não cremos que quem lá trabalhe tenha tempo para dedicar um pouco mais de atenção aos animais. Na Aanifeira o grupo voluntariado está cada vez mais especializado nessa área, concentrar esforços nos animais. É uma excelente forma de lhes dar razões para viver e de os tornar predispostos para a adopção. Além disso poderiam participar activamente na divulgação dos animais, criando assim uma grande rotatividade e permitindo aos “menos adoptáveis” ter mais tempo para terem oportunidade de serem adoptados.
Abordei a questão do grupo voluntariado aos responsáveis e mostraram-se muito receptivos relativamente à questão.
Lamentamos que a nossa “guerra” na Aanifeira seja tão absorvente que não nos permita dedicar um pouco do nosso tempo ao Intermunicipal.
Quem estiver nessa disposição reúne ali condições ideais para poder efectuar um excelente trabalho.
Finalmente é nossa opinião e que iremos endereçar à Direcção da Associação dos
Municípios, que o Médico Veterinário responsável pelo canil Intermunicipal deva estar a tempo inteiro. Não sondamos nenhum dos Médicos Veterinários Municipais dos cinco concelhos, mas parece-nos óbvio que um MVM com tantas tarefas que tem pela frente, principalmente com concelhos de grandes dimensões como são os de Santa Maria (à excepção de S. João da Madeira, mas esse tem a agravante de ser quase 100% urbano), tenha de “inventar” tempo e predisposição para o canil Intermunicipal. Esta é apenas uma opinião baseada naquilo que nos parece óbvio e gostaríamos que nos fosse esclarecida.

Victor Correia de Barros
Presidente da Aanifeira

 

     
     
     
     
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