A alimentação animal tem gerado alguma controvérsia, com novas correntes a surgirem nos últimos anos. Dietas cruas, alimentação sem cereais e altos níveis de proteína são algumas das tendências em destaque, mas o que é mito e o que é realmente fundamentado pela ciência? No Podcast da Veterinária Atual, Ana Luísa Lourenço, especialista europeia em nutrição animal e docente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), dá a conhecer os principais avanços da investigação na nutrição animal de cães e gatos.
A investigação em torno da alimentação animal tem evoluído com o objetivo de atender às necessidades fisiológicas dos animais de companhia, mas também para o auxílio ao tratamento de diversas doenças. A pesquisa tem aprofundado o conhecimento sobre o microbioma intestinal dos animais e seu impacto a nível sistémico. “Esta é uma via que está a ser desenvolvida no sentido de tratar, mas sobretudo para prevenir doenças e prolongar a esperança média de vida dos nossos animais”, explica Ana Luísa Lourenço.
Na perspetiva da médica veterinária, muitas tendências relacionadas com a nutrição animal até passam pelo crivo da evidência científica, mas, por vezes, acabam distorcidas com algumas extrapolações que as desconectam dos factos reais. “Muitos dos factos na nutrição animal podem ser contraintuitivos, o que torna mais difícil controlar os mitos e as tendências sem sustentação.” Neste âmbito, a docente da UTAD alerta para a “avalanche de informação” disponível atualmente na Internet, o que gera uma maior urgência para a “comunicação séria” sobre o tema.
Tendências controversas: Dietas cruas e sem cereais
Ana Luísa Lourenço destaca que, embora as dietas cruas e sem hidratos de carbono possam ser nutricionalmente completas, estas tendem a trazer riscos para os animais, por incluírem elevados níveis de gordura e proteína – condição que pode colocar “os animais saudáveis em risco de pancreatites”. Por outro lado, “se o animal tiver alguma condição associada como, por exemplo, doença renal ou insuficiência hepática, estes níveis muito altos de proteína podem constituir riscos ainda mais graves”, revela.
Além disso, a médica veterinária, questiona a tendência de evitar cereais nas dietas, fazendo-se valer de dados que demonstram que a sua exclusão, e a adição de grandes quantidades de proteína e gordura, podem sobrecarregar órgãos como o fígado e rins.
“Em ambiente [selvagem] e natural esta pode ser uma estratégia bastante acertada, porque os cães e os gatos não conseguem digerir hidratos de carbono crus, portanto, a possibilidade de obterem energia por esta via está colocada de parte. No entanto, o objetivo na natureza não é propriamente de ter uma vida longa e saudável”, esclarece apoiando a tese de que a alimentação animal deve ser contextualizada no cenário atual, com o objetivo de proporcionar aos animais um suporte que contribua para uma vida mais longa e saudável.
Ouça o podcast na íntegra aqui.