A pandemia de Covid-19 tem atingido seres humanos por todo mundo, mas, agora, um grupo de peritos está a questionar se este novo vírus poderá ter impacto noutros animais.
Os cientistas demonstraram que os grandes símios são suscetíveis a infeções respiratórias humanas, como o rinovírus humano C (RV-C), que pode causar a comum constipação.
Um artigo de comentário recente, da autoria de 25 cientistas, publicado na revista Nature lança a questão sobre os grandes símios, uma vez que muitos dos primatas deste grupo já se encontram em perigo.
Thomas Gillespie, um dos autores do estudo e ecologista de doenças na Universidade Emory, em Atlanta, Estados Unidos, refere que a pandemia da Covid-19 é “uma situação potencialmente terrível para os grandes símios” e que “há muito em risco para os que estão em vias de extinção”.
“Não se sabe se a morbilidade e a mortalidade associadas ao Sars-CoV-2 nos seres humanos são semelhantes nos macacos. No entanto, a transmissão, mesmo de agentes patogénicos humanos ligeiros, aos macacos, pode levar a resultados moderados a graves”, explicam os autores do estudo, citados pela Medical News Today.
Os autores fazem ainda referência a um surto de um coronavírus diferente em 2016. O vírus em questão ficou conhecido como OC43 e afetou um grupo de chimpanzés selvagens na Costa do Marfim, na África Ocidental. Durante dois meses, nove indivíduos de um grupo de 33 chimpanzés apresentaram tosse e espirros, sintomas relacionados com o vírus.
Também em 2013 se registou um surto letal de RV-C em chimpanzés selvagens no Uganda, sendo que cinco de 56 chimpanzés morreram.
O turismo relacionado com os grandes símios diminuiu acentuadamente com as medidas de isolamento à medida que a Covid-19 progrediu, além de alguns países já terem suspendido este tipo de atividades. No entanto, os autores acreditam que se deve fazer mais para proteger estes animais.
“Apelamos aos governos, aos profissionais da conservação, investigadores, profissionais do turismo e agências de financiamento para reduzir o risco de introdução do vírus nestes macacos em vias de extinção. Podem fazê-lo aplicando diretrizes de melhores práticas da União Internacional para a Conservação da Natureza em matéria de vigilância sanitária e controlo das doenças em grandes populações de macacos”, escreveram os investigadores.
Existe, ainda, a preocupação de que a caça furtiva possa aumentar expressivamente, caso estes animais ficarem sem tutores.
“O pessoal essencial precisa de permanecer no local”, diz Gillespie. “Mas precisamos de garantir que o número de funcionários seja baixo e que eles estejam envolvidos em processos adequados para se protegerem, e aos macacos, da exposição à Covid-19”.
O facto de muitos infetados poderem ser assintomáticos é uma das preocupações.
“Como profissionais que trabalham com grandes símios, temos a responsabilidade de os proteger dos nossos agentes patogénicos. Esperamos o melhor, mas devemos preparar-nos para o pior e considerar criticamente o impacto das nossas atividades sobre estas espécies ameaçadas”, referem os autores do comentário num comunicado de imprensa da Universidade Emory.