Rita Sousa é médica veterinária e trabalha no Hospital Veterinário do Oeste, na Lourinhã. Dedica-se particularmente à área de medicina de animais exóticos e faz parte da board of directors da Associação de Veterinários de Mamíferos Exóticos (AEMV, na sigla em inglês), onde assume o cargo de co-chair do comité internacional e é também representante da AEMV em Portugal. Em entrevista à VETERINÁRIA ATUAL, a médica veterinária fala sobre o seu percurso profissional e realça a vontade de divulgar a associação em Portugal.
Como é que teve conhecimento da AEMV e quando se tornou parte integrante da mesma?
Sempre tive um grande interesse por animais exóticos, mas nunca cheguei a desenvolver esta área. Até porque, na altura, no curso de medicina veterinária, pouco se falava desta componente e não existia nenhuma disciplina dedicada especificamente aos exóticos. Em Portugal, estes animais ainda não são muito comuns e os próprios tutores, muitas vezes, recorrem aos criadores e não ao médico veterinário para os tratar. A partir daí, comecei a frequentar vários cursos, um deles em Espanha, com a drª. Angela Lennox, mundialmente conhecida, particularmente no tratamento de pequenos mamíferos. Na altura questionei-a acerca da possibilidade de acompanhá-la na sua clínica, porque acabamos por aprender mais em estágios do que nas conferências. Ela normalmente já está habituada a que colegas estrangeiros façam este tipo de pedidos – percebi que já era a quarta portuguesa a seguir o seu trabalho. Tive muita sorte! Passei duas semanas com a médica veterinária, na sua clínica, o que suscitou a vontade de acompanhar outro colega e, nesse sentido, foi-me recomendado o dr. Daniel Johnson. Estive na sua clínica de exóticos, na Carolina do Norte, e foi ele que me falou na AEMV. Na altura, em 2014, candidatei-me a um cargo, com o apoio do dr. Johnson, mas não fui eleita. Em 2018 recebi uma proposta da diretora do comité internacional (atual presidente) para ser a representante em Portugal. Como eu era muito ativa e solicita perguntaram-me, mais tarde, se queria fazer parte do comité internacional. E foi assim que tudo aconteceu.
Como é que surgiu a associação?
A Associação de Veterinários de Mamíferos Exóticos (AEMV) foi fundada nos EUA, em 2000, por médicos veterinários que estavam interessados em promover o cuidado e medicina de mamíferos exóticos. Naquela altura, já existiam associações dedicadas a aves, répteis, animais de zoo, selvagens ou de laboratório, mas nenhuma dedicada a pequenos mamíferos exóticos. A AEMV é uma organização internacional, composta por mais de 700 membros, de mais de 30 países. Contudo, a grande maioria dos membros são norte-americanos.
Porque é que surgiu a necessidade de a internacionalizar?
A maior parte dos médicos veterinários de exóticos encontram-se nos EUA − em Portugal, por exemplo, são raras as clínicas dedicadas exclusivamente ao cuidado de animais exóticos e, só agora, se começa a notar um aumento − foi com base nesta necessidade que a AEMV, ao longo do tempo, tentou tornar-se mais internacional. O comité internacional, do qual faço parte, foi criado para tentar divulgar a associação nos restantes países. Fornecemos um conhecimento amplo sobre espécies. Ainda existe muito desconhecimento, por exemplo, no que diz respeito a patologias que podemos encontrar, respetivos tratamentos, fármacos a utilizar e procedimentos cirúrgicos a realizar.
De que forma atua a associação perante os membros?
Existe um grupo fechado no Facebook onde se discutem temáticas nesta área, colocando questões e pedindo segundas opiniões de casos clínicos. Este é um fórum exclusivo dos membros, que pode tornar-se uma mais-valia para a prática clínica do médico veterinário. Como é natural as dúvidas podem surgir em qualquer momento e o fórum é bastante dinâmico. Com um pouco de sorte, podemos colocar uma pergunta sobre o caso que estamos a ver na altura e obter um esclarecimento de colegas do outro lado do mundo, que podem já ter visto a mesma patologia.
É também disponibilizado o acesso digital ao Journal of Exotic Pet Medicine, a publicação oficial da AEMV, que tem periodicidade trimestral. O conteúdo consiste em artigos baseados num determinado tema médico ou cirúrgico e artigos peer-reviewed patrocinados pela associação, apresentando pesquisas originais, revisões de assuntos ou case reports.
A AEMV organiza uma conferência anual, a Exoticscon, realizada nos EUA – na qual os membros usufruem de desconto −, muitas vezes em conjunto com outras associações empenhadas no avanço da medicina de animais exóticos. O ensino é adequado para todos os níveis de prática de pequenos mamíferos exóticos. São providenciados cursos práticos, programas científicos avançados, discussões em mesas redondas e master classes. No site (www.aemv.org/), os membros também têm acesso aos proceedings de conferências anteriores, além de folhetos sobre os cuidados a ter com estas espécies e doenças comuns.
Este ano, a grande novidade é o acesso exclusivo a palestras online, com periodicidade a definir. A pandemia acabou por trazer uma forte procura de formação online e a edição virtual da conferência Exoticscon 2020 foi um grande sucesso.