Quantcast
Médicos Veterinários

Xavier Canavilhas: “Acreditamos que esta união nos vai permitir fazer uma mudança”

Direitos Reservados

O ponto de partida da conversa foi a criação da Plataforma de Jovens Profissionais de Saúde, em novembro de 2023. A estrutura junta os órgãos representativos dos jovens médicos veterinários, médicos de medicina humana, dentistas, farmacêuticos e nutricionistas e pretende fomentar a implementação de políticas nacionais de saúde sustentadas no conceito One Health. A VETERINÁRIA ATUAL falou com o atual coordenador do Gabinete Jovem da Ordem dos Médicos Veterinários sobre esta Plataforma e abordou as principais problemáticas que afetam a geração mais nova de médicos veterinários.

O que motivou a criação da Plataforma de Jovens Profissionais de Saúde?

 

Os jovens têm um dinamismo natural da idade e uma abertura em termos de visão que permite olhar para o panorama da saúde e perceber que muitas das dificuldades que os jovens profissionais vivem no início de carreira são comuns e transversais às várias áreas [da saúde].

A Plataforma nasceu dessa ideia de atacarmos as situações que nos são comuns e transversais, para pensar a saúde de uma forma inteira, holística, integrada e em consonância com o conceito One Health, de forma a potenciarmo-nos uns aos outros nas nossas pequenas lutas.

 

Houve também algum entusiasmo, porque o momento em que os jovens integram o mercado de trabalho, fazem a transição entre deixarem de ser estudantes e passarem a ser jovens profissionais, é um momento complexo.

Nesse momento em específico há mais situações que vos unem do que as que vos separam?

 

Há muita coisa que nos une. A primeira de todas é, até determinado grau, a incerteza do que vem a seguir.

O que acontece, normalmente, é que passados os anos de formação há uma revolução completa na vida da pessoa: passa a ser um profissional e os objetivos, a forma de estar, são completamente diferentes.

 

Por melhor que seja a formação académica, há sempre uma décalage entre aquilo que estamos preparados em termos académicos e aquilo que é o mercado de trabalho.

E hoje já percebemos que em termos de burnout, de aumento de doenças mentais entre os jovens, esta questão da entrada no mercado de trabalho tinha de ser abordada.

“A função da plataforma também é criar uma base que permita aos intervenientes políticos perceber o que os jovens profissionais de saúde entendem das questões que abordam.” – Xavier Teles Canavilhas, coordenador do Gabinete Jovem da OMV

Direitos Reservados

Muitas vezes, os jovens [ao entrar no mercado de trabalho] têm uma certa sobrecarga horária e de funções para as quais não estão preparados, nem estão ainda completamente capacitados para assumir.

E depois existe outra dificuldade: as pessoas quando entram para o mercado de trabalho ainda estão num momento de formação, mas têm, igualmente de estar em performance, de cumprir com as suas funções para com o empregador.

Temos ainda outra questão, que para todos nós é crucial, que é a saúde pública. Precisamos coordenar-nos de forma estável e capacitada no sentido de dar uma resposta multidisciplinar aos desafios emergentes e futuros de saúde pública. Isto também é algo que, na nossa perspetiva, faz sentido ser feito em conjunto, com equipas multidisciplinares, em que os profissionais com as suas áreas diferenciadas de conhecimento apresentem a realidade dos seus setores. Quando se procura uma resposta e esta é montada de uma forma integrada, mais facilmente se aplica à realidade.

Contudo, notámos que existe muita dispersão na saúde. Este setor tem evoluído muito ao longo dos tempos no sentido da sua subdivisão. Temos criado cada vez mais especialidades, áreas de interesse mais restritas que têm permitido criar uma quantidade notável de conhecimento e ajudaram na evolução da prestação de cuidados de saúde para o que temos hoje. Não obstante, é necessário continuar a haver uma integração profunda destas áreas [da saúde] porque existe um eixo homem-animal-ambiente cuja ligação é incontornável.

A questão da pandemia, da gripe aviária, mostrou que temos uma série de desafios que são transversais [a estas áreas] e que têm de ser abordados de forma transversal.

Acreditamos que esta união que nos vai permitir fazer uma mudança, a sermos mais eficazes e vai-nos permitir também abordar as tutelas e os intervenientes da decisão política sobre a nossa visão para a saúde. A função da plataforma também é criar uma base que permita aos intervenientes políticos perceber o que os jovens profissionais de saúde entendem das questões que abordam.

A entrada no mercado de trabalho funciona de forma diferente para os vários grupos que fazem parte da Plataforma. Os médicos de medicina humana têm uma carreira no setor público – embora, para estes, as opções sejam cada vez mais alargadas ao setor privado – enquanto as saídas profissionais para os médicos dentistas ou os médicos veterinários centram-se, sobretudo, na atividade privada. O que vos preocupa sobre estas diferenças?

Para nós, a questão do internato médico é um bom ponto de comparação. Efetivamente, os médicos [de medicina humana] a esse nível têm uma transição [entre a aprendizagem e a prática profissional] diferente.

O nível de responsabilidade de um [médico] interno não recai diretamente sobre ele, mas sobre o tutor de formação. Fazem esta passagem de uma forma muito mais compassada do que acontece na medicina veterinária, em que uma pessoa entrega a tese, defende-a, tem um papel na mão, inscreve-se na Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) e passa a ser veterinário. Tirando algumas questões em relação à direção clínica, que necessita de uns anos de experiência para a poder assumir, de resto é um veterinário perfeitamente competente, em termos legais está completamente capacitado e a responsabilidade recai única e exclusivamente sobre si em termos deontológicos e de prática clínica.

Esta situação cria esta dificuldade: a pessoa sai da faculdade e por melhor que tenha sido a formação, esta não é capaz de dar, especialmente com o número de alunos que temos hoje, a base prática de forma que as pessoas se sintam completamente capacitadas para, assim que acabam a formação, integrar uma estrutura e assumir o papel de médico veterinário sem qualquer tipo de reservas.

Só que o jovem médico veterinário, que não se sente totalmente preparado, quando integra uma estrutura também pensa ter a responsabilidade perante o empregador de ser um elemento valioso para a estrutura.

Na realidade, o que existe é uma espécie de aceitação tácita de que aqueles primeiros tempos são um período de formação, em que a pessoa está a aprender como a coisa funciona o que cria uma ansiedade de adequar todas estas partes e é um esforço acrescido ao desafio de entrar no mercado de trabalho.

E depois, apesar de a situação estar a mudar, ainda há médicos veterinários a trabalhar em situações que não têm grandes equipas e uma parte básica daquilo que é a medicina veterinária – a discussão de casos, o consultar outros colegas – fica comprometida.

O que tem de existir é uma estratégia para equilibrar os lados, na qual nem o jovem profissional tenha de sentir esta sobrecarga, esteja acompanhado e com partilha de responsabilidade e, ao mesmo tempo, tem também de haver um incentivo para o empregador que está a pagar e a assumir este jovem profissional.

Têm alguma posição formalmente tomada sobre a possibilidade de se criar um internato em medicina veterinária como existe na medicina humana?

Acreditamos, acima de tudo, que o que tem de existir deverá ser sempre numa base de opção e não acreditamos que deva ser uma solução obrigatória para resolver as coisas.

Admitimos é que deve haver a possibilidade, não diria de um internato porque nos faz associar automaticamente à medicina humana, de existir algum mecanismo que permita aos jovens integrarem-se no mercado de trabalho numa espécie de continuidade formativa, em que estão, efetivamente, a trabalhar, mas têm a responsabilidades e direitos que seriam diferentes dos que teriam se estivessem a solo no mercado de trabalho.

Os jovens poderiam decidir se é para eles ou não terem um maior acompanhamento durante um ano ou seis meses, no qual têm outra parte formativa – imaginemos que poderia ser um programa promovido e gerido pela Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) – e caso não quisessem não teriam de seguir por esse caminho.

Como não temos um empregador público [na medicina veterinária], não teríamos de optar obrigatoriamente por uma especialidade como existe na medicina humana, porque poderia não existir um local onde depois integrar esses conhecimentos. A pessoa tem de ser livre para decidir.

Entretanto, a Plataforma já fez a primeira reunião oficial no início deste ano. Discutiram propostas e objetivos que pretendem atingir a breve trecho?

Esta reunião foi a oportunidade para consolidarmos e fecharmos o texto de um documento que vamos apresentar em breve com a visão estratégica dos jovens profissionais da área da saúde para o setor. Aproveitamos o momento em que estamos, à beira das eleições legislativas, para deixar as nossas soluções e visões em relação ao setor para que os decisores políticos possam considerar essas sugestões e avaliar a possibilidade de reunir connosco. A uma só voz, falaremos com todos eles e abordaremos estes problemas de uma forma transversal.

Vamos trabalhar de uma forma mais concertada nestes objetivos e, esperamos nós, conseguir pelo menos criar alguma sensibilidade nos decisores políticos para, quando tiverem de tomar decisões, considerarem as visões dos jovens profissionais de saúde. Caso necessitem estamos disponíveis para auxiliar naquilo que nos for possível.

Além desse documento, neste ano têm pensado em alguma ação ou medida que gostariam de ver concretizada ou que se discutisse de forma mais pormenorizada?

Dentro dos pilares que são a atuação da Plataforma haverá com certeza algumas medidas que nos são mais próximas, mas dependem da abertura de determinados setores à nossa sensibilização.

Desejamos reunir com as tutelas, com os partidos políticos, com as direções gerais da saúde, da agricultura e da alimentação e de outras áreas com implicação direta na saúde para fazer este caminho e tentar cumprir os objetivos a que nos dispomos.

Um dos temas mais debatidos ultimamente tem sido a emigração dos altos quadros jovens, que começam a deixar o país depauperado da geração que é das mais bem preparadas de sempre, academicamente falando. Na visão dos órgãos que os representam, trata-se apenas de uma questão remuneratória, dos baixos salários que o país oferece?

Em termos de Plataforma temos várias propostas nesse tema, mas dou-lhe a minha visão e não sei os motivadores da emigração jovem nas várias áreas. Aquilo que observamos na medicina veterinária, pensando nos dados do Vet Survey, obviamente que os salários são uma parte importante da questão, mas, mais do que os salários, muitas vezes a questão dos vínculos laborais é importante para os jovens decidirem se ficam ou não no País.

Precisamente por termos das gerações mais bem formadas dos últimos tempos, na medicina veterinária também há um grande foco na especialização e apesar de termos em Portugal cada vez mais diplomados europeus, ainda não temos a oferta de residências que outros países têm. A esse nível, é necessário a muitos jovens profissionais continuarem a sua progressão em termos de formação [fora de Portugal] que depois também lhes permite ter um mercado diferenciado de oportunidades quando são diplomados.

“A saúde mental é algo que se degrada com alguma facilidade neste setor em que tantas vezes o médico veterinário é tudo, rececionista, contabilista, faxineiro. Faz um pouco de tudo e isso desgasta os profissionais.” – Xavier Teles Canavilhas, coordenador do Gabinete Jovem da OMV

Direitos Reservados

Além disso, os jovens também têm um entendimento das fronteiras e do sítio onde vivem completamente diferente das outras gerações. Nós nascemos num mundo globalizado em que vamos facilmente daqui para os Estados Unidos da América, para a China ou para África.

Não esquecendo que temos também as questões de reconhecimento. Haver o tal acompanhamento na entrada no mercado de trabalho por parte dos profissionais mais experientes.

Não há só um motivo? É uma súmula de situações que levam à decisão de emigrar…

Sim. E vivemos uma situação um pouco paradoxal em que temos mais veterinários do que nunca, mas também temos cada vez mais dificuldade na empregabilidade.

As faculdades formam cada vez mais profissionais, mas há muitas queixas de falta de mão-de- obra…

É uma situação mesmo paradoxal. Muitas dessas situações também se dão em instalações veterinárias situadas mais no interior do País e isso está diretamente relacionado com a atratividade dos territórios. Lisboa, Porto, Braga ainda vão conseguindo gerir e as grandes estruturas também têm maior facilidade na contratação.

O que acreditamos é que as oportunidades têm de ser dignas independentemente dos sítios e temos de pensar no que esta geração valoriza, nomeadamente a vida cultural, que em certas regiões não é tão atrativa.

Nem sempre é fácil de juntar as compreensões dos dois lados: a geração mais experiente entrou no mercado de trabalho numa fase e teve outras condições financeiras que, em termos de marcado veterinário, hoje já não se verificam. Isso, às vezes, cria um desfasamento entre a geração mais nova e a geração mais experiente, em que parece que toda a gente fala, mas ninguém se compreende.

A geração mais jovem tem uma dificuldade brutal em adquirir casa, tem dificuldades também para montar uma clínica porque é incomparável o investimento que hoje é necessário para abrir uma estrutura versus o investimento necessário há 40 anos. Só em meios de diagnóstico é expectável um investimento à cabeça que não era preciso nessa altura.

Todas as gerações têm as suas dificuldades. A de há 40 anos enfrentou as suas e a geração atual está a enfrentar as suas para ter condições dignas, um trabalho que preencha e para ter a capacidade de ir investindo na sua formação.

A Plataforma está a pensar propostas para a área da emigração já que estas áreas – enfermagem, medicina humana, dentária e veterinária – são das que têm vindo a registar taxas de emigração mais altas?

A Plataforma tem também uma parte de mercado de trabalho dos jovens profissionais de saúde, não só da emigração e da capacitação dos quadros nacionais para responder aos desafios, mas também ao nível de bem-estar dos profissionais.

Afinal, até podemos ter um número de profissionais adequado às necessidades, mas se não temos profissionais satisfeitos e com bem-estar na profissão, estes serão profissionais que não conseguem desempenhar a sua função da melhor forma.

Precisamos de ter capacidade de salvaguardar estes profissionais para que eles possam fazer o melhor trabalho possível e que nos possam proteger e auxiliar a todos nós.

Esta questão do bem-estar afeta em grande medida a classe médica veterinária. São conhecidos os números de burnout e de outros problemas de saúde mental. Que perspetiva tem sobre esta matéria?

Olho para esta questão de uma forma muito próxima. Na minha altura de estudantes estive presente no primeiro comité que existiu na associação internacional de estudantes de medicina veterinária dedicado exclusivamente ao bem-estar dos estudantes que, mais tarde, participou nas guidelines de bem-estar dos estudantes da European Association of Establishments for Veterinary Education (EAEVE).

“Tenho vários relatos de colegas em início de carreira a contar que fazem noites sozinhos e, por vezes, nem têm possibilidade de ter um contacto telefónico com um colega para validar as suas decisões.” – Xavier Teles Canavilhas, coordenador do Gabinete Jovem da OMV

Direitos Reservados

Acho que temos feito um bom caminho em tornar este assunto mais público e em falar destas questões com maior naturalidade.

A saúde mental no setor veterinário é uma questão preocupante do lado dos jovens profissionais, como já vimos, mas também os profissionais mais experientes não estão alheios a isto. Hoje em dia, o esforço financeiro das clínicas, a relação com os tutores são preocupações, assim como a questão da eutanásia, que é sempre muito sensível. A eutanásia é um recurso que temos, mas muitas vezes é usada não porque não há uma resposta médica ou cirúrgica para o caso, mas porque não há possibilidade financeira da parte do tutor de ir por outra via. É uma maneira de parar com o sofrimento daquele animal porque não há recursos para implementar outra resposta e isso é difícil para alguém que passa a sua vida dedicada à saúde e ao bem-estar dos animais.

Por tudo isto, a saúde mental é algo que se degrada com alguma facilidade neste setor em que tantas vezes o médico veterinário é tudo, rececionista, contabilista, faxineiro. Faz um pouco de tudo e isso desgasta os profissionais.

Enquanto classe temos de olhar para esta situação de uma forma aberta e genuína para entender o que podemos melhorar, ver o que podemos reivindicar e sugerir às tutelas que seja mudado para que o trabalho dos médicos veterinários, independentemente do âmbito em que estejam inseridos, seja salvaguardado e condigno e esse vai ser o nosso grande desafio.

O Gabinete Jovem da OMV foi oficialmente criado em maio de 2018. Que balanço faz deste trabalho? Nessa altura, deu uma entrevista à VETERINÁRIA ATUAL na qual disse que os jovens eram uma população que estava um pouco distanciada do trabalho da Ordem …

Faço um balanço positivo, apesar de achar que o Gabinete Jovem podia atingir novas alturas e implementar muitos projetos que têm sido propostos. Ainda assim, apesar de não ter conseguido atingir todos os pontos que gostaria, acho que teve um impacto positivo a vários níveis.

O Gabinete Jovem trabalhou muitas vezes para dentro, porque uma estrutura criada de base implica um esforço de criação de projeto, de desenho de regulamentos. Está sempre dependente do Conselho Diretivo da OMV e pouco depois de ter sido criado atravessamos a pandemia, o que não foi muito favorável.

Todavia, por exemplo, a Cerimónia de Compromisso é hoje algo que está no Código Deontológico e foi uma proposta do Gabinete Jovem para aproximar as margens. Começou por ser olhada com uma certa apreensão e hoje, de uma forma geral, a classe percebe a sua importância como momento de união entre os colegas mais antigos e novos colegas.

Como proposta temos a criação de um fórum inter-faculdades, com o objetivo de uma maior coordenação entre estas, entre os presidentes dos conselhos pedagógicos e de ter a OMV mais próxima das faculdades para falar das carências que vão sentindo [no terreno] de as faculdades capacitarem melhor os jovens para as necessidades.

Fizemos também uma grande aproximação aos estudantes, assinámos um protocolo com a Federação Académica de Medicina Veterinária, criámos as redes sociais do Gabinete Jovem para o aproximar mais aos estudantes.

Uma matéria que não conseguimos ver finalizada foi a área reservada para os jovens estudantes dentro do site da OMV.  Temos vindo a pressionar, mas não tem havido possibilidade e recursos. O Gabinete Jovem tem uma proposta para esta ser mais competente e com uma maior especificação das propostas para recém-formados e empregadores.

Também nos empenhámos em ter uma sala destinada aos estudantes e aos jovens profissionais no Encontro de Formação da OMV (EFOMV) num esforço para tentar abrir mais a Ordem a estes profissionais que já são quase a maioria dos inscritos. De recordar que a maioria dos membros da OMV têm menos de 45 anos.

O Gabinete Jovem também participou no 76º encontro World Health Assembley [organizado pela Organização Mundial da Saúde] em maio de 2023 e temos tentado aproximarmo-nos do Parlamento Europeu, reunindo-nos com deputados europeus para abordar temáticas como as resistências antimicrobianas.

Uma das nossas bandeiras era aproximar a medicina veterinária à saúde e isso é algo que, com a Plataforma, está em cima da mesa mais do que nunca e uma das nossas propostas é que os médicos veterinários sejam profissionais elencados na Lei de Bases da Saúde.

Em breve também estaremos a assinar um protocolo com a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde para continuar este trabalho de levar a medicina veterinária para a tutela da saúde.

Este trabalho é uma escada em que vamos subindo degrau a degrau.

Nestes cinco anos à frente do Gabinete Jovem, que histórias lhe chegaram e o impressionaram mais sobre o mercado de trabalho?

Há várias coisas que me impressionam. Tenho vários relatos de colegas em início de carreira a contar que fazem noites sozinhos e, por vezes, nem têm possibilidade de ter um contacto telefónico com um colega para validar as suas decisões. Era esperado deles uma série de tarefas e de capacidades que, naquele momento, eles ainda não tinham.

A esse nível, a OMV, e em particular o Gabinete Jovem, deve tentar ao máximo colmatar esta situação com formação, com sensibilização, com a promoção de iniciativas junto da tutela para que melhorem as condições do mercado de trabalho e para que haja um entendimento geral de que os médicos veterinários, quando saem das faculdades, não estão absolutamente capacitados para integrar o mercado de trabalho e precisam de um espaço de aprendizagem.

Quando integrou o gabinete jovem ainda era estudante. Já passaram cinco anos, como é a vida agora?

Profissionalmente, estou ligado ao setor da digitalização da medicina veterinária, trabalho na área tecnológica e sou consultor para algumas empresas nessa área.

Entretanto, foi eleito novo bastonário da OMV. Vai continuar à frente do Gabinete Jovem?

Ainda não tenho nenhuma resposta concreta a esse nível. Da minha parte, gostaria de ficar à frente do Gabinete Jovem e poder continuar alguns destes projetos.

Efetivamente, o Gabinete Jovem teve muitas transições de equipa e não foi fácil estar a coordenar o trabalho com todas as pessoas. Parece-me que a estrutura precisa de mais equipa, de outro envolvimento e de outra força.

Uma equipa mais sólida?

Sim e também haver uma equipa que esteja alinhada e participe muito ativamente. Na nova equipa da Ordem há muita gente jovem o que é muito positivo. Há uns anos era impossível ver isto, mas a Ordem está cada vez mais jovem e a participação nos órgãos diretivos está também cada vez mais jovem e isso é muito bom.

Estou confiante. Acho que os próximos quatro anos vão ser de muitos desafios, há muitas coisas que assolam a classe a serem resolvidas e isso depende da Ordem, mas também dos próprios colegas de uma forma geral. Precisam exigir da Ordem o que necessitam e também terem noção do que a Ordem consegue tutelar e mudar.

Também tive a honra de, nestas eleições, ser eleito para o Conselho Regional do Sul e estou disponível para continuar a encabeçar o Gabinete Jovem se essa for a vontade da equipa.

Foi igualmente coordenador do Programa Cheque Veterinário da OMV. Como correu a experiência de liderar este programa de ajuda financeira aos tutores de animais de companhia?

O programa foi uma grande parte da minha vida durante muitos anos e foi uma honra. Integrei o projeto numa altura em que o cheque veterinário ainda era feito em papel e todos os meses recebia imensas cartas, fazia a quantificação toda e organizava a papelada.

Vi com muito agrado a digitalização do chegue veterinário e o nascimento da plataforma informática que tornou o processo mais simples a esse nível.

Foi incrivelmente recompensador porque tive a possibilidade de trabalhar de perto com colegas que respeito muito, os veterinários municipais, de perceber muitas das dores e dificuldades porque passam. E também dos colegas das clínicas, que são os principais executores do programa, que os ajuda a libertá-los de muitas situações em que os tutores não conseguem [pagar tratamentos]. Com este projeto, os colegas passaram a ter a possibilidade de oferecer este cheque e isto permite fazer o acompanhamento de saúde pública nestas situações de famílias carenciadas ou dos animais que estão à guarda dos municípios em abrigos.

Quando vemos os valores investidos no cheque veterinário, o número de pessoas que já foi abrangido e a quantidade de animais que tiveram cuidados graças a esta medida é muito recompensador.

É um projeto que espero continue numa trajetória crescente e que a tutela, um dia, perceba que esta é uma boa solução para que as coisas funcionem, que salvaguarda a saúde pública, o bem-estar dos animais e que deve ser alargado aos restantes municípios para que todos [os que necessitam] tenham esta possibilidade.

Este site oferece conteúdo especializado. É profissional de saúde animal?