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Veterinários Portugueses pelo Mundo

Vasco Simões: “O pior arrependimento não vem das experiências menos positivas, mas das que deixámos passar ao lado”

Vasco Simões: “O pior arrependimento não vem das experiências menos positivas, mas das que deixámos passar ao lado”

Entrevista com Vasco Simões, médico veterinário de grandes animais em França.O que começou por ser uma breve passagem pelo país, no âmbito de um estágio curricular, acabou por transformar-se numa oportunidade de carreira. “Propunham-me um plano de formação adaptado, uma boa evolução salarial e, progressivamente, um papel na gestão da empresa”.

Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?

 

A minha atividade centra-se na clínica de suínos. No início do curso não tinha uma ideia definida daquilo que pretendia fazer no futuro e o meu interesse nesta área surgiu progressivamente através dos estágios de Verão que fui realizando, mas também muito por culpa do Prof. Alfaro Cardoso enquanto docente da FMV.

Como surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? Onde trabalha neste momento?

 

Tive a oportunidade de realizar o estágio curricular na Universidade de Medicina Veterinária de Toulouse, onde integrei a equipa do Prof. Guy-Pierre Martineau. No final do estágio recebi uma proposta de emprego por parte de uma empresa da região e aquilo que deveria ser uma breve passagem por França acabou por se tornar a minha morada definitiva. Atualmente, a minha atividade centra-se essencialmente na região sudoeste do país, entre Toulouse, Biarritz e Bordéus.

O que o fez tomar a decisão de ir para fora de Portugal?

 

Quando recebi a proposta ainda não tinha começado a procurar trabalho em Portugal, mas o projeto que me foi apresentado interessou-me. Propunham-me um plano de formação adaptado, uma boa evolução salarial e, progressivamente, um papel na gestão da empresa. Acima de tudo percebi que estavam dispostos a investir em mim.

Na altura não tinha nada que me obrigasse a ficar em Portugal e, de certa forma, tinha vontade de sair da zona de conforto e tentar uma experiência que me colocasse à prova. Na pior das hipóteses, se corresse mal podia sempre voltar para casa. Se há alguma coisa que aprendi até agora é que o pior arrependimento não vem das experiências menos positivas, mas daquelas que, por medo ou falta de confiança, deixámos passar ao lado.

 

Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países? Ou seja, como é um dia de trabalho normal? O que faz?

Não posso falar da realidade portuguesa porque nunca exerci em Portugal. A imagem que tenho limita-se ao que vou ouvindo dos amigos. A minha função consiste em dar apoio técnico e sanitário às explorações das cooperativas com que trabalhamos.

Atuamos em binómio com os engenheiros zootécnicos, pelo que a nossa área de intervenção vai além da patologia. Com frequência abordamos problemas de nutrição, reprodução, bem-estar animal, biossegurança… É uma atividade multidisciplinar que exige de nós uma atualização constante de conhecimentos, o que torna o nosso trabalho extremamente motivante.

Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?

A cultura francesa não é assim tão diferente de Portugal. Há uma grande comunidade portuguesa a viver em França e quando a saudade aperta há sempre um restaurante ou um café português para ver o futebol, o que ajuda a acalmar os ânimos! A maior dificuldade que senti deveu-se à língua, uma vez que o meu domínio do francês era rudimentar. Nesse sentido, a minha empresa propôs-me seguir um curso intensivo de francês durante um ano, durante os horários de trabalho, o que me permitiu progredir mais depressa.

Do que mais tem saudades de Portugal?

Além dos pontos óbvios (família, amigos, lugares que nos viram crescer…) sinto falta de pequenos detalhes que nos vão ficando gravados na alma sem darmos conta: o café com os amigos no bar da esquina, os fins de tarde na praia, as noites amenas de Verão, o cheiro de um pastel de nata saído do forno… Aqui em França existe uma expressão -“il fait bon vivre“ – para fazer referência a um sentimento de bem-estar associado ao local onde vivemos. Apesar de todos os defeitos que possamos apontar ao nosso país, Portugal é um exemplo perfeito deste sentimento.

Quais os seus planos para o futuro?

Neste momento estamos a estudar a possibilidade de me tornar sócio da empresa, pelo que devo fixar-me definitivamente no local onde estou e dedicar-me ao desenvolvimento da nossa atividade.

Equaciona voltar a Portugal?

É difícil prever o futuro, mas do ponto de vista profissional parece-me complicado.

Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?

Não hesitem em correr riscos e sair da zona de conforto. Todas as experiências, por mais difíceis que sejam, vão contribuir para a vossa experiência e construção pessoal e profissional.

Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal e no mundo?

Com a livre circulação de veterinários na Europa e o aumento das instituições de ensino privado é importante implementar-se uma verdadeira gestão do numerus clausus a nível europeu, sob pena de se observar uma degradação da qualidade do ensino e saturação do mercado de trabalho.

Qual o seu sonho?

Que passados 30 anos continue a sentir a mesma motivação para fazer mais e melhor!

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