Entrevista a Rita Furtado, Médica Veterinária no Village Vet, em Cambridge
Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?
Desde a faculdade que tenho especial interesse em diagnóstico por imagem, mas desde o meu estágio na Universidade de Cambridge que tenho a certeza que é a área onde me quero especializar. Escolhi esta área não por ser uma área que tem vindo a crescer muito com as novas tecnologias, mas porque abrange uma grande variedade de técnicas que vão desde os raio-X à ressonância magnética.
Como surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? Onde trabalha neste momento?
Depois de acabar o estágio tinha alguns contactos em Inglaterra e por isso foi mais fácil voltar. Primeiro a trabalhar numa clinica veterinária e depois em centros de referência como interna. Neste momento estou a trabalhar em primeira opinião numa clínica em Cambridge.
O que o fez tomar a decisão de ir para fora de Portugal?
Como sabia, desde o estágio, que queria fazer um internato e depois especializar-me em imagem não havia outra escolha possível senão sair de Portugal. No Reino Unido há vários centros onde se pode tirar a especialidade de imagem, formação esta que ainda não está disponível em Portugal.
Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países? Ou seja, como é um dia de trabalho normal? O que faz?
Acho que aqui os veterinários sabem quando referir e não têm receio de o fazer com o risco de perder clientes, já que nos centros referencia não se fazem consultas de primeira opinião. O facto de a maioria das pessoas ter seguro de saúde para os animais também permite utilizarmos mais técnicas de diagnostico e novos tratamentos que em Portugal. Como neste momento me encontro a fazer clínica, o meu dia normalmente é das 8h00 às 19h00, com uma hora de almoço. Normalmente há sempre dois veterinários a trabalhar, um em consultas e outro em cirurgia, e 95% das consultas são feitas por marcação, o que ajuda muito na organização do funcionamento da equipa.
Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?
Trabalhar fora de Portugal é uma ótima experiência, mas pode não ser para todas as pessoas. Apesar do facto de se estar longe da família e dos amigos, aqui há mais oportunidades de progressão na carreira e mais escolha de cursos e congressos.
Do que mais tem saudades de Portugal?
Da família e dos amigos claro, mas tirando isto a comida e o clima são as coisas que me fazem mais falta.
Quais os seus planos para o futuro?
Os planos passam por acabar o certificado em imagem que estou a tirar com o RCVS e entrar para a especialidade de diagnóstico por imagem.
Equaciona voltar a Portugal?
Gostaria de voltar, mas ainda não está nos meus planos a data de regresso.
Se sim qual o trabalho/projeto gostaria de desenvolver?
Gostaria de, com outros colegas, conseguir fazer programas de internato e residência como há noutros países da Europa. Acho que é importante para futuros veterinários terem a oportunidade de tirar especialidades em Portugal e não terem de emigrar para isso.
Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Acho que é preciso persistir e nunca desistir. Emigrar sem dúvida é uma opção e especialmente países como o Reino Unido têm programas muito bons para recém-licenciados e estão sempre à procura de pessoas, incluindo estrangeiros. E apostem na formação pós-graduada, já que isso pode fazer a diferença na escolha de um ou outro candidato.
Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal e no mundo?
Já há algum tempo que não trabalho em Portugal, mas acho que a medicina veterinária não evoluiu muito nos últimos 4-5 anos em Portugal já que vejo os meus colegas muito pouco realizados com o que fazem e muitos deles mudaram de carreira pouco depois de começarem a trabalhar em clínica. No entanto, em geral, acho que a medicina veterinária não só em termos de tratamentos, mas em meios de diagnóstico tem vindo a evoluir bastante, o que nos permite cada vez mais diagnosticar e tratar adequadamente os nossos pacientes, dando-lhes uma melhor qualidade de vida por mais tempo.
Qual o seu sonho?
Continuar a estudar e a aposta na minha formação. Gostaria também de tirar um doutoramento em Inglaterra e para isso há que estudar muito já que as vagas são muito competitivas.