Entrevista a Inês Ribeiro Alves, Médica veterinária a realizar Internato em Reprodução Equina, na Alemanha
Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?
Estou a trabalhar na área de Equinos, neste momento a fazer um Internato em Reprodução. Desde pequena sempre quis ser médica veterinária. O meu interesse e paixão pelos cavalos também surgiu muito cedo, quando iniciei as aulas de equitação aos cinco anos. Durante o curso, a parte referente a Equinos sempre foi a minha área de preferência e aquela em que gostaria de me especializar profissionalmente.
Como surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? Onde trabalha neste momento?
Em 2015, parte do meu estágio curricular do Mestrado Integrado foi realizado na Alemanha, numa clínica de Equinos onde também estive a acompanhar a parte de Reprodução. Candidatei-me a este internato porque gosto bastante da área e queria aprofundar conhecimentos e ter possibilidade de praticar bastante. Pensei que era uma boa oportunidade para início de carreira.
O que a fez tomar a decisão de ir para fora de Portugal?
Fiz alguns estágios no estrangeiro, nomeadamente no Norte da Europa, e gostei da maneira como se trabalha nesses países, após ter a possibilidade de presenciar uma outra realidade diferente da nossa. Há também outras possibilidades monetárias e as pessoas podem investir mais nos seus animais, o que acaba por ser vantajoso para a nossa profissão em termos de estímulo e vontade de melhorar o nosso trabalho e estarmos actualizados. Nestes países há um grande respeito pela nossa profissão, facto que considero muito importante.
Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países? Ou seja, como é um dia de trabalho normal? O que faz?
Começamos cedo a trabalhar, por volta das 07h30, e dependendo do volume de trabalho podemos acabar mais cedo ou ter que ficar até mais tarde. Como este trabalho é sazonal acaba por se tornar mais intensivo, principalmente no pico da época reprodutiva, entre Maio e Julho.
Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?
Sempre gostei de viajar e conhecer novas culturas e formas de viver, mas penso que é preciso viver no país por algum tempo para realmente o conhecer e experienciar os hábitos normais das pessoas. A adaptação foi fácil, uma vez que falamos de um país da Europa cuja cultura é aproximada à nossa em alguns aspetos. Penso que me adaptei bem. Há sempre critérios mais rígidos, mas também uma organização de trabalho na qual considero que me integrei bem.
Do que mais tem saudades de Portugal?
Há sempre saudades dos familiares e amigos e, claro, da nossa comida e do clima do nosso país, que não há como substituir. Mas com a facilidade de viagens e deslocações, hoje em dia é muito mais fácil combater estas saudades.
Quais os seus planos para o futuro?
Tenciono continuar a trabalhar na área de Equinos e equaciono trabalhar no estrangeiro, talvez Inglaterra, Holanda ou Bélgica.
Equaciona voltar a Portugal?
Sim, Portugal estará sempre nos meus planos a longo prazo.
Se sim qual o trabalho/projeto gostaria de desenvolver?
Penso que Portugal precisa de investir nos seguros para animais. Iria ajudar muito as pessoas, os seus animais e também os médicos veterinários. Acho que já há colegas a trabalhar para este efeito e só equacionaria desenvolver um projecto/clínica em Portugal caso as condições de trabalho melhorem.
Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Apostar em formação, em estágios, em aprender o máximo possível e, principalmente, em áreas inovadoras que não estejam muito desenvolvidas no país. Aconselho sempre conhecer novas realidades. Infelizmente o nosso país é muito pequeno e por vezes as pessoas têm mentalidades muito fechadas. É sempre uma mais-valia conhecer outras formas de trabalhar para poder então adaptar àquela que será a nossa.
Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal e no mundo?
Em Portugal penso que a classe está a sofrer principalmente devido ao excesso de universidades e de médicos veterinários que são formados todos os anos. Penso que é um exagero se compararmos com outros países da Europa que têm menos de metade do número de Universidades e não têm médicos veterinários desempregados, ou a trabalhar noutras áreas completamente distintas, conseguindo assim proporcionar melhores condições de trabalho.
Qual o seu sonho?
Ganhar o máximo de experiência na minha área profissional, tentando sempre sentir-me realizada com o que faço, para poder depois regressar ao meu país e contribuir para o seu crescimento a nível da medicina veterinária, transmitindo também os meus conhecimentos a futuros colegas.