A Raise Vet organiza encontro sobre tema difícil que não costuma ser muito abordado na formação das equipas veterinárias: a eutanásia e o luto animal. Médicos veterinários, enfermeiros e auxiliares veterinários vão ter a oportunidade de trabalhar ferramentas que ajudem – tanto profissionais, como tutores – a lidar com o pior desfecho de um caso clínico.
O Porto vai receber no próximo sábado, 29 de março, o seminário “Eutanásia e luto pela perda de um animal”, uma formação organizada pela Raise Vet.
A VETERINÁRIA ATUAL falou com Cátia Sá, da Raise Vet, sobre o programa do encontro e a responsável começou por reconhecer que “não é fácil encontrar pessoas que saibam falar sobre este tema”, ainda pouco explorado na classe veterinária, quer na formação pré-graduada, quer nas formações ao longo da carreira profissional.
Todavia, a médica veterinária considera que encontrou “as pessoas certas” para abordar esta temática no seminário, a começar por Luís Resende, “um colega que está a fazer um doutoramento nesta área”. O médico veterinário, que é docente da Faculdade Egas Moniz School of Health & Science, no Monte Caparica, onde é responsável por uma unidade curricular dedicada ao tema do Luto e Eutanásia Animal, vai fazer uma intervenção, precisamente, sobre a “Introdução ao Luto na Medicina Veterinária” e outra sobre “Boas-práticas na Eutanásia: preparação e gestão”.
“A Isabel Santos, que é uma colega com diferenciação em comportamento animal, vai dar algumas dicas sobre como aconselhar os animais da casa”, numa palestra intitulada “Cuidado com Outros Animais da Família”, acrescenta a responsável. Afinal, Cátia Sá sublinha que também existe “uma grande falha” no acompanhamento dos outros animais da casa, pois estes “também fazem o luto” pelo animal que falece.
Além dos oradores formados em medicina veterinária, o evento conta também com palestrantes da área da psicologia e da Programação Neurolinguística (PNL). Constança Silva, coach e trainer, vai fazer uma intervenção com o tema “Comunicação com Famílias Enlutadas – aplicando a PNL à prática” e Teresa Macedo, psicóloga, falará sobre “Lidar com a Perda de um Paciente Querido – Identificar valores e emoções, missão e propósito. Como atuar na prevenção de fadiga por compaixão”. Vanessa Bulcão, psicóloga, falará ainda sobre o estudo que realizou a propósito da “Saúde Psicológica dos Profissionais de Medicina Veterinária em Portugal: Sintomatologia Depressiva, Ideação Suicida e Stressores Ocupacionais”.
  “Nós, enquanto profissionais, temos de estar mais bem preparados para lidar com estas situações” – Cátia Sá, da Raise Vet
O seminário tem igualmente uma componente prática, em que os participantes terão a oportunidade de participar em sessões de role play. “A ideia do role play é podermos ver de uma outra perspetiva uma realidade com a qual lidamos. Isto dá-nos o poder da empatia, o reconhecimento do lugar do outro e, muitas vezes, também conseguimos ver-nos a nós próprios do lado de fora”, explica Cátia Sá, acrescentando que esta atividade “é algo que utiliza também muito da psicoterapia, é muito interessante em termos do impacto que pode ter nas pessoas que vão poder participar “.
Um tema difícil de abordar
Sobre a pertinência da temática escolhida para esta formação, Cátia Sá explica que o luto já vem sendo, há algum tempo, um assunto de que gosta de falar e vem um pouco da sua experiência pessoal – “eu própria passei por um luto de um animal, a minha cadela” – e da sua experiência profissional, já que trabalha na área da dor, da reabilitação e com muitos animais em situações terminais. Nessa medida, a médica veterinária reconhece as dúvidas com que se depara na rotina profissional, sobre “o que podemos dizer a um tutor, a uma família que está em sofrimento, como podemos dar uma má notícia, como podemos ajudar estas pessoas de uma forma empática, não as deixar desamparadas”.
Aliás, acrescenta, “a gota de água para a decisão de tratar este tema [no âmbito do quadro formativo da Raise Vet] foi uma experiência que vivi no ano passado. Estava na sala de espera [de um hospital veterinário] com o meu cão quando da sala de consulta saem umas pessoas completamente desesperadas, em pranto, e saem sozinhas. Fui ter com elas e percebi que tinham acabado de perder um animal e essas pessoas saíram sozinhas do hospital, não houve ninguém que as acompanhasse, que lhes desse apoio. Nós, enquanto profissionais, temos de estar mais bem preparados para lidar com estas situações. Este casal não devia ter saído desta forma do hospital”, reconhece.
Tendo a Raise Vet o objetivo de “trazer para a medicina veterinária competências que possam ser desenvolvidas na classe, do ponto de vista de competências de liderança, competências emocionais e abordar temas atuais e que não sejam muito abordados e falados na oferta formativa nesta área”, fez todo o sentido à responsável escolher a eutanásia e o luto, de forma a melhorar a “impreparação” que ainda existe nas equipas para lidar com estas situações no dia a dia dos centros de atendimento medico-veterinários.
Nessa medida, o seminário estará aberto à participação de “todos os profissionais da medicina veterinária, tanto auxiliares, assistentes técnicos, enfermeiros e médicos veterinários. Todos aqueles que lidam diariamente com clientes e com situações de morte, sofrimento e atendimento de clientes que estão em situações de luto iminente ou que já aconteceu” rematou.