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Veterinários portugueses pelo mundo

Marisa Neves: “Decidi começar do zero na Suíça”

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Marisa Neves, Médica veterinária dedicada à Medicina Tradicional Chinesa no Cabinet Vétérinaire des Jonquilles, Suíça

Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?

A minha área de especialidade é a da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), concretamente a Acupunctura, a Fitoterapia e a Dietética chinesa. Obtive o diploma no Instituto das Medicinas Alternativas e Osteopatia Veterinária (IMAOV) em Paris, França. Atualmente frequento um curso de Homeopatia em Genebra, Suíça.

 

O meu interesse surgiu quando era estudante da FMV-ULisboa e frequentei a cadeira opcional sobre terapias complementares. Na altura tinha outra grande área de interesse, no campo da investigação: a Parasitologia. Fiz a tese de Mestrado nesse ramo da Veterinária e o estágio final de curso ocorreu em Cáceres, Espanha. Nesse trabalho foi já bem visível o meu interesse na abordagem de tratamentos complementares no controle das parasitoses e pude desenvolver capacidades na área do ensino, onde dei aulas práticas sobre o tema da minha investigação.

O meu percurso profissional seguiu-se no Alentejo, em jeito de regresso às origens, onde trabalhei cerca de um ano em Apicultura e Plantas Medicinais em Modo de produção Biológico e Biodinâmico, na Herdade do Freixo do Meio. Durante este período ganhei conhecimentos, práticos e teóricos, sobre o mundo das plantas, que vieram a ser-me úteis uma vez que hoje pratico Fitoterapia na minha actividade diária em clínica de animais de companhia.

 

Além disso escolhi esta área porque tenho um grande interesse nas terapias que têm ação na biofísica celular, bem como o contacto com os animais a um nível mais subtil. O meu interesse na alimentação e nutrição animal também já vem dos tempos da Faculdade.

Como surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? Onde trabalha neste momento?

 

A oportunidade surgiu em finais de 2014, quando terminei o trabalho na Herdade do Freixo do Meio. A minha irmã vivia na Suíça na altura e foi um grande incentivo à minha saída de Portugal. Comecei por fazer estágios não remunerados de uma ou duas semanas em clínicas de pequenos animais e trabalhei cerca de um mês numa Herdade Biodinâmica com bovinos de leite.

Durante esse período tomei consciência de que o percurso para ter o meu diploma reconhecido na Suíça envolvia alguns passos burocráticos que requeriam algum tempo e dinheiro. Consegui um trabalho, fora da área de Veterinária, com um contrato indeterminado que me deu acesso ao Permis B, ou seja, ao documento que permite aos estrangeiros viverem durante cinco anos na Suíça de forma legal.

 

Durante esse período estagiei uma vez por semana numa clínica veterinária de animais de companhia, comecei o curso de Acupunctura em Paris e surgiu a proposta de trabalhar nessa clínica. Entretanto terminei o contrato nessa clínica e comecei a trabalhar numa outra, também de pequenos animais, onde me encontro atualmente.

O que a fez tomar a decisão de ir para fora de Portugal?

A ambição de progredir na carreira como Médica Veterinária e de me especializar nas minhas áreas de interesse. Em Portugal não tinha meios financeiros para o fazer e por isso decidi começar do zero na Suíça.

Como é um dia de trabalho normal? O que faz?

Neste momento trabalho na clínica a 50%, ou seja, dois dias e meio por semana. O restante tempo utilizo para as consultas de MTC a domicílio, para estudar casos clínicos e também para preparar palestras ou conferências que têm surgido.

O meu dia na clínica começa por volta das 08h00: primeiro faço a ronda aos animais internados e discuto com o meu chefe os casos clínicos e o plano de trabalho para o dia. De seguida seguem-se as cirurgias e as consultas, que podem ser de medicina convencional e/ou de Acupunctura, Homeopatia ou Dietética.

Em ambos os casos fazemos exames complementares, como análises de sangue, de urina, radiografia, etc. A pausa para almoço ocorre entre as 12h00 e as 14h00 e até às 18h00 continuamos com as consultas e discutimos com os proprietários os casos dos animais internados. Durante a manhã ou tarde também fazemos relatórios de casos clínicos que referenciamos a colegas especializados, por exemplo, em cardiologia, cirurgia ortopédica, etc.

Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem ?

Viver fora de Portugal é um desafio constante onde realmente aprendo cada vez mais a confiar na vida. Sim, adaptei-me bem. A comunidade portuguesa é imensa na Suíça, em cada esquina ouve-se falar português! É um país multicultural e isso agrada-me. Considero as pessoas simpáticas, respeitam e aceitam com diplomacia e têm uma grande abertura de espírito ou consciência nomeadamente em relação às terapias complementares.

Quais os seus planos para o futuro?

Os planos passam por continuar a evoluir e progredir na carreira como Médica Veterinária e especificamente nas terapias complementares. Este ano pretendo finalizar o curso de Homeopatia e continuar a aprofundar a MTC. Além disso gosto de me manter flexível em relação às possibilidades que a vida me apresenta.

Equaciona voltar a Portugal ?

Sim, mas por agora estou focada em continuar a formação de Homeopatia e a aproveitar as oportunidades que estão a surgir na Suíça.

Se sim qual o trabalho/projeto gostaria de desenvolver?

Um trabalho em equipa, sem dúvida, na medida em que seja possível a integração da Medicina Convencional com as terapias complementares. Por outro lado, um papel no ensino também me cativa bastante.

Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?

É importante, por um lado, ser humilde e ter coragem, e por outro acreditar nas nossas capacidades, valências e valores. Considero que é crucial saber aproveitar as oportunidades que nos surgem porque são elas, muitas das vezes, que nos abrem o caminho para conseguirmos atingir os objetivos que vamos traçando.

Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal e no mundo?

Acredito que a Medicina Veterinária está a evoluir para uma visão cada vez mais integrativa e de respeito por todas as áreas envolvidas.

Qual o seu sonho?

Continuar a seguir o caminho do meu coração, sorrir e estar em paz com as minhas ações.

 

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