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Hospital Veterinário Vasco da Gama

Hospital Veterinário Vasco da Gama

Não restam dúvidas aos proprietários do Hospital Veterinário Vasco da Gama, em Lisboa, que este veio preencher uma lacuna na área onde se encontra. É que, de acordo com Sofia Alves e Bruno Oliveira, o serviço de assistência veterinária de 24 horas já permitiu salvar muitas vidas.

Mais de 500 anos depois, os caminhos de Vasco da Gama cruzam-se com os de Sofia Alves e Bruno Oliveira. Em comum têm o mesmo espírito empreendedor. Enquanto o navegador descobriu o caminho marítimo para a Índia, os médicos veterinários encontraram um local em Lisboa onde havia a necessidade de um serviço de assistência veterinária de 24 horas. Foi assim que em Outubro de 2010 abriram o Hospital Veterinário Vasco da Gama, na zona do Parque das Nações. “Tínhamos a perceção de que esta zona da cidade não estava servida de um hospital veterinário”, conta Bruno Oliveira, acrescentando que “conhecíamos pessoas que tinham de se deslocar 20 ou 30 quilómetros em busca de um serviço de assistência veterinária de 24 horas. Temos tido, inclusive, clientes da margem sul, nomeadamente de Alcochete e do Montijo”.

E o objetivo dos médicos veterinários é mesmo esse: “prestar um serviço hospitalar; já que temos alguma experiência a este nível e, de facto, achámos que estava na altura desta zona da cidade ter um hospital veterinário”.

 

Apesar de estar a funcionar há escassos meses, “a resposta das pessoas tem sido muito positiva e acima das nossas expectativas”. Na verdade, “chegam a parar quando passam de carro para nos perguntar se estamos abertos 24 horas”. A necessidade deste serviço era de tal forma notória que “temos tido situações que se não estivéssemos cá tinham terminado da pior maneira, designadamente casos de animais que caem dos sétimos e oitavos andares”.

Não obstante, a lacuna que o Vasco da Gama veio preencher não diz respeito apenas aos proprietários, mas também aos colegas de profissão, visto que “sentiam necessidade de terem um sítio onde pudessem tratar dos seus animais e, por isso, as clínicas aqui à volta têm reencaminhado alguns casos para cá”. Bruno Oliveira salienta, no entanto, que “fazemos questão de trabalhar com esses colegas no sentido do nosso serviço complementar o deles, ou seja, queremos ajudá-los a prestar o melhor apoio possível aos seus clientes”.

 

Todavia, notam, conforme salienta Sofia Alves, “alguns colegas continuam a não referenciar. Chegam-nos aqui pessoas a pedir uma segunda opinião, cujos animais já estão a ser tratados há semanas, senão meses, e que nunca foram referenciados para um especialista”. A este propósito, Bruno Oliveira conta que “tivemos um caso de um gato que andava a ser tratado há dois anos para a insuficiência renal, quando, afinal, o animal era diabético”. Porém acreditam que a tendência é “haver cada vez mais uma colaboração em rede”.

“A Medicina não é estática”

 

Mas essa colaboração deve começar no próprio hospital. “As pessoas que vierem trabalhar connosco devem dedicar-se a uma área de interesse, pois queremos ser excelentes em todas as áreas”, afirma Bruno Oliveira sublinhando que, todavia, “é necessário que todos saibam fazer uma triagem e depois encaminhar o animal para a especialidade”.

Em relação à equipa atual, ainda é pequena “mas quisemos juntar-nos a pessoas que já têm experiência nas diversas especialidades”. Uma vez que a área de interesse de Bruno Oliveira é a cirurgia ortopédica e a de Sofia Alves medicina interna, os médicos veterinários têm a trabalhar com eles especialistas em cardiologia, oftalmologia, exóticos, etc. E como “a Medicina não é estática”, como diz a médica veterinária, “é preciso aprofundar constantemente os nossos conhecimentos” e neste sentido a formação contínua ganha especial relevo. “Tenho o curso há 11 anos e todos os anos faço formação, tanto em Portugal como no estrangeiro”, revela Bruno Oliveira, justificando que “há procedimentos que se faziam há uma década e que hoje sabe-se que não são os mais adequados. Por exemplo, no que toca à esterilização, há colegas que são da opinião que só deve ser feita quando o animal tiver X o Y anos, porém hoje sabe-se que deve ser esterilizado antes do primeiro cio, dado que, deste modo, não há exposição do tecido mamário às hormonas e logo a probabilidade de vir a desenvolver cancro de mama é muito mais reduzida em comparação com um animal que seja esterilizado em idade adulta”.

 

O fim do estágio profissional

A formação contínua que, no fundo, traduz o aprofundamento de conhecimentos numa área de interesse tem sido um escape de muitos profissionais no que diz respeito às características do mercado de trabalho veterinário actual. “Julgo que o facto de sermos cada vez mais está a levar a que a especialização seja encarada como um refúgio”, argumenta Sofia Alves, contando que “licenciei-me na Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora e da minha turma concluíram 20 pessoas, quatro das quais estão a fazer internato, o que não era vulgar”. E se, no caso da médica veterinária, houve “a facilidade de iniciar a carreira através de um estágio profissional, hoje em dia deparámo-nos com a dificuldade de arranjar emprego e ordenados reduzidos, o que leva muita gente a recorrer aos internatos”.

Para Bruno Oliveira, nos últimos anos “houve um boom de licenciados devido ao aumento do número de faculdades e, por este andar, qualquer dia temos mais médicos veterinários do que animais”.

Não obstante, se as circunstâncias em torno da profissão há muito que deixaram de ser as melhores, presentemente “o fim dos estágios profissionais foi outro rude golpe que recebemos”. Bruno Oliveira explica que “quando terminava o curso, o jovem tinha a benesse do estado profissional e daí que fosse fácil para uma clínica empregá-lo pois parte do vencimento era suportada pelo Estado. Contudo, isto acabou e a consequência é que atualmente as clínicas vão pensar duas vezes antes de contratar um recém-licenciado, porque não há vantagens em relação a contratar uma pessoa já com quatro ou cinco anos de experiência. Por outro lado, também é mau para estes colegas, dado que deixam de receber tanto como era suposto, devido ao aumento da oferta”.

Crise “afecta serviços supérfluos”

Não obstante, a crise extravasa os meandros da profissão, tendo-se instalado em todos os sectores da sociedade. E se, no início, poder-se-ia pensar que a localização do hospital num bairro com um perfil socioeconómico elevado poderia ser antónimo de problemas financeiros, a verdade é que, segundo Bruno Oliveira, “não é o mar de rosas que se poderia pensar, visto que existem muitas zonas aqui à volta onde o poder económico é baixo, nomeadamente Olivais, Moscavide e Santa Iria da Azóia”. Neste sentido, explana que “a nossa tabela de serviços está equiparada àquilo que se faz nos arredores de Lisboa, ou seja, quisemos ter preços acessíveis que nos possibilitem fazer o melhor serviço a um preço que as pessoas possam pagar”. O médico veterinário acrescenta ainda que os tentáculos da crise manifestam-se, sobretudo, “nos serviços supérfluos, como banhos e tosquias, e não nos de urgência”.

 

Dar sangue

“No Hospital Veterinário Vasco da Gama estamos a criar um banco de sangue e já temos um grupo de proprietários que se mostrou disponível nesse sentido”, conta Sofia Alves. Mas criar um serviço destes enfrenta algumas dificuldades, a começar pelo facto de “a maior parte das pessoas não saber que os animais também doam sangue”. A médica veterinária relata que “tivemos a situação de um gato que precisava de uma transfusão e a proprietária disse-nos ‘sou enfermeira e não me importo de dar’, ou seja, também há o desconhecimento que a transfusão sanguínea tem de ser dentro da mesma espécie”. Bruno Oliveira complementa que “é preciso haver um grande número de animais que sejam dadores potenciais e que estejam receptivos a doar sangue sem que haja uma necessidade imediata”.

 

As vantagens do enfermeiro

Há 11 anos, quando esteve nos Estados Unidos da América (EUA), Bruno Oliveira constatou que já havia enfermeiros veterinários e “não percebia por que razão a profissão não existia em Portugal”, dado que “os médicos veterinários não são o ‘MacGyver’, ou seja, “não conseguimos fazer ao mesmo tempo consultas, estudar, esterilizar, tratar da gestão da clínica, etc.”. Neste sentido opina que os enfermeiros “vieram colmatar uma lacuna que tínhamos há muito tempo”.

“É óbvio que há pessoas que trabalham há dez ou 15 anos como auxiliares e são excelentes técnicos, mas a existência de uma licenciatura que lhes permita perceber de uma forma científica aquilo que estão a fazer na prática faz toda a diferença”, conclui.

 

O chamamento da Medicina Veterinária

Para Sofia Alves, a Medicina Veterinária é “uma paixão de sempre”. Contudo, quando ‘embarcou’ na licenciatura, tinha uma ideia diferente. “Achava que bastava gostar-se de animais e foi um golpe rude. Chegamos à faculdade e percebemos que não é só isso, que é preciso ter uma capacidade clínica e uma coragem e frieza que transcendem a paixão pelos animais”.

Também em Bruno Oliveira esta paixão manifestou-se desde cedo: “na infância ia passar férias à quinta da minha madrinha para poder tratar dos bichos. Aliás, estava o ano inteiro à espera de ir de férias”.

Tendo obtido a licenciatura na Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, “quando entrei no curso fiquei chocado, pois deparei-me com animais a serem tratados como máquinas de produção”. Daí ter optado por exercer clínica de pequenos animais, visto que era a área onde “mais poderia pôr a medicina ao serviço da saúde”.

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