Quantcast
Brexit

“É uma repetição da quarta-feira negra de 1992, numa magnitude maior”

Brexit: britânicos aprovam novas regras para registo de enfermeiros veterinários

O dia começou com um sentimento de incredulidade generalizado: a vitória do Brexit no Reino Unido significa a saída do país da União Europeia, com todas as consequências que daí podem advir. O médico veterinário Mauro Filipe Bragança, que divide o tempo entre Inglaterra, Moçambique e Portugal a gerir vários negócios, recebeu a notícia com “surpresa e alguma tristeza”. Depois veio a preocupação de ver como é que o mercado estava a reagir. “Agora sinto, e julgo pelo acompanhamento pelas redes sociais, que não estou só. Sinto frustração e receio pela incerteza que a situação gera”.

Mauro Filipe Bragança tinha esperança que os britânicos votassem a favor da permanência. “Os argumentos para a permanência eram e são racionais. As perdas económicas previstas por todas as instituições financeiras, instrumentos  e organismos com interesse na estabilidade (CBI, IMF, OECD e o IFS) estão a acontecer. O Barclays chegou a suster perdas de 30% e a libra atingiu um mínimo histórico, face ao dólar, apenas visto em 1985. É uma repetição da quarta-feira negra de 1992, numa magnitude maior”.

Mauro Bragança

Num post que colocou na sua página de Facebook, o médico veterinário referiu que perdeu 10% das suas economias numa noite. Será que é o começo do que está para vir? “O governador do Banco de Inglaterra fez uma intervenção escassos minutos após o anúncio de resignação do Primeiro-ministro Inglês. Nesta intervenção o Banco, outro defensor da permanência na UE, tentou parar a queda vertiginosa da libra e dos mercados. O único paralelo que encontro, nas economias que conheço e trabalho, é a desvalorização do Metical Moçambicano face ao Dólar Americano. Honestamente não esperaria que o mesmo pudesse acontecer na Europa”.

A ‘tempestade perfeita’?

Alguns analistas defendem que podemos estar perto da ‘tempestade perfeita’ caso Donald Trump vença as eleições nos EUA. Para Mauro Filipe Bragança há uma “onda de xenofobia abscondida a varrer o mundo e o medo e a incerteza associados às crises migratórias só se vão agravar.  Naturalmente haverá políticos saprófitas que irão capitalizar com a situação. Curiosamente, o candidato americano está neste momento no Reino Unido e já congratulou o LEAVE. Penso que é imperativo, enquanto europeus, sermos a melhor versão de nós próprios. Podemos ter política sem perder a nossa humanidade e o projeto Europeu, apesar das suas fragilidades e idiossincrasias, é ainda na minha opinião a melhor solução”.

E quanto aos médicos veterinários portugueses a trabalhar no Reino Unido, será que a situação irá agravar-se nos próximos tempos?Julgo que a perceção, e talvez as condições dos veterinários de origem europeia não britânica, podem eventualmente mudar. Semelhante à situação que vimos no nosso próprio sistema de saúde, quando apareceram médicos Espanhóis ou de países do Leste da Europa”.

“O Reino Unido, tendo agora capacidade de escrever e reescrever as suas leis sem transversalidade com a Europa, poderá eventualmente por em causa os procedimentos de homologação de vários cursos. Na Veterinária, julgo que o Colégio Real de Veterinária (RCVS) será fundamental para explicar a importância para a Saúde Pública (e para muitos outros aspetos) da contribuição que os veterinários “estrangeiros” representam. Contudo, no imediato, julgo que nada vá mudar”.

Mas o impacto no mundo empresarial já se faz sentir. Uma libra mais fraca tem um impacto direto em vários aspetos. As exportações, para quem está no Reino Unido, são agora mais fáceis, mas as importações mais complicadas. Explico: de repente, tudo o que é vendido em euros ficou 8 a 10% mais caro. No meu caso, trabalho por exemplo com um fornecedor alemão e comprar qualquer consumível neste momento é muito mais caro do que era ontem à noite. E este é um entre muitos exemplos que poderíamos discutir”.

Este site oferece conteúdo especializado. É profissional de saúde animal?