Após visitar algumas farmácias na baixa portuense, o referido jornal apurou que quase todas aplicam descontos nos medicamentos mas em segredo e apenas a clientes seleccionados, com ou sem cartão de fidelização e fruto de uma prática com anos de ilegalidade. Dez por cento, não anunciados.
«Não podemos generalizar os descontos. São maus, comem-nos as margens de comercialização e prejudica o trabalho das farmácias. Mas as pessoas estão habituadas, é prática corrente», explicou um farmacêutico que preferiu manter o seu anonimato e o do estabelecimento.
Também a presidente da Associação das Farmácias de Portugal, Graça Lopes, assegura que existem «várias farmácias a fazer descontos», até porque «grande parte das farmácias da Baixa já faziam».
A farmacêutica, proprietária de um estabelecimento na Avenida dos Aliados, no Porto, recusa qualquer tipo de estratégia deste género. «A situação das farmácias já está em tal estado que não é por aí que devemos ir», abonou.
Neste sentido, para a responsável, «as farmácias deveriam enveredar mais pela qualidade do serviço do que pela guerrilha entre colegas». Ou seja, optar por aplicar os descontos permitidos significa diminuir essa qualidade, por perda de poder económico face às reduções nas margens de comercialização.
Há três anos, a margem das farmácias correspondia a 20%. Actualmente, situa-se nos 18,25%. Porém, como a margem dos distribuidores também decaiu de 10% para 7%, as farmácias acabam por perder também nos «descontos financeiros». «Se houvesse pagamento, os fornecedores davam-nos descontos na ordem dos 3%. Foram reduzidos», adiantou o farmacêutico citado atrás.
Neste contexto, soma-se ainda a própria redução do preço dos medicamentos (6% por duas vezes consecutivas), sobretudo dos genéricos que, no próximo mês de Outubro, vão descer 30%.
Além destas diminuições reduzirem os lucros, interferem também nos negócios. «Algumas empresas de genéricos fazem promoções para as farmácias, de 20 a 30%», contou o profissional que preferiu manter o anonimato.
Quando as receitas possibilitam substituir medicamentos de marca por genéricos, o mesmo significa dizer dinheiro em caixa e, com a redução anunciada, prevê-se o fim destes descontos.
Em relação aos outros, só para «clientes habituais e alguns grupos profissionais» que correspondem aos tais 10%, adiantou, acrescentando que, globalmente, os lucros têm descido. Os 25%, incluindo fármacos e produtos cosméticos aproximam-se agora «dos 20% de margem bruta».
Descontos nas farmácias praticados em segredo e só para alguns
Os descontos em medicamentos, previstos na lei desde o ano passado, estão a ser pouco usados nas farmácias por razões económicas e, quando praticados, não são para todos os clientes, revelou o “Jornal de Notícias”.