A caminho do terceiro ano de existência, a Clínica Veterinária das Avencas conta com mais de 930 clientes fidelizados e divide-se entre a prática clínica e o envolvimento em projetos de caráter social. As sócias Beatriz Sinogas e Rita Baptista uniram esforços e avançaram para a concretização de um sonho antigo. O balanço não poderia ser mais positivo e longe vão os tempos em que atendiam um cliente por dia.
É mais uma tarde normal e atarefada na Clínica Veterinária das Avencas (CVA), na Parede (concelho de Cascais). A equipa, de seis pessoas, composta por duas médicas veterinárias, tosquiadoras e auxiliares, não tem mãos a medir. Enquanto Beatriz Sinogas, diretora clínica prepara a Clarinha (jack russel) para uma esterilização de controlo reprodutivo, já a sala de espera vai recebendo novas visitas. É dia de consulta para Kiara e Bali (ambos da raça bulldog francês) e Kenzo, um bullterrier.
Beatriz Sinogas sempre gostou e cresceu com animais, mas teve de esperar que os pais se mudassem para uma vivenda para poder ter um cão, que era proibido num andar devido ao facto de o irmão ser asmático. Hoje, já com a sua família constituída e dois filhos, tem dois cães, dois gatos e uma tartaruga que superou todas as estimativas e já chegou aos 35 anos.
A equipa, composta apenas por mulheres, abraçou este projeto com dedicação e amor pelos animais. Depois de se ter licenciado em Medicina Veterinária pela Universidade de Évora (UE), Beatriz Sinogas estagiou e trabalhou em vários centros de atendimento médico-veterinários, mas o sonho de ter um negócio próprio esteve sempre presente. A 1 agosto de 2015, juntamente com a sócia Rita Baptista, formada em Engenharia Zootécnica também pela UE, davam as boas-vindas com a inauguração da CVA. “Vimos alguns espaços, fomos comprando algum material ao longo dos anos e uma vez que existia muita precariedade na classe (o que ainda acontece) já era uma ambição abrir o nosso CAMV”, explica.
Dois anos e meio depois é com orgulho que lembra o arranque do projeto com capital próprio e sem recorrer à banca. “No primeiro mês tínhamos um cliente por dia, o que já era muito bom”, explica. O facto de o espaço ter sido anteriormente uma loja de animais com consultório – no qual Beatriz colaborou – ajudou a avançar. “Tinha a vantagem de ter uma boa carteira de clientes, comprámos algum material e entrámos em acordo com o senhorio”.
Situada num bairro residencial que se mistura com prédios e vivendas, muito perto de uma zona de praias, Beatriz Sinogas e a equipa brincam ao afirmar que vão conquistando paulatinamente as ruas das redondezas. A “publicidade boca-a-boca” tem funcionado, e hoje, a clínica tem mais de 930 clientes fidelizados. O site da CVA ainda está em construção, mas a presença no Facebook tem sido positiva. “É uma ferramenta excelente que nos permite divulgar imensas campanhas e partilhar informações. Fazemos ações específicas que têm sido um sucesso. No ano passado, uma marca decidiu associar-se ao nosso aniversário e oferecer 20% de desconto na venda de rações e a afluência foi enorme”, explica. A rede social é também utilizada para assinalar as efemérides ligadas ao mundo animal e criar alertas a nível de Saúde Pública consoante as épocas do ano.
A clínica aposta ainda na proximidade do cliente alertando por SMS, e-mail e contacto telefónico quando é chegada a altura de voltar para desparasitação ou vacinação. “O facto de receber um contacto da clínica é mais simpático para o cliente e, na minha opinião, é uma estratégia de gestão mais eficaz”, explica. O crescimento tem vindo a ser sustentado ao longo do tempo. E nem o facto de terem inaugurado em pleno verão foi prejudicial. “Temos vindo a aumentar a faturação todos os meses”, garante a diretora clínica. De igual modo, a equipa tem vindo a crescer de acordo com as necessidades.
Da clínica convencional aos serviços diferenciadores
Nesta clínica realizam-se consultas de medicina preventiva, mas também urgências (os casos mais frequentes de recorrência às mesmas são os problemas de pele e gastrointestinais, tanto em gatos, como em cães) e cirurgias com a respetiva recuperação pós-cirúrgica em recobro. Também é possível efetuar exames complementares de diagnóstico, como análises clínicas, medição da pressão arterial, Raio-X e ecografias. A CVA assegura também consultas de exóticos e medicina alternativa. “Como faço cirurgias de tecidos moles acabo por receber muitos casos referenciados, o que torna o nosso serviço mais abrangente.”
Considerando que a concorrência nem sempre é saudável, assume que trabalha muito bem com colegas. A CVA tem uma parceria com uma médica veterinária que faz domicílios e também com uma clínica low cost situada em Carcavelos. “O cliente do colega não é o meu cliente. Temos relação de ética e de respeito profissional, win to win”, explica. De igual forma, sempre que recebe casos de pacientes em risco de vida, opta por referenciar para o Hospital Veterinário do Restelo e para o VetOeiras – Hospital Veterinário, não só pela proximidade, como pela confiança que tem nos profissionais que trabalham em ambos os locais. “A decisão final é sempre do cliente, mas é assim que trabalho”, diz.
A diretora clínica garante que o balanço do negócio não podia ser mais positivo. “Passei a ter qualidade de vida, a dar maior assistência à minha família, a estar perto dos filhos e a conseguir ter férias, era algo que não acontecia nos primeiros anos em que me desdobrava em clínicas, trabalhava em vários locais, saía de casa às 8h00 e chegava já de madrugada.” Mas não se pense que o trabalho é pouco e que se consegue ter um horário das 9h00 às 17h00. “Tenho a sensação que alguns recém-licenciados idealizam esse cenário, mas quem vem para veterinária não pode pensar nisso. Apesar de ter uma vida mais calma, acabo por ter muito mais trabalho além da parte clínica, como a área de recursos humanos e toda a parte burocrática, que nem sempre são fáceis de agilizar”, defende, tendo a mais valia da sócia, que ajuda na parte de gestão.
Considera que o setor se divide em diversas situações: “há subemprego, médicos veterinários a mais, mas também profissionais que não querem trabalhar, querem arranjar emprego. Trabalhei durante muitos anos a recibos verdes, andei anos à espera de um contrato que nunca acontecia… Quando abri a clínica decidi que jamais iria submeter a um colega ao que eu passei. Tenho todos os funcionários com contrato. Considero que uma pessoa que tenha condições de trabalho e que esteja satisfeita veste a camisola de uma forma diferente”.
A aposta em serviços diferenciadores também tem sido uma mais-valia, como os banhos self service que decorrem todo o ano. “Muitos clientes dão banho aos seus animais a primeira vez que nos visitam, mas na seguinte já preferem que seja a nossa auxiliar a fazê-lo porque é algo trabalhoso. Há quem prefira dar banho aqui do que em casa e os meses mais fortes são novembro e dezembro porque os donos querem que os seus animais estejam mais bonitos no Natal”, conta. O banho inclui shampoo, secador e toalha, se necessário, e é realizado numa zona da clínica com acesso direto para a rua.
Projetos sociais
De quando em quando, a CVA associa-se a projetos sociais, a título individual, optando por não criar parcerias com associações depois de algumas tentativas falhadas. “Dou apoio a uma senhora que resgata gatos bebés de rua e traz as mães para serem esterilizadas. Recebemos uma média de 10 a 25 gatos por mês, o que confere uma grande casuística. Fazemos as vacinas, colocamos o micro-chip e a senhora dá os gatos para adoção. É a própria que suporta as despesas, mas não cobramos os serviços, apenas as vacinas e a medicação, mas a preço de custo, ou seja, abdicamos da nossa margem de lucro”, explica a diretora clínica.
Em novembro do ano passado, a clínica aceitou receber um dos animais resgatado pelo médico veterinário Nuno Paixão, em regime de pro bono, nos incêndios que afetaram Portugal no verão e no outono passados. “Recolhemos um dos animais que ficou com queimaduras em terceiro grau e estava completamente em pânico. Esteve connosco até março, fizemos o seu tratamento intervindo também ao nível da socialização. O cão foi batizado com o nome de Kaleo [que significa “o escolhido” em havaiano] e foi adotado depois de uma campanha de Facebook. “Começou a ganhar confiança connosco e depois de o conseguirmos estabilizar, acabou por ter muita sorte ao ser acolhido por uma família que não tinha outro animal e que está completamente focada nele”, explica Beatriz.