Em declarações à “Lusa”, o dirigente da associação, José Melo, afirmou que foram descarregadas no porto do Mindelo, na ilha cabo-verdiana de S. Vicente, 2.400 toneladas de carne de tubarão, só no ano passado.
«Se tivermos em conta que já se perdeu 40% do peso inicial, porque foram tiradas as vísceras e a cabeça, fica-se com uma ideia da quantidade de tubarões mortos», afirmou José Melo.
A carne de tubarão, acrescentou, é vendida depois nas ilhas espanholas das Canárias a cinco euros o quilo, sendo as barbatanas enviadas para o Japão e compradas a 28 euros por cada quilo.
Além disso, o ambientalista não se conforma com o facto de estarem a ser mortos tubarões apenas para se lhe tirar as barbatanas, sendo o resto deitado ao mar.
«Quando os barcos têm o porão cheio e se os pescadores ainda têm isco e alimentação, continuam no mar a apanhar tubarões só para lhes arrancar as barbatanas, deitando o resto fora. As barbatanas são fáceis de armazenar, porque basta porem-se a secar ao Sol, e depois estão prontas para enviar para o Japão», contou.
A Associação, que na semana passada foi distinguida pelo Governo de Cabo Verde pelos serviços prestados, inaugurou, no Mindelo, uma exposição sobre o massacre dos tubarões nas águas cabo-verdianas, com fotos, réplicas de algumas espécies e explicações sobre as diversas variedades que podem ser encontradas nas águas do arquipélago.
A iniciativa pretende sensibilizar a população e as autoridades para o problema que está a afectar Cabo Verde, que há 15 anos «era considerada a zona do Atlântico com maior incidência de tubarões» e hoje dificilmente se vê um.
«Tínhamos mais de 50 espécies, desde o tubarão martelo ao azul, gata, tigre, baleia…», exemplificou, alertando que no mundo existem cerca de 350 espécies, muitas delas ameaçadas.
O responsável elucidou que Cabo Verde ao ter acordos de pesca com a União Europeia, barcos espanhóis podem fazer o transbordo, isto é, colocar o peixe em contentores frigoríficos, nos portos do arquipélago, acrescentando que supostamente esses tubarões são pescados nas costas do Brasil.
«Mas nós sabemos, até temos declarações de capitães e de armadores desses barcos, que o tubarão está a ser pescado em águas de Cabo Verde. E também estão a capturar espadarte. No ano passado descarregaram quase 400 toneladas de espadarte no Mindelo», assegurou.
José Melo alerta para a utilidade do predador, que consome peixes doentes e mortos, contribuindo para regular o equilíbrio ecológico marinho.
Segundo a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (CITES), da ONU, várias espécies de tubarão estão em extinção.
A China é o maior consumidor do mundo de barbatana de tubarão, importando cerca de quatro mil toneladas por ano. Alguns países, entre os quais o Brasil ou os Estados Unidos, já impuseram proibições ao corte de barbatana de tubarões, sendo que, anualmente, são mortos 100 milhões de tubarões só por esse motivo, segundo estima a Imprensa especializada.
Cabo Verde: Associação denuncia barbárie contra tubarões
O facto de pescadores espanhóis estarem a matar, em larga escala, os tubarões das águas de Cabo Verde foi, segundo o “Diário Digital”, alvo de denúncia por parte da Associação Biosfera 1, uma organização ambientalista do arquipélago.