Entrevista a Daniela Belo, Médica veterinária a trabalhar em clínica e cirurgia de animais de companhia no Reino Unido
Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?
Trabalho em clínica e cirurgia de animais de companhia, que foi a área que sempre me interessou.
Como surgiu a oportunidade de trabalhar no estrangeiro? Onde trabalha neste momento e qual a sua função?
Realizei alguns estágios fora de Portugal durante o curso e sempre tive interesse em eventualmente a procurar uma oportunidade fora do país. Trabalho num grupo de veterinária independente no Reino Unido que detém um hospital veterinário e cinco clínicas. O meu trabalho difere bastante de dia para dia. Há dias que faço maioritariamente consultas e alguns exames complementares de diagnóstico, outros que me dedico maioritariamente à cirurgia e ainda outros em que sou responsável pelos pacientes internados. Todos os dias acabam por ser diferentes, o que me dá a oportunidade de desenvolver as diferentes áreas.
O que a fez tomar a decisão de sair de Portugal?
Há cerca de três anos estava a trabalhar em Portugal e senti a necessidade de mudar para me desenvolver profissionalmente. Na altura não encontrei oportunidades que satisfizessem os meus requisitos. Sempre tive interesse em vir a ter uma experiência de trabalho no estrangeiro e achei que era o momento ideal para tentar encontrar uma oportunidade que me desafiasse, pessoal e profissionalmente.
Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países? Ou seja, como é um dia de trabalho normal?
Existem algumas diferenças: a grande maioria das consultas são feitas por marcação, o que permite estruturar o dia. Geralmente existe um protocolo delineado para as diferentes situações/procedimentos (somos livres de o seguir ou não), os centros de referência estão bastante disponíveis para ajudar em qualquer caso clínico e temos uma noção muito definida de quando referir um caso. O veterinário é completamente independente com os seus casos clínicos e é esperado que tenha alta produtividade e eficiência. Como referi, os dias tendem a ser diferentes uns dos outros, mas regra geral o dia começa entre as 8h00 e as 8h30. Certos dias estou dedicada maioritariamente a consultas. Se estiver responsável pelos pacientes internados examino cada paciente, avalio a progressão do estado clínico e traço um plano de diagnóstico/tratamento para o dia. Caso seja o meu dia de cirurgia começo por avaliar cada um individualmente e realizar as cirurgias marcadas. Independentemente da área a que esteja designada, o dia é sempre muito exigente.
Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?
Adaptei-me bastante bem. Não é de todo difícil, mas não é para todos. Claro que os amigos e a família fazem muita falta, assim como a comida e o Sol “português”. Custa particularmente quando há um momento mais triste/delicado e não estamos lá para dar o apoio que gostaríamos.
Quais os seus planos para o futuro?
Não tenho o futuro delineado, mas tenciono tirar um certificado de medicina avançada em medicina interna e continuar a desenvolver-me como profissional.
Equaciona voltar a Portugal?
Gostaria bastante que isto fosse possível, no entanto teria de me proporcionar a oportunidade de continuar a desenvolver a carreira, com uma casuística elevada e desafiante. Para já não está nos meus planos a curto/médio prazo.
Que conselhos dá aos recém-licenciados com dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Esta é um a questão difícil. A ideia que tenho é que, neste momento, não há propriamente falta de oportunidade de trabalho, mas imagino que as boas oportunidades – um emprego com boa casuística, colegas com experiência que estejam dispostos a ensinar, e com um ordenado justo – sejam escassas. O conselho que posso dar é que apostem na formação e que considerem todas as opções, dado que a medicina veterinária é uma área muita vasta e com muitas saídas profissionais e existe sempre a possibilidade de tentar ter contacto com medicina veterinária no estrangeiro.
Qual o seu sonho?
Que a medicina veterinária em Portugal tivesse o respeito que merece. As situações de usurpação de funções, a questão de as farmácias venderem medicamentos/vacinas sem receita e alguns colegas cobrarem um valor muito inferior àquele que seria devido são questões que, na minha opinião, não dignificam a medicina veterinária no nosso país e devem ser tomadas como um assunto muito sério.