Michael Lappin, presidente do Comité One Health da Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA, na sigla em inglês), confirmou que o vírus SARS-CoV-2, responsável pela pandemia de covid-19, é uma ‘zoonose inversa’, com humanos infetados que transmitem a doença a animais de companhia. Durante um webinar da associação, que decorreu a 15 de setembro, Lappin sublinhou que, com um reduzido número de casos relatados em todo o mundo, os animais infetados apresentaram apenas sintomas ligeiros e que não há provas de transmissão de um animal de companhia para um novo ser humano.
O presidente do comité da WSAVA acrescentou ainda que, embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha relatado mais de 28 milhões de casos confirmados em seres humanos, incluindo mais de 900 mil mortes, o número de casos em animais de companhia rastreados pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) continua a ser ínfimo.
Em relação aos surtos em explorações de martas, na Holanda e nos EUA, no início deste ano, Lappin advertiu que foram provavelmente causados por transmissão humana. Embora mais cães, gatos e furões possam, sem dúvida, testar positivo ao longo do tempo, o responsável pediu aos médicos veterinários que se lembrem do contexto e reiterou que os números em geral continuam a ser muito baixos.
Esta posição contraria o estudo, ainda não revisto por pares, que está a investigar os surtos de 16 explorações de visons nos Países Baixos, analisando os animais e os seres humanos que lá viviam e trabalhavam através da sequenciação dos genomas na sua totalidade. De acordo com as conclusões do estudo, embora tenha sido um humano a infetar os animais inicialmente, estes terão sido depois responsáveis pela transmissão do SARS-CoV-2 a outros humanos.
A pesquisa Jumping back and forth: anthropozoonotic and zoonotic transmission of SARS-CoV-2 on mink farms foi divulgada por investigadores de diferentes centros neerlandeses, incluindo o Centro Médico Erasmus e as Universidades de Utretch e Wagenigen.
Sobre como a covid-19 afeta realmente os animais de companhia, Lappin comentou que estudos experimentais na Universidade Estatal do Colorado, EUA, tinham indicado que os gatos não mostraram sinais, libertaram o vírus apenas por um curto período de tempo, podiam transmitir a doença a outros gatos e apresentaram uma forte resposta de anticorpos. Por sua vez, os cães não mostraram sinais, não libertaram o vírus vivo e também demonstraram uma forte resposta de anticorpos. Michael Lappin referiu ainda que estão a ser recolhidos mais dados para explorar se a doença clínica em cães ou gatos naturalmente infetados é comum ou relevante e que ainda não está claro se estes animais necessitam de tratamento específico.
No que concerne à saúde preventiva, Richard Squires, presidente do Grupo de Diretrizes de Vacinação da WSAVA, recordou aos médicos veterinários que, embora as análises de risco-benefício sejam sempre relevantes para as consultas de vacinação, nunca foram tão pertinentes como durante a pandemia.
Squires sugeriu que a prioridade deveria ser a proteção de cães e gatos com vacinas essenciais com a última ou única dose dada não antes das 16 semanas, devido à interferência persistente de anticorpos maternos em alguns indivíduos. Além disso, salientou a importância do período crítico de socialização dos cachorros de 4-16 semanas de idade, uma vez que tal pode afetar o seu comportamento para o resto da vida.
Para Squires, a segunda prioridade deveria ser a proteção contra doenças potencialmente ameaçadoras locais, utilizando vacinas não essenciais. O responsável relembrou também que não há razão para acreditar que as vacinas existentes contra o coronavírus protejam os animais de estimação contra o SARS-CoV-2.
Por sua vez, Peter Karczmar, membro do Comité de Saúde da WSAVA One Health, abordou as mais recentes abordagens de tratamento médico para a covid-19 em humanos e recomendou medidas preventivas adequadas às clínicas veterinárias.
O webinar pode agora ser visto em: https://bit.ly/3688hMf