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Médicos Veterinários

Valorização através da comunicação: aos veterinários o que é dos veterinários

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Há muito que aponto a gritante falta de reconhecimento do labor da classe veterinária. A ela, junta-se também a incapacidade (ou até ausência da preocupação) de se valorizarem aos olhos da sociedade. O que não é de estranhar. Entre cargas laborais extenuantes e clientes que, por vezes, tendem a pensar mais no seu bolso do que na saúde dos seus animais, as perspectivas não se afiguram promissoras.

Significará isto que o que é merecido e devido aos profissionais veterinários é inatingível?

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Deixando para segundo plano o que entidades alheias à área poderiam fazer para melhorar esta situação, devemos primeiramente olhar para os profissionais em questão, para nós próprios. Podemos e devemos evoluir proativamente – de acordo com a premissa de que somos uma classe que teve, tem e terá um papel determinante no futuro da sociedade. Afinal de contas, quem é que assegura a saúde e bem-estar dos animais de companhia, unanimemente considerados como família pelos tutores? Quem desempenha um papel fundamental na saúde dos animais de produção e controlo da qualidade de produtos derivados? Quem investiga e contribui para a prevenção e controlo de futuras pandemias? A resposta é demasiado óbvia, mas parece que só o é para alguns.

Nesse caso, como se poderá equilibrar a balança da perceção da real importância da Medicina Veterinária?

 

Começando pelo canal tradicional, aquele que ainda regista as maiores métricas de impacto junto do público, a televisão, facilmente percebemos que ainda existe bastante espaço para ser trabalhado na área da veterinária. Não me refiro a rubricas onde falamos de um ou de outro tema relacionado com os animais – o que também é extremamente importante – mas sim falar da profissão no seu todo. Dar a conhecê-la nas suas diferentes vertentes, diversificando nos temas e cimentando na mente do público o seu (ainda) desconhecido e extraordinário alcance. Como é o caso do papel crucial na segurança dos alimentos, na produção de alimentos derivados de animais e nas condições higiossanitárias onde estes são mantidos e a monitorização constante de zoonoses – uma função que certamente alavancará a atenção do público, depois de todas as situações negativas que ocorreram durante e após a pandemia de Covid-19.

À semelhança do que acontece na televisão, também na imprensa, sobretudo generalista, há muito caminho a percorrer. Apesar de vários órgãos de comunicação social interessarem-se cada vez mais pelo tema dos animais de companhia, apercebemo-nos que existe ainda uma certa superficialidade no que diz respeito à valorização da profissão. Um tema que, por experiência própria, gera sempre bastante atração (e comoção) nestes meios, e também um pouco de forma geral, é o do abandono animal. Veterinários envolvidos em tarefas de resgate, CROAs e em outras entidades que atuem neste âmbito têm aqui uma excelente oportunidade, um holofote, para valorizar a profissão aos olhos da sociedade.

 

Por último, e porque este trabalho também deve ser feito todos os dias com os tutores, nos CAMVs há aspetos que podem ser aperfeiçoados para evoluir no impacto positivo que é causado junto daqueles que se podem tornar valiosíssimos embaixadores externos da nossa profissão. Sabendo que a comunicação é, possivelmente, um dos maiores obstáculos no entendimento entre seres humanos – muito por causa da diferente forma de interpretação, vivências e forma de ser de cada um – é, portanto, essencial praticar uma comunicação da forma mais transparente e assertiva possível com os clientes. Neste ponto, existem duas características adicionais e determinantes para obter a satisfação que procuramos: paciência e empatia – especialmente em situações de elevado stresse para os tutores e quando há notícias negativas a serem comunicadas.

Tudo isto deverá ser aplicado nas diferentes etapas da jornada clínica, desde o momento em que chega ao CAMV e é feito o atendimento pela equipa administrativa, passando pela consulta e continuando no acompanhamento posterior à mesma. Igualmente importante, é pedir de forma contínua feedback para assim poder implementar as melhorias que a equipa veterinária analisou e confirmou serem necessárias.

 

Comunicar a importância da veterinária, não apenas aos clientes, mas também a amigos, conhecidos e com quem quer que nos cruzemos, é nada menos do que um dever, algo que devemos orgulhosamente exibir, ostentar até, sem prepotência, mas com a convicção da extrema importância do nosso contributo para a sociedade. Porque se há verdade nua e crua, impossível de contornar, é esta: sem a Medicina Veterinária e aqueles que a ela se dedicam afincadamente, o mundo e a saúde de todos estariam inimaginavelmente piores.

*Artigo de opinião publicado na edição 185, de setembro, da VETERINÁRIA ATUAL.

 

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