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Evento

União profissional e inovação como respostas para os desafios da pecuária e dos equinos

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O Hospital Veterinário Muralha de Évora, em parceria com a Equimuralha, vai realizar a 15a edição das Jornadas Internacionais Hospital Veterinário Muralha de Évora, nos dias 1 e 2 de março deste ano no Evorahotel, em Évora. Como habitual, o congresso de animais de produção e equinos pretende dar uma visão 360º à volta dos setores, procurando encontrar soluções para os diferentes desafios que enfrentam. A “sobrevivência” do mercado da carne ocupará um lugar de destaque na discussão, assim como a inovação e o bem-estar dos equinos.

“Temos ao longo de todas as edições mantido uma constante de inovação e esta não será exceção”, refere Nuno Prates, Presidente da Comissão Organizadora numa mensagem divulgada no site do evento. Para o efeito, a construção do programa técnico e científico foi pensada para chegar a todas as frentes da pecuária, procurando encontrar respostas às principais questões que se levantam. “Pretendemos que estas jornadas continuem a ser uma forte referência no setor bem como um espaço de partilha de experiências, conhecimentos e de agradáveis momentos de convívio e negócio”, denota Nuno Prates, lembrando os números relativos à edição de 2023, na qual fizeram parte do painel de oradores cerca de 55 profissionais e 850 congressistas.

 

Como habitual, o pograma do evento será dividido por duas salas: a Fórum, direcionada aos animais de produção, e a Planície, com foco nos equinos. Este ano, um dos temas em destaque na Sala Fórum recairá sobre a união e o associativismo do setor. João Ferreira, médico veterinário e fundador da Agriangus, será um dos oradores a debater o tema e manifesta o seu agradado com a escolha do programa. “Como principal impulsionador das novas tecnologias na agropecuária, especialmente no extensivo, sinto que, nos dias de hoje, é importante pararmos de falar em tecnologia e inovação para pensar e reorganizar o setor.” Vê na união e no associativismo a “única solução para a prosperidade”, particularmente no contexto de Portugal, País com pequena dimensão, e que está inserido no meio competitivo europeu. “Teríamos todos a ganhar se tivéssemos uma estrutura que nos permitisse vender de forma organizada, a uma só voz, sem perpetuar a forma de venda produtora-produtor, o que possibilitaria negociar de forma mais coerente perante as grandes superfícies e tornar a exportação mais democratizada – não ficando entregue apenas a duas ou três entidades.” Na sua perspetiva, esta união que descreve poderia ainda beneficiar os intervenientes que já se encontram no circuito da exportação, na medida em que “teriam acesso a um maior número de animais, de forma mais simples e organizada”, menciona. A conceção do médico veterinário inclui não só a perspetiva da comercialização, mas também da produção e do acesso a matérias-primas, considerando ser abonatória uma ação conjunta que possibilite efetuar compras em grupo – com impacto nos custos –, ter previsão de entregas e padronizar os produtos nas prateleiras do supermercado.

Desafios e potencialidades no extensivo: Profissionalização, sustentabilidade e competitividade

 

Quando questionado sobre o principal desafio da pecuária extensiva, João Ferreira identifica a profissionalização. Na sua opinião, esta passa não só pela especialização, como também pela organização do setor. “Os produtores têm de deixar de lado a forma romântica com que encaram o extensivo e começar a profissionalizá-lo, tornando-o mais rentável e eficiente: do ponto de vista ecológico e de sustentabilidade social”, atira. O médico veterinário sublinha ainda o endividamento crescente dos produtores pecuários e a sua dependência de subsídios. Para colmatar esta tendência, reforça João Ferreira, é preciso conjugar dois fatores: “preservação do meio ambiente e manutenção viável o negócio”. Adianta ainda a necessidade de representação do setor, através de uma equipa de comunicação, que leve avante as suas ambições.

João Ferreira realça aquelas que considera serem as maiores vantagens competitivas do regime extensivo comparativamente ao intensivo: “a imagem que traz para o consumidor, a diferente qualidade organoléptica dos produtos e o menor impacto ambiental”.

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As suas intervenções no evento vão ser essencialmente focadas na pecuária extensiva, a sua área de atuação. Neste sentido, quis realçar aquelas que considera serem as maiores vantagens competitivas do regime extensivo comparativamente ao intensivo: “a imagem que traz para o consumidor, a diferente qualidade organoléptica dos produtos e o menor impacto ambiental”. Em contrapartida, volta a sublinhar a necessidade de rentabilidade e de o tornar sustentável do ponto de vista económico, já que verifica menores índices de produtividade. “Há que arranjar formas de o tornar mais competitivo, caso contrário as explorações que são extensivas deixam de ser rentáveis e convertem-se em propriedades agrícolas intensivas, algo que já estamos a começar a assistir no baixo Alentejo”, remata.

Medicina integrativa e bem-estar no setor equino 

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Beatriz Grenho, médica veterinária no Equimuralha, fará parte do painel de oradores da Sala Planície e traça o cenário do setor equino enquadrando-o no atual contexto socioeconómico, notando o desafio da disponibilidade de recursos que se reflete na sua comercialização, tanto a nível de valores como na perspetiva de qualidade. “Este facto fez com que muitos proprietários se vissem na necessidade de procurar alternativas e estas trouxeram outros problemas consigo. Compreendemos que não é fácil gerir todas estas variantes numa realidade que para muitos é um luxo, mas para outros é também um negócio. Deste modo, decidimos trazer temas e oradores que possam aconselhar os criadores e proprietários nestas escolhas tão importantes no seu dia a dia”, refere a médica veterinária.

Não esquecendo o tema do desporto, presença assídua no programa do evento, Beatriz Grenho considera-o uma fonte de preocupação, mas também um motor de inovação que não deve ser ignorado. “Temos projetos muito ambiciosos em Portugal que querem apresentar-se ao melhor nível”, remata.

A intervenção da médica veterinária nas Jornadas Internacionais Hospital Veterinário Muralha de Évora está essencialmente focada na medicina integrativa e no bem-estar do cavalo e, em jeito de antevisão, a profissional dá nota da evolução desta área, relativamente recente na medicina equina, mas que se tem mostrado em constante desenvolvimento. Apesar de ser transversal às diversas vertentes de utilização do cavalo, a verdade é que ainda está mais associada à medicina desportiva, alavancada pela competição que, naturalmente, exige uma resposta cada vez mais proativa e completa. “O modelo da medicina integrativa pretende ir além dos tratamentos que são feitos, regra geral, localmente, através de tratamentos ditos convencionais, oferecendo uma abordagem global ao paciente e considerando os vários sistemas que podem ter impacto na performance,” sublinha.

Beatriz alerta ainda para a importância do diagnóstico funcional, particularmente em quadro de dor ou desconforto: “Sempre que estamos perante esta condição, desenvolve-se uma resposta adaptativa que pretende reajustar o comportamento e o movimento numa tentativa de evitar essa mesma experiência de dor ou o seu agravamento. Estas respostas adaptativas são formadas com base em informação neuro motora e sensorial e alteram a biomecânica funcional da locomoção que, muitas vezes, não se autocorrige após o tratamento único da causa primária. Tendo este conceito em mente é fácil perceber que tratar apenas os sinais clínicos localmente possa ser um bocadinho redutor e passa a fazer sentido procurar estabelecer um diagnóstico funcional que permita identificar e tratar potenciais restrições, limitações e desconforto secundários.” Esta atuação irá beneficiar o bem-estar e a carreira desportiva daquele animal porque lhe estão a ser concedidas ferramentas protetoras para o seu aparelho locomotor, que, indica a médica veterinária, “vão contribuir para que este regresse o mais rapidamente possível ao plano de treino, reduzindo o risco de lesões e evitando as tão temidas paragens”.

No que diz respeito ao protocolo de reabilitação, Beatriz verifica atualmente uma maior adesão ao mesmo por parte dos proprietários, quando confrontados com uma lesão, frequentemente, ortopédica. No entanto, ressalva que “há um mundo para lá da aplicação de eletroterapias (laser, shockwave, eletroestimulação, etc.) na reabilitação de cavalos” e é este o tema que pretende levar aos proprietários. “No fundo, gostava de sensibilizar para a necessidade de olharmos para o cavalo como um todo e alargarmos o nosso leque interventivo numa abordagem multimodal e multidisciplinar.” Por outro lado, sublinha também a importância do trabalho de equipa entre as várias áreas – medicina interna, ortopedia, reabilitação e fisioterapia – na otimização da performance e na implementação de uma abordagem mais preventiva, “conectando as várias patologias e as suas consequências, prestando atenção aos detalhes, otimizando pequenas restrições, restabelecendo e maximizando a função e potenciando a carreira desportiva a longo prazo”.

 

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