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Terapia biodegradável e sustentável que substitui antibióticos e químicos é portuguesa e inovadora

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A ideia surgiu no decorrer de uma tese de doutoramento e já faz a diferença na vida de cães, gatos e tutores. Com aplicabilidade real. O sonho? Encontrar o parceiro certo para escalar a solução para outras zonas do País e até do mundo.

A terapia plaquetária para tratamento de feridas cutâneas em cães e gatos PlatGen tem sido desenvolvida pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), decorrente da tese de doutoramento de Carla Soares, na área de Ciências Veterinárias. A tese foi defendida em 2023, mas este projeto de investigação surgiu muito antes.

O produto é aplicado diretamente na lesão “sendo absorvido de uma forma natural ao longo do tempo, diminuindo a frequência da mudança de penso. Consequentemente, diminui os resíduos e desperdícios produzidos em contexto clínico, assim como os gastos associados a diferentes consultas/deslocações, incluindo intervenções cirúrgicas, que podem ser complexas e que comportam riscos, relacionados com a anestesia”, pode ler-se num comunicado de imprensa enviado às redações e publicado na Veterinária Atual, a propósito de um prémio que foi atribuído a este projeto.

“Estamos à procura de uma parceria com a indústria farmacêutica, o que é um processo muito mais criterioso e demorado” – Carla Soares

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Quando começou a ser orientada pela professora Maria dos Anjos Pires, uma das cofundadoras do projeto PlatGen, foi possível perceber as potencialidades. “Logo nessa altura, a Carla teve a ideia de que este produto, tal como ela o desenvolvera, não estava descrito em lado algum. E começámos logo a ter uma proposta de uma patente”, explica. Antes da sua entrada, o orientador foi Pedro Carvalho, que tem um grande reconhecimento na área de medicina  regenerativa em Portugal. É ele o terceiro elemento da equipa, à qual se juntou também Luís Barros, diretor clínico da Vetlamaçães, em Braga, onde esta terapia está a ser aplicada no dia a dia.

A equipa começou por pegar em dois hemoderivados – o Concentrado de Plaquetas (tradicionalmente designado por plasma rico em plaquetas – (PRP) e a Fibrina Rica em Plaquetas (PRF) – e apesar de existirem muitos protocolos descritos, nenhum deles era sustentado por uma prova validada. Os ensaios clínicos começaram nos cães e também em gatos. “Neste último caso, como tivemos alguma sorte com a casuística, os resultados foram tão bons, que acabámos por dar prioridade aos felinos para publicação de artigo científico”, afirma a médica veterinária. Inicialmente, estes ensaios começaram com quatro gatos e mais de 25 cães, valores que estão hoje ultrapassados porque esta terapia já é frequentemente aplicada na prática real. Nesta fase do projeto e de validação clínica, juntou-se ao grupo de trabalho Isabel Dias, docente na UTAD e médica veterinária com trabalhos na área da medicina regenerativa.

E falamos de aplicação real, e não de um ensaio laboratorial. “Ou seja, não induzimos feridas, não fazemos nenhuma manipulação para conseguir obter essa aplicação.  Recebemos animais que chegam à clínica, e que muitas vezes já passaram por várias fases e tratamentos, incluindo cirurgia, e nada resultou”, explica Maria dos Anjos Pires. Os animais que são tratados com este produto, maioritariamente são por referenciação de colegas, que procuram um tratamento “eficaz, menos moroso, mais barato e menos stressante para o tutor e para o animal”.

Os animais chegam à clínica, maioritariamente por referenciação de colegas, que procuram um tratamento “eficaz, menos moroso, mais barato e menos stressante para o tutor”, refere Maria dos Anjos Pires

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A terapia já tem uma patente nos EUA, foi premiada por diversas vezes e conta com vários artigos científicos publicados, de acesso livre, para que outros médicos veterinários possam conhecer melhor esta solução. Com provas dadas e validadas cientificamente, o sonho passa agora por encontrar um parceiro forte, “quer na parte da continuação da patente, quer na finalização do produto estável para depois começar a comercializar”, refere Maria dos Anjos Pires. E Carla Soares acrescenta: “Estamos à procura de uma parceria com a indústria farmacêutica, o que é um processo muito mais criterioso e demorado”. A ciência acontece e evolui, mas sem financiamento não é possível dar continuidade a descobertas promissoras.

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