Xavier Roura, médico veterinário no Hospital Clínico Veterinário da UAB, em Espanha, deu uma masterclass sobre Leishmaniose, no dia 20 de maio, a fim de assinalar os dez anos de Leisguard, da Ecuphar. A principal mensagem a reter da sua apresentação foi: “em áreas endémicas [devemos] suspeitar sempre que o cão ou o gato possam ter leishmaniose”.
A prevalência de leishmaniose em cães e gatos parece estar a aumentar. As alterações climáticas podem ser uma das causas – o flebótomo começa a estar presente em regiões onde era quase inexistente, como no norte de Portugal e de Espanha, ainda que por um período de tempo menor -, juntamente com maior aumento de casos diagnosticados. “Pode acontecer a doença já existir e temos mais casos agora porque os veterinários estão mais sensibilizados em incluir no seu diagnóstico a presença da leishmaniose”, disse Xavier Roura, médico veterinário no Hospital Clínico Veterinário da UAB, em Espanha. À margem de uma masterclass, que decorreu dia 20 de maio em Lisboa para assinalar os dez anos de Leisguard da Ecuphar, o especialista nesta área salientou também que este aumento pode estar relacionado com maior diagnóstico nos gatos. “Nos gatos, até há pouco tempo não era comum pensar-se na possibilidade de testar seropositivo para a leishmânia, mas numa zona onde há cães com leishmaniose, certamente terás gatos também infetados e/ou doentes.”
Quando suspeitar de leishmaniose nos gatos e nos cães
O primeiro passo para o diagnóstico da leishmaniose é suspeitar da presença desta doença nos pacientes. Xavier Roura transmitiu essa mensagem aos mais de 40 veterinários presentes na masterclass. “Suspeitar sempre que pode ser leishmaniose”, reiterou, ainda que “nem sempre estar seropositivo para a leishmânia signifique ter a doença”. A leishmaniose, sendo uma doença sistémica, pode dar muitos sinais clínicos, que por vezes podem ser confundidos com outras patologias. Entre os vários sinais clínicos, as lesões dermatológicas são os mais frequentes: 80% dos cães têm sinais dermatológicos, os mais frequentes são úlceras, dermatite nasal e postular. Há também um aumento dos nódulos linfáticos. O mesmo acontece para os gatos.
A presença da leishmaniose pode estar igualmente associada a apatia e perda de peso. Xavier Roura recordou que é preciso ter também em conta a área onde o animal reside porque “nas zonas endémicas, mais de 60% dos cães estão infetados e destes, 10% pode desenvolver a doença”.
Imunoterapia ganha destaque
No que respeita ao diagnóstico, poucas mudanças têm existido nas últimas décadas. Exceção feita ao diagnóstico nos gatos em que testes serológicos, ao contrário do que se preconizava, poderão ser mais interessantes para identificar a presença da leishmânia.
Ao nível da terapia houve alguns avanços, mais precisamente no recurso à imunoterapia, que “está atualmente a ser muito utilizada para tratamento, mas também para prevenção”, afirmou Xavier Roura. A imunoterapia apresenta-se como uma excelente opção inclusive no tratamento de cães que demonstram alguma resistência face aos tratamentos mais tradicionais. “Como não há tratamentos novos a imunoterapia também pode ser uma das ajudas para tentar gerir este tipo de casos que são mais complicados”, reforçou o veterinário.
Como agir após o diagnóstico?
Uma vez feito o diagnóstico, os passos a seguir dependem um pouco das características do paciente, ou seja, se tem ou não sinais clínicos de leishmaniose, porque há pacientes que estão seropositivos, mas não têm manifestação da doença. Em função da situação, o médico veterinário deve então agir de forma preventiva ou tratar a doença caso se manifeste. “Nos cães sãos, mas infetados, a imunoterapia é um método de prevenção com resultados positivos. Nos animais com manifestações da doença, primeiro é preciso tratar as mesmas, e em seguida aplicar também a imunoterapia pois ajuda na remissão da doença”, esclareceu o orador, sublinhando que “primeiro tratamos a doença. Quando clinicamente o paciente está melhor inicia-se a imunoterapia”.
* Leia o artigo na íntegra na edição de junho de 2022 da VETERINÁRIA ATUAL.