Após a internacionalização em Angola e no Brasil, a Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU) agarrou um novo desafio: o Hospital Veterinário Universitário de Paredes, um projeto que vai permitir, em simultâneo, a prática clínica e a formação superior num espaço com mais de 4000 m² de área, inaugurado no passado dia 13 de junho e que coloca Paredes no epicentro da medicina veterinária.
O objetivo do Hospital Veterinário Universitário de Paredes parece claro: ser a entidade mais inovadora e bem equipada, na área da medicina veterinária, a nível nacional e ser um dos maiores hospitais de medicina animal da Península Ibérica. Mãos à obra, a CESPU, em parceria com a OneVet Group, aposta na diferenciação de serviços e na formação, pilares que sustentaram um investimento que ultrapassou os 8,5 milhões de euros. É aqui, no Hospital Veterinário Universitário de Paredes, que tanto os alunos do mestrado integrado em Medicina Veterinária como os da licenciatura de Enfermagem Veterinária vão pôr em prática a aprendizagem das aulas teóricas. Porém, António Almeida Dias, presidente do Conselho de Administração da CESPU, vai ainda mais longe e, na sessão de inauguração, afirmou que será também um local onde profissionais que já estão na área possam renovar os seus conhecimentos.
Se nesta primeira fase, o Hospital Veterinário Universitário de Paredes vai acolher 80 alunos, do 3º ao 5º ano, o objetivo é alcançar os 120 alunos por ano tanto do Instituto Universitário de Ciências da Saúde (IUCS) como da Escola de Tecnologias da Saúde do Tâmega e Sousa (IPSN – CESPU). “As técnicas inovadoras que aqui vão aprender farão toda a diferença no futuro percurso de cada médico ou enfermeiro veterinário”, afirmou Nuno Vieira e Brito, coordenador do curso de Medicina Veterinária.
Já os alunos do 1º e 2º ano do curso continuarão a usufruir das aulas nas instalações do Instituto Universitário de Ciências da Saúde, em Gandra. Oftalmologia, Odontologia, Neurologia e Ortopedia são algumas das especialidades desta nova unidade hospitalar. Contudo, são as salas de Imagiologia que prendem a atenção de quem visita o local, tal é a inovação dos equipamentos de Raio-x, TAC e ressonância magnética que a compõem.
  “As técnicas inovadoras que aqui vão aprender farão toda a diferença no futuro percurso de cada médico ou enfermeiro veterinário.” – Nuno Vieira e Brito, coordenador do curso de Medicina Veterinária
Uma nova imagem de hospital
Quando se visita o Hospital Veterinário Universitário de Paredes, fica-se com a noção de tudo ter sido pensado ao pormenor. O espaço está preparado para receber animais domésticos, exóticos, de produção e equinos, mas cada uma destas espécies tem a sua própria área. Uma separação que existe até entre os gatos e os cães, de modo a ter o menor número de constrangimentos, tranquilizando assim tanto os animais como os próprios tutores. Um dos exemplos desta ideologia é a chamada ‘Quiet Room’, pensada para tranquilizar os tutores dos animais que estão em situação mais crítica, como são os casos oncológicos.
Orgulhosa, Juliana Moreira, diretora clínica, salientou que esta unidade hospitalar “é única a nível nacional em termos de infraestruturas, de equipa e de serviços”. Acrescentou que apenas falta “a creditação para ser um hospital pet friendly”, mas acredita que está para breve.
Assim, cães, gatos e animais exóticos têm os seus próprios consultórios, salas de internamento, salas de espera e os respetivos blocos cirúrgicos. E ainda são divididos pelo tamanho, ou seja, como animais de grande ou pequeno porte. Neste espaço ainda existem as áreas de doenças infetocontagiosas, ecografias, ecocardiografias, Ortopedia, Neurocirurgia, cirurgia de tecidos moles, Odontologia, Endoscopia, Raio-x, TAC, ressonância magnética e uma farmácia. Também a comodidade dos colaboradores foi pensada, existindo salas onde os profissionais podem usufruir das suas pausas.
Um cavalgar de excelência
Os cavalos ou as éguas têm a cave toda destinada aos devidos tratamentos e cirurgias. O transporte no interior das instalações pode ser feito via aérea, através de um sistema montado ao longo do perímetro, de modo a provocar o mínimo de impactos nos animais doentes. Outro dado relevante são as salas acolchoadas onde os equinos são levados após as anestesias ou cirurgias, de forma que, caso ocorra uma queda, exista sempre uma espécie de amparo. À semelhança dos outros pisos, também foram criadas condições para que os alunos assistam em tempo real a todo o procedimento junto dos animais. Neste setor também existe o serviço de Imagiologia, cujos equipamentos têm dimensões próprias para o tamanho destas espécies. Aliás, anteriormente nestes casos, a ressonância magnética apenas existia em Lisboa. A este serviço juntam-se ainda os de Necrópsia, laboratórios de Anatomia Patológica e câmaras frigoríficas. O picadeiro terá um papel fundamental na recuperação, até porque terá uma pequena pista dura para testar os movimentos dos cavalos, que estará finalizado brevemente. Além deste serviço no hospital, existem igualmente as equipas móveis que se deslocam às quintas ou espaços de criação com o mesmo intuito de tratar animais como bovinos, caprinos ou suínos.
Menos teoria, mais prática
O “ensino em tempo real” é uma das principais premissas do Hospital Veterinário Universitário de Paredes. Ao longo dos pisos, os microscópios, os tubos de ensaio e as provetas são a mostra dos vários laboratórios existentes e que têm uma forte ligação com a Microbiologia, as Tecnologias Alimentares e as doenças parasitárias. Aqui existem pequenas salas envidraçadas onde os alunos podem assistir tanto aos tratamentos administrados como às cirurgias.
“É um privilégio inaugurar umas instalações com esta magnitude”, afirmou Paulo Pimenta, diretor de Operações da OneVet Group. Explicou ainda que este projeto “veio trazer uma nova dinâmica à medicina veterinária ao longo da Península Ibérica”, fruto da evolução que esta área teve nos últimos 20 anos.
Além disso, existe ainda a possibilidade de estes procedimentos serem acompanhados de forma remota. “É sem dúvida um dos maiores e mais completos projetos de ensino em ambiente real”, referiu António Almeida Dias à VETERINÁRIA ATUAL. Uma ideia partilhada por Nuno Vieira e Brito, que salientou a importância de, futuramente, reduzir “o tempo das aulas teóricas para o estritamente necessário, de forma a promover mais a vertente prática”.
Porém, não deixou de frisar que a “excelência do ensino” praticado nesta unidade hospitalar e na CESPU obrigará “a que a diferenciação esteja sempre vincada, obrigando-nos a ser uma referência entre todas as universidades que existem”. Dito isto, deixou um rasgado elogio ao corpo científico e técnico que se dedica à docência.
A outra novidade que ocorreu durante a inauguração foi divulgada por Alexandre Almeida, presidente da Câmara de Paredes. De acordo com o autarca, vai nascer outro polo de ensino no terreno ao lado do Hospital Veterinário Universitário, tratando-se de uma Escola Superior na área das Ciências da Saúde. “É um projeto que vai complementar o que está a ser inaugurado hoje. Já está terminado o projeto de arquitetura, estando apenas a serem ultimadas as especialidades. Mal arranque a abertura do financiamento dos fundos 2030, avança-se de imediato com a construção”, disse.
A parceria certa
A ideia de desenvolver este Hospital Veterinário Universitário de Paredes, por parte da CESPU, contou com um parceiro fundamental: a OneVet Group, cuja acionista é a UnaVets Group. Com uma larga experiência na área, esta entidade aceitou o desafio lançado por António Almeida Dias e centrou os serviços do antigo Hospital Veterinário de Paredes e de uma clínica neste novo projeto. “É um privilégio inaugurar umas instalações com esta magnitude”, afirmou Paulo Pimenta, diretor de Operações da OneVet Group. Explicou ainda que este projeto “veio trazer uma nova dinâmica à medicina veterinária ao longo da Península Ibérica”, fruto da evolução que esta área teve nos últimos 20 anos. Além dos aparelhos de Tinografia, a OneVet Group forneceu um aparelho de ressonância magnética e um corpo de docentes que estarão a monitorizar as aulas práticas. “[Os aparelhos] São dois exemplos de tecnologia avançada e que são a prova de que queremos estar sempre na onda da inovação”.
“É um investimento que ultrapassa os 8,5 milhões de euros e é necessário estimar e rentabilizar este passo. Daí ser importante criar um impacto não só nacional, como internacional, captando o maior número de alunos portugueses e estrangeiros.” – António Almeida Dias, presidente do Conselho de Administração da CESPU
Junko Sheehan, CEO da UnaVet Group, acredita que “pouco a pouco se está a construir um projeto com alicerces, graças ao crescimento dos cuidados veterinários”. Alicerces esses que levaram Guilherme Assis, Country Manager da OneVet em Portugal, a salientar que “temos a equipa, a parceria e o entendimento certo”.
De referir que a OneVet Group conta, atualmente, com 60 unidades em Portugal e um total de cerca de 600 colaboradores. Recentemente, inaugurou o primeiro espaço na ilha da Madeira. “É caso para dizer que a OneVet Group está bem de saúde e recomenda-se”, referiu, satisfeito, Paulo Pimenta.
Ponto de encontro
Embora a prática clínica e a formação sejam os pilares do Hospital Veterinário Universitário de Paredes, há também a ambição de reunir naquele espaço o maior número de conhecimentos e troca de experiências com profissionais de outros países. Do ponto de vista de António Almeida Dias, este edifício será “o núcleo duro” dos colaboradores, docentes e alunos das universidades da CESPU que existem em Portugal, Brasil e Angola. “Este projeto é um passo importante e que se integra no nosso projeto de internacionalização, até porque vai integrar não só a medicina, como também a enfermagem e especializações na saúde animal”.
A CESPU expandiu os seus serviços para Angola em 2006, onde, desde então, tem uma parceria com as Universidades de Benguela e a Metodista de Angola. Mais recentemente, em 2020, alargou a sua rede de conhecimentos para o Brasil, onde criou a Universidade Europa, que se situa no Recife.
Esta expansão coincidiu com o ano em que também teve início o mestrado integrado em Medicina Veterinária. Já a OneVet Group, em sintonia com a UnaVets Group, será igualmente um parceiro fundamental para ‘abraçar’ projetos ao longo da Península Ibérica. “É um investimento que ultrapassa os 8,5 milhões de euros e é necessário estimar e rentabilizar este passo. Daí ser importante criar um impacto não só nacional, como internacional, captando o maior número de alunos portugueses e estrangeiros”, referiu Almeida Dias.
42 anos a ensinar gerações
O Instituto Universitário de Ciências da Saúde, a Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, a Escola Superior de Enfermagem do Tâmega e Sousa e a Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Tâmega e Sousa são os quatro polos de ensino que contribuíram para estes 42 anos de sucesso da CESPU. Mais recentemente, juntaram-se as universidades no Brasil e em Angola, mas o processo de internacionalização tem ambições de ir mais além.
A oferta passa pelos doutoramentos em Ciências Biomédicas e Toxicologia. Já as licenciaturas abrangem as Ciências Forenses, as Ciências Biomédicas, as Ciências da Nutrição, Psicologia e Saúde Pública. Em termos de mestrados integrados, estes existem nas áreas de Ciências Farmacêuticas, Medicina Dentária, Medicina Veterinária, Ciências Forenses, Psicologia da Saúde e Neuropsicologia e Reabilitação Oral.
As pós-graduações também são uma componente forte no ensino da CESPU. Neste ano de 2024, já foram lecionadas ou estão planeadas mais de 50 cursos nas mais variadas áreas da Saúde. Muitas delas, inclusive, já foram programadas para o próximo ano. Sendo uma instituição privada sem fins lucrativos, esta cooperativa não só aposta no ensino superior, universitário e politécnico, como igualmente na investigação científica. Se em 1982 nasceu na Rua São Roque da Lameira, no Porto, hoje ocupa edifícios em Gandra (Paredes), Penafiel e Vila Nova de Famalicão.
*Artigo publicado na edição 184, de julho/agosto, da VETERINÁRIA ATUAL.