Quantcast
Médicos Veterinários

Gonçalo Santana Paixão: De jovem jockey a veterinário da Federação Equestre Internacional

Direitos reservados

Depois dos Jogos Paralímpicos, em Paris, e em vésperas de partir para uma missão de solidariedade no Camboja, o veterinary manager da Federação Equestre Internacional (FEI), Gonçalo Santana Paixão, esteve à conversa com a VETERINÁRIA ATUAL acerca do desporto equestre e do papel do veterinário nas competições, sobre a evolução da medicina veterinária de equinos em Portugal e, ainda, a respeito do seu percurso profissional como médico veterinário, alicerçado na paixão pelos cavalos que o acompanha desde a infância e carimbado pela formação militar e pela experiência além-fronteiras.

Os cavalos surgiram muito cedo na sua vida, ainda antes da medicina veterinária. Como é que começou essa relação com os equinos?

Por volta dos meus 9/10 anos, comecei a montar a cavalo como um hobby de férias, em estágios/clínicas de verão na Quinta dos Leitões, na Ericeira. Aí, tinha a oportunidade não só de montar a cavalo, mas também de interagir com o animal de forma mais prolongada, ajudando a tratar do animal, a escová-lo, a alimentá-lo… Não era apenas uma relação de “chegar, montar e ir embora”, mas passava efetivamente tempo com o cavalo e isso foi despertando em mim a vontade de fazer algo relacionado com cavalos um dia mais tarde. Foi um “bichinho” que continuei a alimentar durante os anos vindouros… A dada altura, o meu pai acabou por comprar um cavalo que tínhamos num clube hípico na Sobreda da Caparica, onde eu ia com alguma frequência, montar no picadeiro, fazer uns passeios no campo, na praia… Nunca competi a nível internacional, mas ia participando em algumas competições nacionais ou em festivais de saltos de obstáculos. Como tal, a passagem desta relação de proximidade com os cavalos na perspetiva do lazer para uma perspetiva mais profissional foi bastante natural.

Quando pensou, então, em enveredar pela medicina veterinária fê-lo já com a ideia de seguir a área dos equinos?

Não necessariamente, porque apesar de ser uma área que provavelmente era a minha maior área de interesse, sempre tive também um gosto pelos animais de campo em geral, isto é, pela clínica de animais de pecuária.

Talvez porque quando estava no 12º ano, me ofereceram um livro do James Herriot…

Frequentou o 12º ano fora de Portugal, nos Estados Unidos. Concorda que essa experiência já fazia adivinhar uma certa vontade de aprender num contexto multinacional e de trabalhar além-fronteiras?

Talvez sim… Talvez já venha desde aí este meu interesse e vontade de interagir com pessoas de outros países e de outras culturas. E foi uma experiência fantástica a esse nível.

Foi nessa altura, quando estava a estudar em Nova Iorque, que me ofereceram um livro do James Herriot, um veterinário rural inglês que trabalhava na zona de Yorkshire e que faz uma descrição – provavelmente um pouco romantizada – do que era a vida do veterinário de campo na primeira metade do século XX, com uma série de aventuras e de episódios descritos com imensa graça, mas que acabam por mostrar aquilo que era o dia a dia e o trabalho do veterinário de campo. Isso acabou por estimular o interesse em tornar-me veterinário de campo, interesse esse que fui desenvolvendo depois, ao longo da faculdade, começando então a focar na clínica de equinos. Apesar de na Universidade de Lisboa, naquela altura, haver algumas cadeiras mais dedicadas aos equinos, não havia uma componente prática muito forte nessa área, mas mesmo assim persisti nessa vontade.

“A sensação que tenho e que tenho tido ao longo dos anos, apesar de agora me encontrar mais afastado da realidade nacional, é que os veterinários de equinos portugueses são veterinários muito bem preparados ao nível técnico. […] Considero, no entanto, que ainda fazem falta em Portugal estruturas mais organizadas, com maior capacidade de investimento, especialmente em meios tecnológicos.”

Direitos reservados

A particularidade de ter feito a sua licenciatura com ligação à Academia Militar também foi crucial na definição de um percurso direcionado para a veterinária de equinos?

Acredito que sim. A formação na Academia Militar oferecia três áreas possíveis de desenvolvimento da Medicina Veterinária: uma área mais ligada à inspeção alimentar e ao trabalho laboratorial, que não era aquela que me interessava mais; uma área mais ligada à clínica de pequenos animais de companhia; e, depois, a clínica de equinos, que sempre teve uma tradição grande no universo militar, pela tradição do cavalo militar, do antigo cavalo de guerra… A própria origem da medicina veterinária em Portugal está ligada ao Exército. Existe esta tradição na ligação do cavalo ao Exército e na ligação da medicina veterinária ao cavalo no Exército.

Naturalmente que entre estas três áreas, o meu percurso acabou por se direcionar mais no sentido de poder desenvolver a clínica de equinos no Hospital Veterinário Militar de equinos em Mafra. Porém, isso não aconteceu logo após terminar a faculdade. Numa fase inicial, estive a trabalhar na área da inspeção alimentar ligada à Manutenção Militar, numa primeira fase em Évora e numa fase seguinte na Manutenção Militar em Lisboa. Simultaneamente, quando estava em Évora, tive a oportunidade de dar apoio ao Regimento de Cavalaria 6 (em Estremoz) e assim trabalhar na área da clínica de equinos. Quando vim para a Manutenção Militar em Lisboa, aproveitei para fazer uma pós-graduação em clínica e cirurgia de equinos e também nesse contexto mantive a ligação à clínica de equinos e pude ir mantendo alguma prática em simultâneo no Hospital Veterinário Militar de Equinos, em Mafra.

Tudo isto decorreu durante um período de dois anos, tendo depois sido colocado no Hospital Veterinário Militar de Equinos de Mafra, onde fiquei até ir trabalhar para a FEI, em 2019, sempre dedicado à medicina e cirurgia de equinos.

Aproveito para fazer uma menção e realçar a importância que a minha formação no Exército – mais concretamente a possibilidade de ter feito toda a minha formação prática no Hospital Veterinário Militar de Equinos – teve no meu desenvolvimento técnico na área dos cavalos, uma vez que me permitiu ter acesso a uma série de casos, de equipamentos e de conhecimento, num ambiente de grande disponibilidade por parte dos veterinários séniores. No fundo, a par de uma casuística superinteressante e diversificada, que me permitiu ter acesso a um conjunto de técnicas diferentes, destaco a ausência de pressão que, habitualmente, está relacionada com a necessidade que os veterinários que acabam a faculdade sentem de entrar logo no mercado de trabalho… Eu saí de uma estrutura organizada, hospitalar, onde nunca senti esse tipo de pressão, porque pude ter acesso a um desenvolvimento progressivo e sustentado, em que não tive que atalhar caminhos. Uma experiência que me permitiu fazer o acompanhamento de alguns cavalos desde que nasciam até que morriam, bem como um acompanhamento pós-tratamento que, por vezes, os meus colegas não têm essa oportunidade. Aprendi muito, foi uma escola fantástica, que acabou por se revelar fundamental no meu percurso.

Como é que é o seu dia a dia de trabalho na FEI?

Quando entrei para a FEI – que, como muitas outras federações internacionais que fazem parte da família olímpica, está sedeada em Lausanne – houve uma alteração radical daquilo que era o meu dia a dia como clínico de equinos num hospital sedeado numa propriedade com cerca de 300 hectares, em que estávamos rodeados de campo, em que tínhamos animais estabulados e outros em paddocks espalhados pela propriedade, em que a clínica de equinos exigia também uma boa parte de tempo passada no exterior, a fazer a avaliação clínica de cavalos, a fazer o seguimento dos cavalos que estavam com algum problema que os impedia de trabalhar de forma regular, ou que estavam envolvidos no programa de reprodução.

Desta dinâmica de exterior passei para um ambiente de escritório. Esta mudança exigiu alguma adaptação, mas considero-me uma pessoa que se consegue adaptar com alguma facilidade a novos contextos e novos desafios. Encarei sempre esta transição como um desafio novo, que me permite continuar ligado aos cavalos e à medicina veterinária, agora numa vertente ligeiramente diferente, porque ao invés da clínica, o meu trabalho consiste agora essencialmente na gestão dos recursos e programas de assistência veterinária dos cavalos em contexto de competição internacional.

Como tal, o meu trabalho continua a ser no âmbito da medicina veterinária e dos equinos, mas numa dinâmica distinta, que implica estar muito mais horas atrás de um computador, mas que também me dá a possibilidade de visitar competições internacionais e de interagir pontualmente com uma vertente mais prática da medicina veterinária.

Uma das competições em que esteve presente, mais recentemente, em representação da FEI, foi nos Jogos Paralímpicos de Paris. Como foi essa experiência?

Apesar de já ter estado em inúmeros campeonatos regionais/nacionais e em várias competições internacionais, foi a primeira vez que estive nos Paralímpicos. Os Jogos Olímpicos e os Jogos Paralímpicos são sempre muito especiais, por todo o contexto de competição e todo o ambiente que se gera nos locais onde se desenvolvem as diferentes competições nos diferentes desportos.

Os Jogos Paralímpicos de Paris foram particularmente especiais pela localização do recinto onde aconteceu a competição equestre: Versailles. Tínhamos um enquadramento espetacular, em que toda a zona do parque de Versailles e as bancadas e a arena principal abriam num U, que enquadrava o Palácio de Versailles, tornando a atmosfera bastante especial.

De salientar ainda toda a dinâmica que existe em torno dos Jogos Paralímpicos, com a representação de várias nações do mundo inteiro, que cria uma energia muito diferente de qualquer outra competição. Os Paralímpicos acabam por ser uma competição extremamente especial, na medida em que recebem atletas com histórias de vida muito diferentes, todas elas desafiantes… Há atletas com incapacidade física e/ou intelectual, capazes de superar muitas dificuldades ao ponto de praticarem um desporto de alta competição. Com performances fantásticas! São histórias de vida e de superação, incríveis!

“[Nos Jogos Paralímpicos de Paris] estive integrado na equipa da FEI que permanece no recinto durante o período em que se desenvolvem os jogos para dar apoio de proximidade a toda esta estrutura que está montada, para esclarecer alguma questão que haja ao nível do regulamento ou para tentar dirimir algum conflito que possa surgir e que necessite de um parecer da FEI.”

Direitos reservados

Qual é o papel do médico veterinário numa competição como os Jogos Paralímpicos?

O desporto equestre nos Paralímpicos só se desenvolve na modalidade de Paradressage, ou seja, Dressage adaptada. Há vários níveis de envolvimento dos veterinários. Desde logo, os veterinários oficiais nomeados pela FEI para supervisionar a forma como se desenvolve a prova e garantir que os regulamentos são cumpridos e que os programas de controlo subjacentes à realização da prova – em que se inclui verificar se os cavalos estão em condições de competir – são cumpridos. Isto é, as inspeções veterinárias, que implicam a constituição de uma Comissão Veterinária que, no caso dos Paralímpicos de Paris, era composta por três elementos.

Há também os veterinários de apoio à clínica que é construída no local. No caso de haver algum cavalo que precise de ser examinado/apoiado, existe uma estrutura de proximidade, com uma equipa multidisciplinar composta por veterinários reconhecidos em diferentes áreas (Imagiologia, Ortopedia, Medicina Interna, entre outras) que vão dar apoio aos cavalos no local, caso seja necessário intervir com rapidez. Além disso, existem estruturas físicas hospitalares de prevenção, com equipamentos “topo de gama”, na eventualidade de ser preciso algum cavalo receber uma assistência mais especializada. Para tal, estão ainda disponíveis ambulâncias no local, no caso de ser preciso deslocar algum cavalo.

Num terceiro nível, há veterinários dedicados a toda a parte da prevenção e de biossegurança, porque há cavalos oriundos de todas as partes do mundo, todos com uma exigência de perfil sanitário enorme. Há ainda os veterinários alocados à gestão da biossegurança – que supervisionam as infraestruturas e os procedimentos, por forma a prevenir problemas a este nível – bem como os veterinários que constituem uma equipa de controlo de dopping.

Estão assim alocadas aos Jogos Paralímpicos um conjunto de equipas multidisciplinares que dão apoio nas diferentes vertentes da medicina veterinária.

Qual destes grupos integrou nos Paralímpicos de Paris?

Estive integrado na equipa da FEI que permanece no recinto durante o período em que se desenvolvem os jogos para dar apoio de proximidade a toda esta estrutura que está montada, para esclarecer alguma questão que haja ao nível do regulamento ou para tentar dirimir algum conflito que possa surgir e que necessite de um parecer da FEI.

O que é que sente que essa experiência lhe trouxe a nível profissional, mas também pessoal?

É sempre interessante poder trabalhar com equipas multidisciplinares, que têm uma série de especialidades diferentes e também a oportunidade de trabalhar em ambiente de competição, com pessoas de culturas diferentes, às vezes com expetativas diferentes, com necessidades diferentes e poder aprender sempre mais com estas experiências.

Apesar de ter a oportunidade de trabalhar também em contexto internacional noutras provas que não os Paralímpicos, o nível de entusiasmo e de exigência em competições como os Jogos Paralímpicos é manifestamente maior, o que também agiganta o desafio. É um nível de exigência que nos faz estar em estado de permanente disponibilidade.

Foi também isso que sentiu quando começou a trabalhar na FEI? Como é essa comunhão com diferentes culturas e o trabalho integrado numa equipa multinacional?

Sim, sem dúvida. Esse foi, de início, um dos principais desafios, mas ao mesmo tempo um dos fatores mais aliciantes do trabalho na FEI: poder trabalhar num contexto em que há pessoas de mais de 20 nacionalidades diferentes. Além disso, igualmente aliciante é trabalhar em colaboração com as diferentes federações dos países afiliados da FEI, de regiões do globo completamente diferentes, às vezes com diferenças culturais significativas, e poder interagir, ajudar a resolver problemas e arranjar soluções, sempre com o objetivo de permitir que as competições nacionais aconteçam, e aconteçam nos diferentes países com atletas que também vão ser de países distintos daqueles que estão a organizar a prova; ou ainda, ajudar a desenvolver regulamentos que possam ser aplicados nos diferentes contextos culturais e gerir os recursos que existem nos diferentes países. No fundo, trata-se de tentar entender as diferentes necessidades e desafios de quem organiza provas e, no final, fazer com que a competição internacional equestre aconteça, que é o objetivo para que todos trabalhamos na FEI.

Ainda no âmbito do seu trabalho na FEI, vai partir dentro de horas para uma missão de solidariedade no Camboja. Em que consiste este projeto?

É um projeto de solidariedade, desenvolvido pelo Departamento de Solidariedade da FEI. Este departamento da FEI desenvolve vários projetos de ajuda a países em que o desporto equestre está numa fase mais embrionária de desenvolvimento e que precisam de apoio nesse desenvolvimento. De acordo com as necessidades identificadas em determinada região ou país, o Departamento de Solidariedade da FEI elabora projetos de ajuda, com os quais podem colaborar pontualmente colegas de outros departamentos da Federação.

Este projeto que vou integrar visa fornecer à Federação do Camboja algum equipamento, para que esta possa ser autossuficiente no apoio veterinário aos cavalos daquele país. Vou levar comigo equipamentos de ecografia e de raio-X para entregar à Federação daquele país, bem como dar alguma formação básica nessa área para que localmente possam arrancar com um projeto de apoio veterinário aos cavalos destinados às competições internacionais.

Esta será a primeira “missão” liderada pelo Departamento de Solidariedade que integro e em que a minha intervenção é mais prática no desenvolvimento do projeto, precisamente por se tratar de uma área específica da veterinária.

“Para a FEI, é muito claro que o bem-estar do cavalo é absolutamente primordial no desporto equestre internacional e não existe tolerância para métodos abusivos no treino ou em competição.”

Que projetos gostaria de concretizar a médio/longo prazo?

Trabalhar no contexto da FEI, em que os desafios são constantes é, por si só, um projeto a médio/longo prazo. A FEI é uma organização muito focada em fornecer um conjunto de serviços às suas federações afiliadas, em fazer crescer o desporto de uma forma sustentada a nível internacional, o que acaba por espoletar desafios que se estendem no tempo, exigindo um acompanhamento contínuo. O objetivo da FEI é prestar o seu apoio, de forma consistente, dentro daquilo que são as necessidades e as dinâmicas das várias federações que trabalham connosco.

O meu trabalho na FEI é um trabalho eminentemente técnico, pelo que me vejo perfeitamente a continuá-lo por mais anos, na medida em que o desafio técnico está sempre lá, não se esgota, nem está dependente da progressão, sendo o motor para continuar a abraçar os desafios que vão surgindo e a tentar arranjar soluções para os mesmos.

Como é que vê a evolução da medicina veterinária em Portugal?

Conheço um pouco melhor aquilo que é a evolução da medicina veterinária ligada aos equinos. A sensação que tenho e que tenho tido ao longo dos anos, apesar de agora me encontrar mais afastado da realidade nacional, é que os veterinários de equinos portugueses são veterinários muito bem preparados ao nível técnico. Acho que há um bom nível de exigência, vejo os veterinários que saem das faculdades bem preparados tecnicamente. Não necessariamente com todo o conhecimento da área dos equinos, mas preparados e com as ferramentas para depois fazerem uma formação contínua na área específica dos equinos quando acabam a licenciatura. Têm uma boa preparação de base e um bom conhecimento científico para lhes permitir depois, mais tarde, quando saem da faculdade, fazerem escolhas acertadas em termos de desenvolvimento profissional ao nível da formação pós-graduada na área dos equinos.

De ressalvar, a este respeito, que já começa a haver a nível nacional a possibilidade de fazer alguma desta formação em Portugal. Até há uns anos atrás, muita desta formação pós-graduada tinha que ser procurada no estrangeiro.

Considero, no entanto, que ainda fazem falta em Portugal estruturas mais organizadas, com maior capacidade de investimento, especialmente em meios tecnológicos. Apesar de hoje em dia já haver acesso a meios complementares de diagnóstico como a ressonância magnética (RM) ou a TAC – que, quando eu comecei a minha carreira como médico veterinário de equinos em Portugal não existia –, o que é bastante positivo, falta um crescimento sustentado que permita o investimento neste tipo de tecnologia.

E quando comparamos a medicina veterinária de equinos desenvolvida em Portugal com aquela que é desenvolvida em França, Inglaterra ou nos Estados Unidos – para falar nos centros onde existe um maior investimento – os veterinários portugueses não ficam a perder face aos veterinários destes mercados, quer ao nível dos conhecimentos, quer das capacidades técnicas. O que acho que ainda falta é o acesso à tecnologia e integração em estruturas organizadas que permitam um crescimento vertical e sustentado, que muitas vezes pode ser frustrante e pode levar os veterinários portugueses a irem trabalhar para fora. Porque estas estruturas facilmente se apercebem desta capacidade dos veterinários portugueses e facilmente vêm recrutá-los para trabalhar fora do país.

Ainda assim, encaro de uma forma positiva, porque acho que esse caminho está a ser feito.

Abusos e maus-tratos a animais no desporto equestre: Tolerância zero!

Sobre os casos de alegados maus-tratos por parte de atletas aos seus cavalos durante os Jogos Olímpicos de Paris – que vieram recentemente a lume e geraram forte repúdio social, desencadeando inclusivamente petições internacionais para banir o desporto equestre deste tipo de competição – Gonçalo Paixão atesta que, “para a FEI, é muito claro que o bem-estar do cavalo é absolutamente primordial no desporto equestre internacional e há uma tolerância zero para métodos abusivos no treino ou em competição”.

Segundo o Veterinary manager da FEI, “esta posição é inequívoca na mensagem que a Federação passa, bem como nos regulamentos que estão estabelecidos e que devem ser cumpridos”. A realidade, adianta, “é que a grande maioria dos atletas que competem neste contexto internacional têm esta noção perfeitamente estabelecida e clara e respeitam a 100% o bem-estar dos cavalos que competem ao seu lado no desafio do desporto internacional e de quem são os guardiões”. Infelizmente, refere, “tanto no desporto equestre como em outros desportos, temos, por vezes, maus exemplos e acontecem situações que têm obrigatoriamente que ser identificadas e geridas de forma que não se repitam”.

De acordo com o médico veterinário, “a FEI tem mecanismos que permitem atuar disciplinarmente nestas situações. Partindo do princípio que todos os casos denunciados são investigados, a FEI atua, posteriormente e consoante aquilo que é apurado, em conformidade no âmbito do que são suas competências”. A este respeito, acrescenta, “é fundamental que estes casos quando acontecem sejam denunciados, para que possamos então investigar e atuar, para garantir que não voltam a acontecer e que o bem-estar dos cavalos se mantém como a prioridade número um”.

Apesar de pouco frequentes, estas situações têm um forte impacto social e “ainda bem que assim é”, diz Gonçalo Paixão, que entende esta reação como “um sinal de que as pessoas estão cada vez mais despertas e sensíveis para as necessidades dos animais e que o bem-estar dos animais está na linha da frente daquilo que são as preocupações não só da FEI e dos atletas, mas do público em geral, dos que seguem o desporto equestre e mesmo dos que não seguem”.

No entender do veterinário, “só se garantirmos que os animais com que os nossos atletas estão a competir são tratados de forma a atestar o seu bem-estar é que vamos também asseverar a licença social para continuar a competir com cavalos no panorama internacional”.

 

Este site oferece conteúdo especializado. É profissional de saúde animal?