Bruno Santos lançou este serviço médico-veterinário ao domicílio há seis anos e, desde então, não tem parado de expandir o negócio. A ambição passa por conseguir ter um médico veterinário por concelho e chegar a todo o País. Cuidar dos animais de companhia no local onde se sentem mais confortáveis é uma das missões da Dr. Bigodes. E, também, promover uma maior comodidade aos tutores e bem-estar aos seus animais.
O sonho de ser médico veterinário acompanha-o desde muito pequeno. O facto de ter vivido no Alentejo e de ter crescido em contacto permanente com animais começou a desenhar o futuro. Oriundo de uma família de agricultores, as memórias de infância remontam aos dias em que ia para o monte brincar com animais. “O meu pai sempre desejou ter um filho veterinário”, conta Bruno Santos, fundador da Dr. Bigodes. O descendente mais novo fez-lhe então a vontade. Sem grande esforço, a avaliar pelo entusiasmo com que fala da profissão. Decidiu estudar em Espanha, escolheu a universidade mais próxima de Portugal, em Cáceres e depois de ter terminado a licenciatura, em 2013, a experiência profissional passou por clínicas, começando por substituir férias ou licenças de maternidade.
Rapidamente percebeu que queria pautar a sua prática clínica por um maior conforto e atenção ao animal, mas estava longe de imaginar chegar ao ponto em que se encontra hoje. “Tive a oportunidade de trabalhar num grande hospital veterinário onde estive dois anos e onde ganhei muita experiência profissional.” Em 2015, lançou-se numa start-up depois de ter identificado algumas necessidades na sociedade, nomeadamente, tutores com falta de tempo, animais em stresse enquanto esperavam por uma consulta e fora do seu espaço habitual. Nascia assim a Dr. Bigodes, um serviço onde é possível dar uma abordagem diferente e respeitar o território dos pacientes. Em suma, com o objetivo de “promover o bem-estar dos animais e facilitar a vida aos donos”.
E, se no início, Bruno Santos estava sozinho neste projeto, passados seis anos, o crescimento foi notório e a equipa cresceu. “Somos três médicos veterinários em Lisboa [a acompanhá-lo, estão Renata Costa e Sónia Fontes] e arrancámos agora no Grande Porto, com a médica veterinária Diana Lourenço. Destaque ainda para a rececionista Sara Crespo que gere a agenda de todos eles, bem como, a logística envolvida. Atualmente, com outra base financeira, foi possível investir mais e inaugurar uma sede em Odivelas que inclui uma loja e que facilita imenso a componente administrativa. “Temos também uma loja online e contabilizamos muito mais custos, que não existiam há seis anos, mas também porque já temos uma carteira de clientes e um suporte completamente diferentes.”
Fruto do crescimento deste serviço médico-veterinário ao domicílio, foi possível também renovar o site e criar uma plataforma mais robusta que permite aos clientes fazer a marcação direta de consultas segundo a agenda de cada médico. “O upgrade do site foi realizado no sentido de criar um plano personalizado para cada animal”, explica Bruno Santos. Surgiu assim o My Bigodes que torna o processo mais simples e permite aos clientes acompanharem as profilaxias dos seus animais de companhia e terem acesso ao seu historial clínico.
“O upgrade do site foi realizado no sentido de criar um plano personalizado para cada animal”, defende o médico veterinário Bruno Santos
Além das habituais rotinas, como a vacinação e a desparasitação, a Dr. Bigodes disponibiliza consultas de medicina interna, dermatologia, nutrição, geriatria e novos serviços, como por exemplo, a medicina integrativa [acupuntura] como complemento de uma terapêutica já instituída e como resposta às novas necessidades dos tutores. “Todos estes serviços podem ser realizados em casa do cliente. Por exemplo, trabalhamos com laboratórios externos, colhemos as análises no domicílio, enviamos os resultados no mesmo dia e fazemos o devido acompanhamento”, adianta o médico veterinário. Caso seja necessário aprofundar alguma questão e realizar um exame complementar de diagnóstico, a equipa conta com uma rede de CAMV que serve de referenciação. “Temos conseguido boas parcerias e protocolos nesse sentido, ao longo destes anos e que está a funcionar bastante bem. Também não fazemos procedimentos invasivos dentro de casa dos tutores.” Ainda na ótica da promoção do bem-estar, existem serviços de pet-sitting, tosquias, banhos e de grooming.
Adaptação à realidade pandémica
Apesar do enorme investimento que foi necessário fazer em equipamentos de proteção individual, o médico veterinário que lidera a Dr. Bigodes assume que “a pandemia foi benéfica para o nosso ramo. Temos pessoas que têm medo de sair de casa e que acabam por aproveitar o nosso serviço… e outras que estão em teletrabalho e que também optam por chamar serviços a casa nesta fase de confinamento.” O ritmo da vida moderna nem sempre leva os tutores a ter tempo para tratarem dos seus animais. “Esta é uma boa altura para interagirmos mais com eles. Ganham eles e ganhamos nós”, adianta.
Com uma carteira de clientes regular e devido ao facto de o negócio já estar enraizado, a equipa vai somando quilómetros de estrada. Num dia, a média é de 25 consultas, distribuídas por todos os médicos veterinários. A gestão está longe de ser fácil. “Cada consulta é uma consulta, cada animal é um animal e cada dono é um dono. Previamente sabemos o que vamos ter de fazer num determinado domicílio, mas pode ser completamente imprevisível”, conta o médico veterinário.
As faixas etárias dos tutores que procuram este serviço são muito variáveis, desde adolescentes que têm o seu primeiro cão ao gato, a famílias, a casais e a idosos que estão sozinhos e que encontraram, no seu animal de estimação, a companhia que precisavam. “Tentamos abranger os vários estratos sociais, somos muito transversais relativamente a esse aspeto.”
A equipa trabalha todos os dias à exceção de domingos e feriados. “A ideia que está na génese do projeto sempre foi a de ter vários veterinários e continuo a ter a ambição de alocar um veterinário a cada concelho, o que ainda não foi possível.” Mas o crescimento caminha nesse sentido. “Com as pessoas em teletrabalho ou em lay-off, ganhou-se aqui um culto de serviços ao domicílio. Uma das mensagens que temos fomentado é a de que, apesar de esta pandemia ser grave, não se deve descurar a saúde dos animais de companhia”, assinala Bruno Santos, acrescentando que o papel dos médicos veterinários tem sido reforçado.
“A ideia que está na génese do projeto sempre foi a de ter vários veterinários e continuo a ter a ambição de alocar um veterinário a cada concelho” – Bruno Santos, fundador da Dr. Bigodes
Mas, como foi reagir a um vírus desconhecido e enfrentar um negócio que entra na casa das pessoas? “No começo da pandemia foi mais complicado e nós também parámos a atividade. De 15 de março a 15 de abril, decidimos parar, por motivos éticos, sobretudo porque era uma situação nova, desconhecida e não sabíamos o que iria acontecer. A partir do primeiro desconfinamento, nunca mais sentimos essa necessidade e temos vindo a crescer. Notamos que as pessoas estão agora mais tranquilas do que há um ano”, explica Bruno Santos. O médico veterinário nota o registo e aumento de consultas de primeira vez, de primo vacinações, o que significa que muitas pessoas adotaram ou adquiriram animais durante a pandemia.
Além da entrada em casa com equipamento descartável e seguindo todas as normas de higienização e segurança, a equipa também promove a literacia da saúde com os clientes. “Ainda há quem nos receba em suas casas sem máscara, mas pedimos-lhes que a coloquem. Da mesma forma que estamos totalmente protegidos, também estamos a entrar num espaço que não conhecemos. É preciso garantir a segurança mútua.”
É uma característica incontornável dos novos tempos que ganhou um novo espaço durante a pandemia. Falamos da aposta reforçada no digital. Com presença regular no Facebook [com mais de 20 mil seguidores] e no Instagram [com mais de cinco mil], Bruno Santos defende que as redes sociais permitem uma divulgação muito mais rápida daquilo que é um serviço veterinário ao domicílio. É possível também partilhar informações úteis sobre cuidados a ter com os animais através destas plataformas que permitem uma proximidade imediata com os clientes e seguidores. No entanto, a publicidade boca a boca continua a ser a referência mais conciliadora, uma vez que clientes satisfeitos recomendam e trazem outros.”
Após seis anos à frente do seu próprio negócio, e com o serviço em expansão, considera que esta tem sido uma aposta ganha. “Não me imagino a voltar a trabalhar num CAMV”, partilha, demonstrando sentimento de realização profissional.
Dificuldade no recrutamento
Bruno Santos é perentório: “Nem todos os médicos veterinários têm estofo para passar o dia na estrada ainda que possam ser excelentes clínicos.” Esse também é um dos motivos que leva à dificuldade em recrutar novos colegas ainda que tenha uma certeza: este não é um trabalho monótono. “É um trabalho bastante compensador.” À data de fecho desta edição, decorria um processo de recrutamento de médicos veterinários. O objetivo passa por expandir o negócio e alargar a outras áreas. “Procuramos médicos veterinários mais experientes em animais exóticos”, salienta.
A concorrência não o assusta por considerar que permite a divulgação de serviços deste género. “Temos uma estrutura montada e o nosso nome já é reconhecido. Os domicílios já existiam antes, mas eram muito mais rudimentares. Orgulho-me de dizer que fui o primeiro a criar um projeto de raiz e estruturado para funcionar ao domicílio”, refere. No entanto, o fundador da Dr. Bigodes não entende o excesso de universidades veterinárias em Portugal e, por outro lado, a dificuldade em recrutar novos elementos para a equipa.
“Orgulho-me de dizer que fui o primeiro a criar um projeto de raiz e estruturado para funcionar ao domicílio” – Bruno Santos, médico veterinário
*Artigo publicado originalmente na edição 147, de março de 2021, da VETERINÁRIA ATUAL.