A jovem médica veterinária, Ana Teresa Seixas, conta-nos que “como quase todos os que vão para este curso, eu queria fazer clínica, mas fui alargando os horizontes e comecei a gostar da área de saúde pública, pelo que optei por fazer um estágio num município e fiz a tese sobre a Gestão de Cães e Gatos Errantes na Grande Lisboa”. Aí, adianta, “concluí que a melhor forma de controlo é a prevenção”. Por isso quando chegou a Santiago do Cacém, em 2015, começou logo a preparar este trabalho de prevenção.
Quando conheceu o 1º sargento José Fortuna percebeu que tinha ali um aliado e começaram ambos a delinear a iniciativa a que chamaram “Educar para mudar”.
Cerca de dois anos depois, a parceria já realizou várias ações com crianças, idosos e outros públicos específicos, bem como dirigidas ao público em geral, e elaborou diversos flyers sobre temas como adoção e detenção responsável, doenças nos animais e identificação animal. (ver caixa)
A iniciativa conta com o apoio total do vereador Albano Pereira, que nos diz que “são muito importantes estas ações de educação das populações para ajudar a gerir melhor o problema dos animais errantes e abandonados”, mas, frisa: “temos consciência que estas questões de mentalidade demoram muito tempo a dar frutos. Esperamos que daqui a dez anos já tenhamos uma realidade completamente diferente no nosso concelho”.
Coordenação município/SEPNA é muito importante
O Sargento Fortuna salienta que o Núcleo de Proteção Ambiental do SEPNA “já faz algumas ações desde 2001, com mais regularidade desde 2006, mas é muito importante esta cooperação e, para isso, as pessoas que estão em cada local são fundamentais, pessoas que sejam sensíveis a este assunto e que vistam a camisola”.
Também a chefe da divisão de Comodidade Local do município, Susana Espada, salienta que “esta coordenação entre o município e o SEPNA é muito importante”.
O responsável do SEPNA de Santiago do Cacém destaca, por exemplo, as ações com as juntas de freguesia “para que os registos funcionem bem e a aceitação foi muito boa”. E a médica veterinária do município adianta que “hoje os funcionários têm à vontade para me ligarem e tirarem algumas dúvidas, pelo que as coisas têm estado a correr muito melhor”.
Ambos contam à VETERINÁRIA ATUAL que um dos principais problemas com que se debatiam “eram os cães sem microchip. Muitos deles, apesar de estarem vacinados contra a Raiva, e outros tinham microchip, mas não apareciam na base de dados”, por isso definiram que esse seria um dos temas a abordar.
José Fortuna lembra assim que a GNR também contactou por email todas as clínicas veterinárias privadas do concelho (e outros adjacentes) alertando-as para a importância de colocarem os microchips nos animais, no âmbito das campanhas de vacinação antirrábica, e de registarem esses chips no sistema.
A médica veterinária destaca a importância desta campanha na identificação cada vez maior dos animais, uma vez que “como fazemos a campanha de forma descentralizada, em vários locais do concelho e em colaboração com as juntas de freguesia, conseguimos chegar a muito mais animais”.
O segredo do Nº 3: Boletim, Vacina e Chip
Uma das principais componentes da iniciativa “Educar para mudar” tem sido as ações em sala com os alunos do ensino básico e pré-escolar. Por isso, a equipa de reportagem foi assistir a uma destas ações na Escola nª 1 das Relvas, com uma turma do ensino básico e outra do pré-escolar.
Com recurso a materiais de projeção e outros de apoio à ação, Ana Teresa Seixas e o Sargento Fortuna explicam aos alunos o que faz o SEPNA e falando, para já, apenas de um animal – o cão – demonstram a importância do Boletim Sanitário, da Vacina da Raiva e do Chip. Pedem também a ajuda de dois alunos, um menino e uma menina que, com máscaras, passam a assumir a figura de um cãozinho e uma cadelinha que estão perdidos e que, se não tiverem chip, não poderão ser identificados, nem os seus donos, chamando também a atenção para o problema dos cães errantes e abandonados.
Para que fixem o mais importante é-lhes revelado o segredo no Nº 3, porque há três coisas muito importantes para os cães: o Boletim, a Vacina e o Chip. Uma lengalenga repetida algumas vezes. Depois o nª 3 é ainda destacado para mostrar o que os cães precisam para ir à rua: Coleira, Trela e Saco de lixo.
Tudo isto muito bem ilustrado e explicado no livro “As Aventuras da Mimosa” que foi lançado pela Câmara Municipal de Santiago do Cacém no Dia do Animal, em outubro deste ano, que foi distribuído a todas as crianças das escolas do 1º ciclo do concelho e cuja versão digital está disponível no site do município.
Um novo livro, mais flyers e ações
Para 2019 já está na forja um novo livro, com a cadelinha Mimosa a ganhar uma amiga: a gata Perdita, chamando a atenção para a importância da esterilização. Está também a ser elaborado um flyer destinado às grávidas para esclarecer dúvidas sobre a Toxoplasmose e além continuarem as ações de sensibilização em sala destinadas à comunidade escolar, públicos específicos e população em geral, Ana Teresa Seixas explica que “estamos também a planear uma ação de formação a elementos do SEPNA sobre abordagem e maneio de animais, porque notámos algumas dificuldades e eles ajudam-nos muito muito a fazer triagem de queixas que, na maioria dos casos, não são de maus tratos mas mais de bem-estar e maneio deficiente, em muitos casos por desconhecimento ou falta de condições dos donos”. Vão manter-se também as ações de fiscalização conjunta, com destaque para os matilheiros, os alojamentos e circulação na via pública.
Canil intermunicipal vai avançar
À margem da visita ao Canil Municipal, a chefe da Divisão de Comodidade Local, Susana Espanha, confirmou-nos que “o projeto do novo canil da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral, que engloba cinco municípios (Alcácer do Sal, Grândola, Odemira, Santiago do Cacém e Sines) está em fase de execução e irá ter lugar para 350 animais, cães e gatos”. A técnica municipal de medicina veterinária salienta, por seu lado, que “sabemos que o espaço nunca será suficiente, por isso apostamos muito nestas ações de prevenção porque só assim no futuro podermos controlar o problema dos animais errantes e abandonados”.
Neste momento, o canil de Santiago do Cacém tem cerca de 50 cães e o da Associação S. Francisco de Assis, “com quem temos um protocolo de cooperação e funciona paredes meias com o nosso e a quem os nossos dois funcionários asseguram a limpeza, deve ter outros 50, mais cerca de 100 gatos”.
Ana Teresa Seixas conta-nos que a presidente da associação é holandesa e através de muitos contactos que tem “temos conseguido que muitos animais sejam adotados na Holanda. Alemanha e Áustria são países que já não têm animais errantes”.
A médica adianta que, além dos animais abandonados e errantes que são recolhidos, “vários dos animais que estão no canil são de munícipes idosos que vão para lares e como a família não pode ficar com os animais acabam por vir para o canil”. E, neste momento, há também três cujos detentores foram alvo de processos de maus tratos e negligência e estão a aguardar a sua resolução.
Ações no âmbito da iniciativa “Educar para mudar”
Desde 2016 e até ao momento, no seguimento de parceria conjunta entre NPA/SEPNA da GNR de Santiago do Cacém e a Câmara Municipal de Santiago do Cacém, no âmbito da iniciativa “Educar para mudar”, reforçando a importância da identificação, vacinação, registo, cuidados nos alojamentos e circulação na via pública dos animais, realizaram-se:
– 2 ações em sala para responsáveis pelas Juntas Freguesia, reforçando a importância do SICAFE;
– 2 ações em sala a Matilheiros, sensibilizando diretamente 26 matilheiros;
– 9 ações em sala a crianças em idade pré-escolar, sensibilizando 239 crianças;
– 19 ações em sala a alunos de escolas básicas (6 aos 9 anos), sensibilizando 424 crianças;
– 4 ações em sala a alunos de escolas básicas (10 aos 14), sensibilizando 100 crianças;
– 7 ações em Centros de Dia (idosos + 65 anos) sensibilizando 147 cidadãos;
– Participação num programa de rádio na Antena Miróbriga dirigida à população em geral;
– Comemoração do Dia Mundial do Animal, a 04 outubro, com ações de sensibilização e fiscalização;
– Nesse dia, o município lançou “As Aventuras da Mimosa”, livro distribuído a todas as crianças do 1º ciclo das escolas do concelho e, em colaboração com as juntas de freguesias, com o intuito de promover a higiene pública, foram entregues às juntas porta-sacos e flyers para serem distribuídos aos detentores de canídeos aquando do registo;
– Participação em diversos eventos
– Recolha e colaboração na entrega de alimentos para animais;
– Elaboração de flyers (adoção e detenção responsável; doenças nos animais; identificação animal) com publicitação à linha SOS Ambiente 808 200 520.
– 102 ações de fiscalização ou pedidos de colaboração (diversos).
Dados do Canil
Entre 2016 e 2018:
– Programa CED (Captura, Esterilização e Devolução) em 98 felídeos (64 fêmeas e 34 machos);
– 101 canídeos esterilizados no Canil Municipal para serem adotados
– 606 canídeos identificados eletronicamente ao abrigo da Campanha de Vacinação e Identificação Eletrónica