Um novo estudo conduzido pelo Royal Veterinary College (RVC) identificou experiências no início de vida de um cachorro que o colocam em maior risco de desenvolver comportamentos relacionados com a separação, nomeadamente quando deixado sozinho em casa.
Estes comportamentos caninos são preocupantes porque podem estar associados a um bem-estar animal precário, explicam os autores do estudo. Manifestam-se geralmente quando o tutor está ausente e incluem comportamentos destrutivos, como roer e arranhar; comportamentos vocais, como latidos e uivos; defecar ou urinar em casa; e comportamentos repetitivos, como girar ou andar de um lado para o outro.
Apesar destes comportamentos serem identificados em aproximadamente 50% dos cães, os fatores que levam a comportamentos relacionados com a separação em cachorros são ainda pouco compreendidos, tornando-os difíceis de prevenir, enfatizam os cientistas.
Deste modo, o estudo propôs-se a explorar os fatores de risco no início de vida destes animais que alavancam o desenvolvimento destes comportamentos, com o objetivo de fazer recomendações para futuras investigações e serem criadas estratégias de prevenção para melhorar o bem-estar dos cães em fases iniciais de vida.
O estudo foi conduzido usando dados de 145 tutores do Reino Unido e da Irlanda com cachorros de até aos seis meses, tendo sido concluído que 46,9% destes animais apresentavam comportamentos relacionados com a separação aos seis meses de idade.
A ação comum mais relatada quando os animais são deixados sozinhos em casa foi o andar de um lado para o outro (14,5%), seguido de choramingar (7,6%) e rodopiar (6,9%).
Cachorros cujos tutores usaram técnicas de punição, como repreender, bater ou ignorar, ao responder a um comportamento dito “mau” por volta das 16 semanas, registaram um risco aumentado de desenvolver comportamentos relacionados com a separação aos seis meses.
Cães cujos tutores relataram que dormiam nove ou mais horas por noite (quando tinham 16 semanas ou menos) eram menos propensos a desenvolver estes comportamentos do que cães que dormiam entre seis a oito horas à noite.
Também cachorros com um mau treino doméstico com menos de 16 semanas eram mais propensos a apresentar estes comportamentos por separação aos seis meses de idade.
Os cães que foram treinados com ração (além da ração normal) e/ou guloseimas eram mais propensos a desenvolver comportamentos relacionados com a separação em comparação com cães treinados sem este tipo de recompensas.
Além disso, os cachorros tinham também uma menor probabilidade de desenvolver estes comportamentos se os tutores impusessem, com menos de 16 semanas de idade, restrições durante a noite, em comparação com os cachorros que não eram restringidos desta forma.
Assim, a investigação concluiu que o desenvolvimento destes comportamentos em cães em fases iniciais da vida poderia ser evitado com a abstenção de treino aversivo, permitindo que os cachorros durmam nove ou mais horas por noite num local específico para isso ou restritos a um quarto.
“As nossas descobertas sugerem que a forma como os tutores responderam ao comportamento dos seus cachorros em diferentes contextos estava associada ao desenvolvimento destes comportamentos. Em particular, técnicas aversivas (por exemplo, gritar ou bater) ao responder a um comportamento ‘mau’”, referiu Fiona Dale, estudante de doutoramento no RVC e parte integrante da equipa de investigação.
“Os cães podem ficar muito stressados quando deixados sozinhos, portanto, qualquer evidência que sugira como ajudar os cachorros a aprender a relaxar durante a separação é muito necessária. Para mim, a descoberta que mais se destaca é que puni-los ou ignorá-los está associado a mais comportamentos relacionados à separação quando eles são mais velhos. Isto se relaciona com outras evidências que mostram que a punição parece deixar os cães mais ansiosos no geral”, afirmou Charlotte Burn, professora especialista em bem-estar animal e ciência do comportamento no RVC.
E continua: “aprender a usar recompensas e elogios de maneira consistente e atenciosa pode realmente ajudar os cachorros a se tornarem mais calmos e resilientes a todos os tipos de desafios, incluindo serem deixados sozinhos”.