A atualidade do setor veterinário enfrenta um conjunto de exigências, que vão desde a evolução e sofisticação tecnológica até à gestão de expectativas e retenção de profissionais, fatores que começam a refletir-se na rentabilidade das clínicas e hospitais, que, adicionalmente, também se deparam com uma significativa pressão fiscal.
O tema foi debatido na 20ª edição do Congresso Internacional Veterinário Montenegro, com a mesa-redonda “Questões atuais e tendências no setor veterinário”, que decorreu na Sala de Gestão, no segundo dia do evento, realizado nos dias 11 e 12 de outubro, no Europarque, em Santa Maria da Feira. A moderação ficou a cargo da VETERINÁRIA ATUAL e a discussão contou com os seguintes oradores: Guilherme Assis, CFO Iberia da Unavets; José Maria Merle, Head of M&A do grupo AniCura; Henrique Armés, diretor clínico do Hospital Veterinário de São Bento; Jordan Garth, CEO da American Animal Hospital Association; e Margarida Tomé, country manager da VetPartners Portugal.
A presença de oradores internacionais permitiu adquirir uma visão mais abrangente das dinâmicas do mercado, unindo a experiência ibérica com a norte-americana. Esta diversidade de contextos possibilitou uma análise mais realista das principais exigências estruturais e económicas que o setor veterinário enfrenta.

Direitos reservados | Da esquerda para a direita: José Maria Merle, Henriques Armés e Margarida Tomé
“Cada vez mais, o vínculo dos colaboradores com as empresas é ténue e precisamos trabalhar para fortalecer essa ligação, o que trará benefícios tanto para a qualidade dos serviços como para o bem-estar dos colaboradores.” – Margarida Tomé, VetPartners Portugal
Margarida Tomé, country manager da VetPartners Portugal, começou por destacar a importância da diversidade dos centros veterinários. “É fundamental mantermos diferentes dimensões de centros, pois é essa diversidade que nos ajuda a crescer”, considerou a médica veterinária, apontando que um dos principais desafios futuros passa pelo recrutamento e retenção de profissionais. “Cada vez mais, o vínculo dos colaboradores com as empresas é ténue e precisamos trabalhar para fortalecer essa ligação, o que trará benefícios tanto para a qualidade dos serviços como para o bem-estar dos colaboradores.”
“O cliente exige uma estrutura tecnológica avançada e os veterinários sentem-se sob uma pressão cada vez maior.” – Henrique Armés, Hospital Veterinário de São Bento
Além da instabilidade dos recursos humanos, Henrique Armés, diretor clínico do Hospital Veterinário de São Bento, salientou também a elevada carga fiscal a que o setor está sujeito, fator que acaba por inflacionar os custos dos serviços veterinários. Além disso, abordou a crescente pressão tecnológica, que se reflete na prática clínica, mas também na exigência dos clientes, que, munidos de mais informação, tornam-se menos tolerantes a erros. “O cliente exige uma estrutura tecnológica avançada e os veterinários sentem-se sob uma pressão cada vez maior”, explicou.
“A gestão do pessoal tornou-se muito mais complexa e é essencial adaptar as clínicas às novas exigências dos veterinários, que procuram um equilíbrio entre trabalho, formação e bem-estar mental.” – José Maria Merle, grupo AniCura
José Maria Merle, head of M&A do grupo AniCura, apontou um cenário preocupante no que diz respeito à retenção de profissionais, especialmente no norte da Europa, descrevendo a dificuldade em manter hospitais veterinários abertos 24 horas devido à indisponibilidade de profissionais para cobrir turnos noturnos e fins de semana, mesmo com salários competitivos. “A gestão do pessoal tornou-se muito mais complexa e é essencial adaptar as clínicas às novas exigências dos veterinários, que procuram um equilíbrio entre trabalho, formação e bem-estar mental.”
“O valor que nós pagamos para ter bons profissionais nas nossas unidades é cada vez mais elevado, há uma exigência nesse sentido, mas depois há também uma grande inércia em adaptar o pricing para contrapor isso.” – Guilherme Assis, Unavets
Guilherme Assis, CFO Iberia da Unavets, classifica os desafios como internos – onde se inclui o vínculo das equipas – e externos – que passa pela exigência dos clientes por uma maior sofisticação da medicina veterinária, sendo o primeiro o maior causador de problemas a curto prazo, na perspetiva do profissional. O CFO vai mais longe e considera que o aumento dos custos para manter bons profissionais tem pressionado a rentabilidade das clínicas. “O valor que nós pagamos para ter bons profissionais nas nossas unidades é cada vez mais elevado, há uma exigência nesse sentido, mas depois há também uma grande inércia em adaptar o pricing para contrapor isso”, revelou.
“A compensação salarial é uma das causas [para a dificuldade na retenção de talentos], mas a criação de uma cultura de equipa é igualmente fundamental.” – Jordan Garth, American Animal Hospital Association
Nos Estados Unidos, Jordan Garth, CEO da American Animal Hospital Association, enfatizou que a retenção de talentos também é um problema, mas é vista como um sintoma de questões mais profundas. “A compensação salarial é uma das causas, mas a criação de uma cultura de equipa é igualmente fundamental.” O médico veterinário norte-americano acredita que uma abordagem centrada na valorização de cada função dentro da equipa pode melhorar o ambiente de trabalho e reduzir a rotatividade, permitindo um sistema mais sustentável.
Leia a cobertura da mesa-redonda na íntegra na edição de novembro da VETERINÁRIA ATUAL.