Em 2011, o volume de negócios dos CAMV em Portugal era de 89 milhões de euros. Sete anos volvidos (2018) alcançámos a cifra histórica dos 200 milhões de euros, o que traduz uma taxa anual de crescimento média [CAGR: compound annual growth rate] de 10,9% nos últimos sete anos.
Nos últimos 12 meses abriram mais de 100 CAMV no País, sendo neste momento 1 632[1], o que representa um crescimento de 6,7%. Com um crescimento do número de CAMV tão acentuado, a faturação média por CAMV apresentou naturalmente uma quebra, situando-se agora nos 122,5 mil euros. Com mais de 6,4 milhões de animais de estimação em solo português, é por de mais evidente a força e dinâmica do setor veterinário nacional.
O setor mantém um rating positivo, no entanto, a forte entrada de novos CAMV no último ano resultou num pequeno ajustamento aos níveis de risco: em 2018, cerca de 68% dos CAMV estavam cotados como tendo nível de risco baixo (versus 72%, em 2017), 31% com risco médio (versus 28%, em 2017) e apenas 1% com risco elevado (à semelhança do verificado no ano de 2017).
Apresento de seguida alguns indicadores económico-financeiros (médias) mais relevantes do setor veterinário. Reportar-me-ei ao ano de 2018, pois, oficialmente, os dados de 2019 apenas estarão disponíveis em meados de 2020:
- O ciclo de tesouraria dos CAMV é positivo: em média, cada CAMV tem um prazo médio de pagamentos de 55 dias, que considero estar num nível normal, mantendo o mesmo registo do ano anterior.
- O EBITDA médio por CAMV é, aproximadamente, 24,2 milhões de euros (versus 23,4 milhões de euros em 2017). Este indicador representa quanto uma empresa gera de recursos através das suas atividades operacionais, sem contar com impostos e depreciações. Um indicador relevante quando se realizam avaliações económico-financeiras das empresas. É um EBITDA contabilístico, sendo que o normalizado poderá apresentar valores bem distintos (em função da realidade e especificidades da própria empresa).
- O número médio de colaboradores por CAMV mantém-se nos quatro. Não se inclui neste valor os colaboradores que estejam em regime de prestação de serviços. O custo médio por colaborador é de 15 812 € anuais, o que representa um aumento de 4,7% comparativamente ao ano anterior. Estimo que em 2019 a percentagem de aumento seja um pouco superior.
- A média dos custos com pessoal sobre o total da faturação é de aproximadamente 34,4% (versus 33,1%, em 2017), estando dentro do intervalo de referência considerado positivo na gestão veterinária. Um rácio acima dos 40% poderá ser sinónimo de improdutividade da equipa ou de má gestão de outros recursos internos. Não obstante, e perante as eficiências fiscais que são adotadas nas rubricas dos gastos com pessoal, a análise a este rácio deverá ser realizada com a devida reserva. Pela experiência da VetBizz Consulting, o rácio real (médio) intervala dos 37% aos 42%.
- O ativo total líquido (valor do ativo de uma empresa após terem sido feitas as correções patrimoniais, ou seja, depois de deduzido ao ativo da empresa o valor das provisões e o valor das amortizações referentes às diversas rubricas do ativo do balanço) é de aproximadamente 176,9 milhões de euros, o que representa um crescimento de 4% comparativamente ao ano anterior.
- Por força dos melhores resultados operacionais nos CAMV, o capital próprio apresentou em 2018 uma variação positiva face a 2017: 73,9 milhões de euros versus 66,3 milhões de euros, o que traduz um crescimento de 11,4%.
- O passivo (os valores que a empresa deve a terceiros, como por exemplo, os financiamentos bancários) ronda os 103 milhões de euros (decréscimo de apenas 800 € em relação ao ano anterior).
- O resultado líquido (lucro) médio num CAMV é de 10,4 milhões de euros (versus 10,1 milhões de euros em 2017), superando-se a marca histórica do ano anterior.
- Os fornecimentos e serviços externos (FSE), que incluem as rendas, telecomunicações, energia, deslocações, estadas, entre muitas outras rubricas, têm um peso percentual relativo de 23,7% (apenas 0,1 p.p. acima do ano anterior), posicionando-se no limite do intervalo de referência considerado aceitável (entre 20% e 25%).
- O saldo médio dos depósitos bancários é de 32,5 milhões de euros (aumento de 17,1% em relação ao ano anterior).
- Apesar de haver inúmeras dívidas incobráveis nos CAMV, na realidade, na maior parte das vezes, não se registam como tal em termos contabilísticos. Foi registado um valor médio de apenas 142 € (versus 438 € de 2017).
- A dívida corrente média (ainda cobrável) dos clientes é de 12 milhões de euros (versus 10,9 m€ de 2017).
- A rendibilidade financeira (quociente entre o resultado líquido e o capital próprio) é de 14,1% (versus 15,3% em 2017), enquanto que a solvabilidade (quociente entre o capital próprio e o passivo) melhorou o desempenho com 71,7% (acima dos 63,9% registados em 2017), ou seja, se uma empresa tiver de solver as suas obrigações, consegue-o fazer em quase 72% com os seus próprios capitais.
- O rácio de autonomia financeira (quociente entre os capitais próprios e o ativo líquido) superou pela primeira vez a fasquia dos 40% (41,8% versus 39,0% de 2017), acima dos 30% recomendados.
- Segundo alguns gestores na área veterinária, o ciclo de tempo dos produtos em armazém (shelf life) deverá ser no máximo de 60 dias, sendo que no setor veterinário este prazo médio de inventário em armazém é de 38 dias (versus 41 dias em 2017). Apesar da gestão de stocks ser uma das grandes “dores de cabeça” nos CAMV, o shelf life encontra-se em níveis controlados.
Todos os anos, desde 2012, apresento a caracterização económico-financeira do sector veterinário. O que mais me apraz registar é que, ano após ano, os indicadores de desempenho apresentam crescimentos e melhorias. O ano de 2019 não será exceção e irá seguir a mesma tendência dos anos anteriores, atestando a vitalidade do setor veterinário.
[1] Fonte: OMV