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CAMV

Opinião: A dinâmica das fusões e aquisições

Ricardo Almeida  e

Como já se devem ter apercebido, vou escrevendo opiniões sobre situações que me ocorrem no dia a dia, e, tal como seria previsível há já algum tempo, o último verão foi muito animado no que toca a compras, vendas, fusões e, infelizmente, até falências no mundo dos CAMV.

Na verdade, não há qualquer surpresa neste aumento de atividade, uma vez que, como defendo há já vários meses, a área dos animais de companhia em Portugal se encontra numa fase de maturação, e em mercados maduros poderá ser mais correto adquirir do que fundar novas estruturas.

 

No entanto, tenho notado, essencialmente no contato com estudantes de medicina veterinária, que ainda há muitos com o sonho de criar uma estrutura de raiz. A explicação talvez resida no desejo intrínseco de ver nascer uma empresa pela sua própria mão. Emoções à parte, vou tentar explicar muito rapidinho o meu ponto de vista, tendo em conta que estarei sempre a generalizar e que poderá haver casos em que seja mais adequado começar de novo.

  • Mercado pulverizado: Porter, considerado por muitos o pai da estratégia empresarial, defende que o poder negocial dos fornecedores e dos clientes é tanto maior quanto maior for a oferta de alternativas à sua disposição. Por outras palavras, a concorrência, que sendo saudável é absolutamente essencial para o desenvolvimento das empresas, promovendo a sua melhoria continua, torna-se absolutamente nefasta quando em excesso. As novas entradas numa indústria têm o potencial de diminuir a quota de mercado e de fazer flutuar os preços estabelecidos, tirando rentabilidade a todos os seus intervenientes.

Em Portugal temos cerca de 1500 CAMV para cerca de 10 milhões de habitantes. Será que temos necessidade de mais?

  • O custo do zero: existe uma relação inversa entre o número de produtos ou serviços e o seu custo. Assim sendo, à medida que o volume por período aumenta, o custo unitário vai diminuindo. Os estreantes têm de entrar em larga escala ou assumir uma desvantagem inicial pelo custo, que pode ser muito significativa.
  • A fidelidade do cliente e os custos de mudança: as empresas já estabelecidas têm a vantagem de possuir marcas facilmente identificáveis e uma carteira de clientes. Quanto maior for a sua lealdade, maior será a dificuldade em ganhar quota de mercado, sendo uma barreira à entrada que pode ter consequências financeiras nefastas para os estreantes.
 

Quando um cliente muda de médico veterinário, tem custos associados que terá de ponderar, como por exemplo, o tempo de habituação ao novo CAMV, o tempo para iniciar e fortalecer novas relações de confiança, etc. As novas empresas terão de oferecer algo muito vantajoso para captar clientes, de outra forma apenas conseguirão aliciar os clientes insatisfeitos com o seu CAMV ou aqueles que apenas procuram o fator preço.

De realçar que, pela minha experiência pessoal, a medicina veterinária é muito sensível a este ponto, uma vez que o nosso quotidiano é lidar com emoções.

  • Investimento: aquando da entrada numa indústria, existem diversas situações altamente consumidoras de capital, desde as 30 de pessoal especializado, pesquisa de produtos, publicidade, stocks, eventuais créditos a clientes, etc.
  • Relações comerciais: longe vai o tempo em que se abria um CAMV e tínhamos uma fila de comerciais à porta a querer-nos equipar o espaço, dispostos a dar-nos crédito. Hoje em dia, os fornecedores atentos procuram empresas com histórico de mercado, privilegiando aquelas com quem têm relações duradouras.
  • Custos independentes da escala: as empresas modernas que conseguem gerir várias áreas de negócio em simultâneo, beneficiando por isso de sinergias entre elas e reduzindo o custo de cada uma. Por outro lado, fatores como o conhecimento do mercado, contratos antigos favoráveis, localizações privilegiadas, subsídios governamentais e a experiência também fazem com que as empresas maduras funcionem com rentabilidades superiores.
  • Dificuldade de contratação: tal com publiquei na VETERINÁRIA ATUAL de julho, estamos a passar por um problema de falta de mão de obra especializada, sendo mais fácil contratar através da compra do que criar novas equipas.
  • Por tudo o que já foi dito e trazendo Porter para a medicina veterinária de animais de companhia em Portugal, os números dizem-nos que as empresas mais antigas (que ainda são uma minoria) são responsáveis pela grande fatia do volume de faturação no nosso País, sendo ainda mais notório se nos centrarmos nos rácios de rentabilidade. Esta situação é fácil de entender se analisarmos a curva de produto típica de um CAMV, em que o pico de rentabilidade se atinge após dez anos de existência.
  • Há muitos CAMV à venda e grupos económicos internacionais à procura de empresas (rentáveis) para adquirir, tornando o momento ideal para realizar transações.
 

Espero não ter sido muito chato e coloco-me à vossa disposição se pensarem em avaliar, comprar ou vender um CAMV.

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