O Médico Veterinário é reconhecido pela Sociedade como o profissional que “trata” os animais. A nossa formação académica é fundamentalmente orientada para o tratamento e, a verdade, é que a medicina preventiva não tem os encantos de um diagnóstico complicado ou de uma cirurgia de referência.
Por outro lado, os animais são cada vez mais um membro da família e como parte integrante do agregado familiar os seus proprietários exigem que tenham uma vida saudável e longa, o que juntamente com o acesso à informação os torna cada vez mais, embora nem sempre melhor, informados.
Um olhar atento para o mercado das clínicas veterinárias não deixa de ser preocupante, o número de animais tem-se conservado constante ao longo dos últimos anos e a expectativa é que assim se mantenha. O número de clínicas veterinárias tem aumentado a um ritmo significativo e a tendência é continuar a crescer como forma de auto-emprego. Se o número de animais se mantêm constante e o número de clínicas aumenta, o que vai acontecer ano após ano será uma redução gradual do número de pacientes activos por clínica veterinária.
A medicina preventiva convenciona a promoção da saúde e do bem-estar e será a medicina do futuro, do ponto de vista empresarial e médico. Do ponto de vista médico porque tem uma forte componente de sensibilização e educação dos proprietários, indo de encontro às suas necessidades promove a sua satisfação e fidelização, aumentando o cumprimento das recomendações médicas. Do ponto de vista empresarial, promove o aumento da frequência e da regularidade das visitas à clínica por cliente, compensando a redução do número de clientes activos e garantindo a viabilidade financeira da clínica.
A medicina preventiva quando é organizada de forma estruturada assenta em programas de saúde, que podem ir desde o plano de saúde do cachorro, do gatinho ou do animal sénior, ao programa de maneio da obesidade, ao plano de profilaxia dentária, etc. O princípio subjacente é a gestão dos factores de risco tendo em conta a condição do animal. Esta gestão evita o aparecimento de doenças ou, quando inevitável, promove a sua detecção precoce.
O plano de saúde deve ser idealizado de acordo com o tipo de padrão de saúde que a clínica veterinária e a sua equipa quer atingir. O desenvolvimento do plano deve ter por base o padrão que a clínica quer alcançar e deverá dar resposta às seguintes questões:
Quais os vários procedimentos do plano de saúde?
Qual é o objectivo para cada procedimento?
A que animais se destinam os planos?
Quem terá a função de o implementar?
Qual é o papel dos vários colaboradores na sua divulgação e execução? Quais os benefícios que devem ser transmitidos aos proprietários? Qual a melhor forma de os transmitir?
O desenvolvimento do plano de saúde deve envolver a equipa e esta deve estar confortável com os procedimentos nele constantes. A comunicação inicial do plano de saúde ao proprietário deve ser sempre realizada pelo Médico Veterinário. É importante que o proprietário perceba que aquele plano de saúde é o mais indicado para o seu animal, tendo em conta as suas características, o seu estilo de vida, a examinação realizada e as preocupações que ele expressa à consulta. Depois da aceitação do plano de saúde, dependente dos procedimentos que ele inclua, a sua execução pode ser realizada por outro colaborador da clínica que não o Médico Veterinário.
Uma execução perfeita implica necessariamente uma correcta monitorização e a colocação de objectivos possibilita um acompanhamento da progressão do programa de saúde. Os objectivos devem ser SMART (Simples, Mensuráveis, Ambiciosos, Realistas e limitados no Tempo) e poderão ser o número de animais aderentes ao plano de saúde ou a medição do grau de satisfação dos clientes.
Num mercado onde os motores de crescimentos são a educação e a emoção, a medicina preventiva apresenta-se como a chave para a sustentabilidade das clínicas veterinárias a médio/longo prazo, implicando uma crescente sensibilização dos proprietários dos animais para uma medicina de alta qualidade.
