A equipa de investigadores, na qual estava integrado o português Agostinho Pereira, descobriu, através de análises ao ADN, que os animais existentes nos jardins zoológicos preservam, a uma escala muito superior à prevista, os genes necessários à conservação de diferentes subespécies existentes na natureza, muitas delas em situação crítica.
Antes deste estudo, já tinham sido identificados cerca de mil exemplares em cativeiro, muitos destes em programas de reprodução controlada, que se acreditava pertencerem a determinadas subespécies, entre as quais exemplares de Amur (421), de Samatra (295), de Bengala (198), malaios (113), do Sul da China (72) e 14 da Indochina, sendo que nos últimos dois casos se tratavam dos únicos exemplares conhecidos.
Contudo, esta investigação apresentou conclusões inesperadas. «A própria diversidade genética que foi encontrada em tigres de cativeiro, em alguns casos, nunca tinha sido encontrada em tigres selvagens», explicou ao referido jornal Agostinho Pereira, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, admitindo que esses exemplares poderão manter características já extintas no meio selvagem, sublinhando que esta é uma descoberta muito importante em termos de preservação.
Mas também o facto de as análises realizadas a cerca de uma centena de tigres de diferentes zoológicos não se terem concentrado nos animais em que se acreditava preservarem determinadas características, pois se «em alguns casos já havia suspeitas, a escolha foi mais ou menos aleatória», relatou o investigador, frisando que «essa é que foi a surpresa, porque cerca de 50% dos tigres era do que podemos chamar de “raça pura”».
Os especialistas consideram que agora «pelo menos 20% dos tigres que existem em cativeiro», ou seja, três a quatro mil exemplares, possam ser de raça pura. Para além disso, mesmo alguns exemplares que apresentam sinais de miscigenação têm enorme relevância no plano da conservação, por possuírem «características genéticas que já não existem na natureza».
Ainda assim, Agostinho Pereira não terá ficado surpreendido pela percentagem de exemplares de raça pura detectados em cativeiro, uma vez que «muitos zoológicos já seguiam a prática de não misturar animais de proveniências distintas», exemplificando com o Jardim Zoológico de Lisboa, «que preserva leões de Angola, uma subespécie de leão com características próprias, e tem recusado misturá-lo com outras subespécies, mesmo correndo o risco de alguma consanguinidade entre os seus exemplares».
Os responsáveis pela pesquisa esperam que o seu método seja aplicado em todo o mundo, para identificar os melhores exemplares para a reprodução controlada. Contudo, o investigador português reconhece que só preservando também os habitats, e combatendo a caça furtiva que se continua a fazer em alguns países para abastecer o mercado negro asiático, se poderá salvar, na natureza, o tigre.
Tigres de cativeiro podem salvar exemplares selvagens
Uma nova pesquisa, publicada na revista “Current Biology”, e coordenada por Shu-Jin Luo, do Laboratório de Diversidade Genética do US Cancer Institute, reforça a esperança de que os 15 a 20 mil tigres que actualmente vivem em cativeiro possam vir a salvar os exemplares selvagens, que não serão mais de 3.000, citou o “Diário de Notícias”.